É preciso ter cautela, diz médico sobre uso de remdesivir nos casos de COVID-19
Para o pediatra infectologista Renato Kfouri, é preciso esperar mais estudos sobre o medicamento antes administrar aos pacientes com o novo coronavírus
O presidente Donald Trump anunciou na tarde desta sexta-feira (1º) que a FDA (órgão regulador de drogas e remédios) dos Estados Unidos autorizou a farmacêutica Gilead a utilizar o medicamento Remdesivir no tratamento de pacientes com o novo coronavírus.
Em entrevista à CNN, o pediatra infectologista Renato Kfouri afirmou que é preciso olhar para esse licenciamento com muita cautela, pois “não conhecemos os efeitos a longo prazo”, mas afirmou ser um “resultado interessante”.
“Nós temos algumas dificuldades de encontrar um antiviral específico para o vírus causador da COVID-19. Essas drogas que estamos tentando são tratamentos que estão na fase experimental. Provavelmente em nenhuma outra situação que não fosse a pandemia seria aprovado o uso de uma droga com os dados que nós temos”, afirmou.
Segundo ele, isso se deve porque o resultado da droga reduziu em “30% o tempo de internação, em um grupo de estudo com 1 mil pacientes e com uma diminuição de mortalidade com uma significância estatística muito limítrofe”.
De acordo com ele, o remdesivir já foi testado para o vírus Sars, na primeira epidemia que tivemos do coronavírus, que aconteceu entre 2002 e 2003, e também para o ebola. “As experiências, principalmente em modelos laboratoriais, mostraram que [o medicamento] tem uma efetiva diminuição da multiplicação do vírus”, disse.
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Questionado sobre se há alguma estimativa de em quanto tempo seria possível contar com o medicamento no Brasil, Kfouri disse não ser possível precisar e voltou a dizer que devemos ter muito cuidado. O médico disse ainda ser importantíssimo aguardar mais dados, publicações e estudos que estão sendo feitos em outros países “para que tenhamos mais segurança na utilização da medicação”.
“O uso precisa ser padronizado: em quem deve ser utilizado e em que momento da doença. Vamos ver como os americanos definirão seus protocolos de uso”, disse.
Anvisa
Em nota, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou que está em contato com a farmacêutica Gilead “a fim de acompanhar a evolução dos estados em andamento para o medicamento”. “Embora os resultados observados em análise de uso compassivo sejam encorajadores, os dados ainda são limitados”, ponderou a agência.
A Anvisa afirmou que não há, até o momento, pedido de registro do medicamento no país. “Caso o benefício do medicamento se comprove, a Anvisa possui mecanismos, como anuência de uso em programa assistencial e priorização de registro, para garantir o acesso célere do medicamento à população.”