Em estudo, pessoas que tiveram a mão amputada sentem calor no membro perdido
Pesquisa busca incorporar um novo retorno sensorial em membros protéticos, com o objetivo de fornecer um toque mais realista a pessoas que tiveram membros amputados
São comuns relatos de pessoas que passaram por amputação de sensações como formigamento ou pressão na região onde se encontrava o membro retirado. A condição neurológica conhecida como síndrome do membro fantasma ganhou novos contornos com uma pesquisa publicada na revista Science.
Pacientes amputados sentiram a variação de temperatura em um estudo que testa os efeitos de uma nova tecnologia da École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL).
A pesquisa, liderada pelos especialistas Silvestro Micera e Solaiman Shokur busca incorporar um novo retorno sensorial em membros protéticos, com o objetivo de fornecer um toque mais realista a pessoas que tiveram membros amputados. No estudo recente, os cientistas se concentraram sobre a temperatura.
Se você colocar algo quente ou frio no antebraço de um indivíduo intacto, essa pessoa sentirá a temperatura do objeto localmente, diretamente no antebraço. Mas em amputados, essa sensação de temperatura no braço residual pode ser sentida na mão fantasma que falta, segundo os pesquisadores.
Nesse contexto, ao fornecer retorno de temperatura de forma não invasiva, por meio de eletrodos térmicos (conhecidos como thermodes) colocados contra a pele no braço residual, amputados relatam sentir a temperatura em seu membro fantasma. Eles podem sentir se um objeto está quente ou frio e podem dizer se estão tocando cobre, plástico ou vidro.
Ao todo, 17 de 27 pacientes relataram a sensação no membro amputado. “De particular importância é que as sensações térmicas fantasmas são percebidas pelo paciente como semelhantes às sensações térmicas experimentadas por sua mão intacta”, explica Shokur, neuroengenheiro e cientista da EPFL, em comunicado.
A projeção de sensações de temperatura no membro fantasma levou ao desenvolvimento de uma nova tecnologia biônica, que equipa próteses com retorno de temperatura não invasiva que permite aos amputados discernir o que estão tocando.
“O feedback de temperatura é essencial para transmitir informações que vão além do toque, levam a sentimentos de afeto. Somos seres sociais e o calor é uma parte importante disso”, diz Micera, presidente da Fundação Bertarelli em Neuroengenharia Translacional, professor da EPFL.