Entenda a diferença entre a vacina da Johnson & Johnson e outros imunizantes
Entenda as semelhanças e diferenças entre a vacina desenvolvida pela Janssen e aquelas desenvolvidas pela Pfizer/BioNTech e Moderna
Os Estados Unidos estão ansiosos para ter uma terceira vacina contra o novo coronavírus — desta vez produzida pela Johnson & Johnson.
A Administração de Medicamentos e Alimentos dos EUA (Food and Drug Administration, FDA) autorizou o uso emergencial da vacina e a J&J deve começar a distribuí-la na próxima semana.
Duas vacinas já estão sendo distribuídas nos EUA — uma feita pela Moderna e outra pela Pfizer e sua parceira alemã BioNTech. O novo imunizante, feito pela Janssen, divisão de vacinas da Johnson & Johnson, é um pouco diferente delas. Entenda como:
Possui apenas uma dose
A vacina da Johnson & Johnson foi planejada para ser administrada em apenas uma dose. Isso significa que não há retorno e nem lembretes para voltar para tomar a segunda dose, e nenhuma preocupação em garantir que a segunda dose esteja disponível na hora certa.
As vacinas da Pfizer e da Moderna são feitas para serem administradas em duas doses em série — a da Pfizer com três semanas de diferença e a da Moderna com quatro. Há discussões sobre a possibilidade de administrar apenas uma dose, ou extender o prazo entre as duas doses para que mais pessoas consigam receber a primeira vacina, e assim, ter pelo menos um pouco de proteção.
Mas a autorização do FDA foi concedida no formato de duas doses, e muitos especialistas, incluindo o conselheiro médico da Casa Branca, Anthony Fauci, temem que aplicar apenas uma dose das vacinas da Pfizer e da Moderna possa deixar os pacientes parcialmente imunes.
A vacina da Johnson & Johnson foi testada com apenas uma dose e mostrou proteger os recipientes, mas estudos ainda são feitos para entender se duas doses poderiam oferecer mais proteção.
Eficácias diferentes
Um dos fatores é possível notar em um primeiro momento sobre a vacina da Johnson & Johnson, é a diferença entre sua eficácia e as das vacinas da Pfizer e da Moderna. Essas vacinas apresentaram cerca de 94% e 95% de eficácia nos testes clínicos. O risco de ter uma infecção sintomática pela Covid-19 — ou seja, pessoas que são infectadas e se sentem doentes — caiu em 94% entre as pessoas que receberam duas doses da vacina.
Em contraste, a eficácia global da vacina da Janssen foi calculada em 66% contra casos de sintomas moderados da doença. Mas foi 85% efetiva contra sintomas severos, e nos testes, 100% efetiva na prevenção de mortes, pois nenhum dos imunizados morreu pela Covid-19.
A vacina da Johnson & Johnson foi dada para diferentes populações em diferentes momentos. Ela foi testada em 44 mil pessoas nos EUA, África do Sul e América Latina, e a maior parte dos testes foi feita meses depois das da Pfizer e Moderna, quando a pandemia já estava estabelecida há mais tempo.
A vacina da Pfizer foi testada em 43 mil pessoas nos Estados Unidos, Alemanha, Turquia, África do Sul, Brasil e Argentina. A Moderna testou 30 mil pessoas, todas nos EUA.
A vacina da Johnson & Johnson foi testada após novas variantes preocupantes do coronavírus começarem a circular, incluindo a primeira, identificada na África do Sul, chamada B.1.351, que aparenta diminuir a capacidade do corpo em reconhecer o vírus — mesmo após a vacinação. A eficácia da vacina da J&J na África do Sul foi de apenas 57%, onde a B.1.351 é a variante dominante, comparada a 72% nos EUA, onde é muito menos comum.
Especialistas em vacinação concordam que todas as vacinas dão ótima proteção na medida mais importante, que é: evitar que infectados fiquem gravemente doentes. Entretanto, a diferença das eficácias pode levantar a possibilidade de que algumas pessoas enxerguem o imunizante da Janssen como “de segunda linha”, disse Sarah Christopher, diretora de políticas de assistência na Rede Nacional de Saúde da Mulher, a um comitê do FDA na sexta-feira (27).
A ideia de que “há vacinas de primeira e segunda classe, e que a última será distribuída entre trabalhadores de baixa renda, zonas rurais, ou outras comunidades marginalizadas, tem o potencial de exacerbar uma desconfiança que já existe entre essas pessoas”, disse. “Autoridades da saúde pública devem desmentir essas percepções de imediato”.
