Entenda o que é vasculite, condição que afeta a saúde do ator Ashton Kutcher
Segundo especialista, não há uma cura definida para a doença
A vasculite é uma designação para um grupo de doenças raras que causam inflamação dos vasos sanguíneos. Esses vasos podem ser microscópicos ou mesmo artérias e veias. Existem diferentes tipos de vasculites, e eles podem variar muito em sintomas, gravidade e duração.
A doença ocorre quando células do sistema imunológico invadem a parede dos vasos sanguíneos — causando hemorragia, oclusão ou estenose. A condição pode ser causada por doenças autoimunes, reações alérgicas, uso exagerado de medicamentos ou infecções virais.
“A própria sífilis ou a doença de Lyme, que acometeu Justin Bieber também podem causar inflamação desses vasos”, explicou explicou à CNN André Ramos, reumatologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
No caso dessas doenças, o médico explica que fatores ambientais e genéticos também podem aumentar o risco de surgimento.
Na segunda-feira (8), o ator Ashton Kutcher, de 44 anos, falou pela primeira vez sobre o diagnóstico da doença que recebeu há cerca de dois anos.
“Há dois anos, eu tive essa forma estranha e super rara de vasculite que, tipo, acabou com minha visão, minha audição, meu equilíbrio”, disse o ator a Bear Grylls, em uma prévia do programa aventureiro “Running Wild”.
In this exclusive look at an upcoming episode of @natgeotv’s #RunningWild with @BearGrylls: The Challenge, #AshtonKutcher opens up about a rare medical disorder that left him without the ability to hear, see or walk. pic.twitter.com/diG6xR1WPp
— Access Hollywood (@accesshollywood) August 8, 2022
A maioria dos tipos de vasculite é rara e as causas geralmente não são conhecidas, de acordo com a Colégio Americano de Reumatologia.
“No caso do ator, não há como ter certeza do que pode ter causado a doença. Mas, por exemplo, a síndrome de Cogan é uma vaculite super rara que tem manifestações reumatológicas e que pode afetar a visão e a audição”, disse Ramos.
As vasculites podem ser classificadas como primárias ou secundárias, sendo as primeiras doenças raras de causas pouco conhecidas, e ocorrem quando o vaso sanguíneo é o alvo principal da doença, e as secundárias são aquelas em que se observa acometimento dos vasos, mas esse acometimento está associado a alguma outra condição que pode ter relação causal com a inflamação do tecido.
“A classificação das vaculites fica de acordo com o tamanho dos vasos. Quando há acometimento dos microvasos, é uma vasculite de pequenos vasos. Por outro lado, quando há de vasos maiores, como aorta, ou os ramos da aorta, chamamos de grandes vasos”, explicou Ramos.
A condição afeta pessoas de ambos os sexos e de todas as idades. Algumas formas de vasculite afetam certos grupos de pessoas. Por exemplo, a doença de Kawasaki ocorre apenas em crianças de até cinco anos.
A vasculite por imunoglobulina IgA (Henoch-Schönlein) é muito mais comum em crianças do que em adultos. Já a arterite de células gigantes ocorre apenas em adultos com mais de 50 anos.
Diagnóstico da vaculite
Os sintomas da doença podem ser muito muito variados, nesse sentido, os profissionais suspeitam de vasculite quando um paciente apresenta sinais e resultados anormais do exame físico, exames laboratoriais ou ambos, e não há outra causa clara.
De maneira geral, os sintomas mais comuns são febre, cansaço e artralgias. Os pacientes podem apresentar também sintomas que vão variar de acordo com o órgão (e tipo de vaso) acometido.
“O fato de uma manifestação acometer o sistema auditivo, é muito característico de um tipo de vasculite. Algumas manifestações são mais específicas e ajudam a gente a fazer o diagnóstico”, disse Ramos.
O médico também aponta que outras vasculites se apresentam como lesão na pele e pode haver uma biópsia, em outros casos, são necessários exames laboratorias e de imagens.
“Algumas vezes há vaculites que acometem o pulmão e o exame de sangue é muito característico [para detectar], disse.
Para que haja o diagnóstico, os testes mais comuns são:
- Biópsia: remoção cirúrgica de um pequeno pedaço de tecido para inspeção ao microscópio;
- Angiografia: um tipo de raio-X para procurar anormalidades dos vasos sanguíneos
- Exames de sangue e laboratoriais.
Tratamentos
Segundo o Colégio Americano de Reumatologia, o tratamento da maioria das vasculites pode envolver esteroides — medicamentos que ajudam a reduzir a inflamação, mas que podem ter efeitos colaterais a longo prazo.
Os médicos às vezes prescrevem medicamentos imunossupressores porque seus efeitos colaterais de longo prazo podem ser menos graves do que os dos esteroides. Isso é chamado de tratamento “poupador de esteroides”.
“Como não temos uma causa única definida, não é possível dizer que há uma cura. Mas, na maioria das doenças rematológicas, a gente tem um arsenal bem importante de tratamentos no qual a maioria envolve imunossupressão, ou seja, reduzir o processo inflamatório“, explicou Ramos.
Para as vasculites menos graves, os pacientes podem receber metotrexato, azatioprina ou outros medicamentos imunossupressores. Normalmente essas drogas são usadas para tratar outras doenças reumáticas, mas também são úteis para a vasculite.
Neste caso, explicou o médico, a imunidade fica mais “regulada para que a doença fique em remissão”.
“Muitas das vezes a resmissão é sustentada ao longo do tempo e o paciente pode ficar sem medicação, isso não seria, necessariamente a cura, mas seria “praticamente” uma cura, porque não precisaria fazer nada específico para controlar a doença”, disse.