É preciso focar na 1ª dose antes de aplicação de reforço, diz Luana Araújo
Em entrevista à CNN, especialista afirmou que doses de reforço não devem ser aplicadas indiscriminadamente enquanto parte da população ainda não recebeu 1ª dose
Em entrevista à CNN neste sábado (7), a infectologista e epidemiologista Luana Araújo destacou que, neste momento, a vacinação contra a Covid-19 deve priorizar populações que ainda não receberam a primeira dose em relação à aplicação de doses de reforço.
“[a dose de reforço] não é pra ser utilizada nesse momento para todo mundo de forma indiscriminada enquanto você ainda tem uma enorme parte da população sem nenhuma dose. É uma complementação da proteção individual versus a proteção coletiva que contribui para a proteção individual”, disse Luana.
Segundo a infectologista, a lacuna na vacinação no Brasil e no mundo pode levar ao surgimento de novas variantes. “No continente africano, menos de 1% da população está vacinada. Se a gente não compreender que essas pessoas não vacinadas são um grande celeiro para a emergência de novas variantes, que podem colocar todo o processo vacinal do mundo inteiro a perder, a gente vai ficar numa situação ruim”, disse.
Para a especialista, pessoas com sistema imunológico comprometido devem rececer doses de reforço futuramente. “Existem grupos que vão sim precisar de uma dose de reforço, isso é claro para a maior parte dos cientistas, exatamente porque eles respondem de forma menos eficaz ao estímulo vacinal”, disse a infectologista.
De acordo com Luana, os idosos também devem receber o reforço devido ao fenômeno chamado de imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema imunológico. “Eles respondem com menor eficácia ao estímulo vacinal. Esse grupo deve passar por um reforço em breve. Um outro grupo é o dos transplantados de órgão sólidos, os imunossuprimidos graves. Pessoas que o sistema imunológico não responde da melhor forma devem passar por um novo estímulo para que mantenham essa resposta”, complementou.
Vacinação avança, mas deixa lacunas
Para a especialista, o Brasil tem alcançado um ritmo mais avançado na imunização da população. No entanto, a pesquisadora ressalta que muitas pessoas não retornam para tomar a segunda dose e completar o esquema vacinal.
“Estamos avançando no processo vacinal mas ainda existem buracos nas faixas etárias que já foram contempladas. Nem todos os idosos foram vacinados com duas doses, nem todas as comorbidades foram vacinadas com as duas doses. Existe uma cultura brasileira ruim, nesse sentido, de ir para uma primeira dose e não voltar para a segunda, por falta de informação, por medo, pela junção dessas duas coisas”, afirmou.
De acordo com Luana, as lacunas na vacinação exigem a readequação, por parte do poder público, de estratégias voltadas para as campanhas de imunização. Ela destaca a necessidade de medidas como a ampliação na divulgação dos calendários vacinais e a busca ativa pelos serviços de saúde de pessoas que receberam a primeira dose e não retornaram aos postos de saúde para completar o esquema.
Debate sobre a terceira dose
Na quarta-feira (4) a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um apelo aos países para que aguardem pelo menos até o final de setembro para a aplicação de doses de reforço contra a Covid-19.
Em pronunciamento à imprensa, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou que a preocupação com a variante Delta é justificável, no entanto, o uso de doses de reforço neste momento por países desenvolvidos deixará as pessoas mais vulneráveis do mundo desprotegidas.