Proteção mais rápida
Na vacina da Johnson & Johnson, a proteção contra infecções moderadas e severas da Covid-19 começa cerca de duas semanas após a aplicação da vacina. Cerca de quatro semanas depois, os dados dos testes clínicos mostram que não houve hospitalizações ou mortes.
Estudos recentes mostram bons níveis de proteção a partir da aplicação da primeira dose dos imunizantes da Moderna e da Pfizer, mas os vacinados não atingem a proteção total até cerca de duas semanas depois da segunda dose — ou seja, de cinco a seis semanas depois da primeira dose.
Usa uma tecnologia diferente
As vacinas da Pfizer e da Moderna usam uma nova tecnologia, chamada de RNA mensageiro ou mRNA. Elas levam material genético do vírus diretamente para as células via partículas de gordura. Esse código genético é decifrado pelas células nos músculos dos braços, que então seguem as instruções genéticas para fazer pequenas partículas que se assemelham a partículas do novo coronavírus.
Essas pequenas proteínas estimulam uma resposta imune, gerando anticorpos e células de imunidade que “se lembram” como as partículas são e estarão prontas para responder rapidamente no caso de um ataque verdadeiro.
A vacina da Janssen usa a tecnologia de vetores virais. Um vírus comum que geralmente se espalha no inverno causando resfriado, o adenovírus 26, é modificado artificialmente para que possa infectar células, mas não se replicar. Ele não consegue se espalhar no organismo, e não causará um resfriado nos pacientes. De forma diferente, ela também envia instruções genéticas para as células.
Ao invés de protegidas por bolhas lipídicas, as instruções genéticas são injetadas pelo vírus enfraquecido do resfriado nas células dos braços, que produzem pequenas partículas que se assemelham a proteína spike do coronavírus — parte que o vírus usa para se conectar às células.
A manipulação é mais simples
As pequenas bolhas de gordura usadas para viabilizar as vacinas da Pfizer e da Moderna precisam ser manipuladas com cautela. O imunizante da Pfizer precisa ser armazenado a cerca de -80°C e -60°C — algo que causou confusão no início da distribuição nos Estados Unidos, onde os estados e municípios tiveram de improvisar embalagens com gelo seco e comprar freezers especiais. O FDA aliviou os requisitos, mas ainda sim, a vacina pode ficar apenas cinco dias em geladeiras comuns e precisam ser usadas em seis horas após abertas e diluídas.
A vacina da Pfizer precisa ser diluída antes de ser usada, e não pode ser chacoalhada, e deve ser mexida inversamente exatamente dez vezes para ser misturada adequadamente. A vacina da Moderna é um pouco menos exigente, mas ainda precisa ser congelada e manuseada com cuidado. Ela pode ser mantida em cerca de -20°C, a temperatura de um freezer comum.
Em contraste, a vacina desenvolvida pela Johnson & Johnson pode ser armazenada em geladeiras comuns, tornando o estoque e envio mais simples.
O que possuem em comum
Nenhuma das três vacinas possuem aditivos que podem causar reações fortes, como antibióticos, conservantes ou adjuvantes, que são compostos usados para potencializar a resposta imune e podem ser adicionados em qualquer vacina.
Isso significa que o risco de reações alérgicas é extremamente baixo, em especial de reações extremas como o choque anafilático. O CDC (Centro de Controle de Doenças, dos EUA) reportou alguns casos de alergia em pessoas que receberam as vacinas da Moderna ou da Pfizer, mas todos foram facilmente tratados.
Apenas um caso de reação alérgica forte foi registrado entre as 44 mil pessoas que receberam a vacina da Janssen durante os testes.
Além disso, as três miram em uma parte específica da proteína spike, chamada de receptor-obrigatório e também conhecida pela sigla RBD. Esta é a parte que o vírus utiliza para atacar as células. Mutações nesta região, em particular, podem enfraquecer a eficácia de todas as vacinas.
Com sorte, todas elas parecem estimular uma resposta imune impressionante — muito mais intensa do que a registrada em infecções naturais pelo vírus. Até o momento, parece o suficiente para proteger pelo menos parcialmente contra as variantes mais preocupantes da Covid-19.
(Texto traduzido. Leia o original em inglês.)