Distanciamento de 1,80 m não protege dos principais riscos de contágio, diz MIT
Estudo do Massachusetts Institute of Technology diz que essa medida é incapaz de deter o principal meio de proliferação do vírus, os chamados aerossóis
A reabertura da economia americana está confiando nas estratégias de distanciamento social para evitar a transmissão do coronavírus entre as pessoas em escolas, escritórios, igrejas e outros ambientes. As recomendações são de distanciamento de 1,80 m, porém, especialistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) afirmam que essa medida é incapaz de deter o principal meio de proliferação do vírus, os chamados aerossóis.
Embora a distância de 1,80 m possa ajudar a prevenir a propagação de grandes gotas de saliva ou secreções que carregam o coronavírus e outros germes, ela é insuficiente para proteger as pessoas de pequenas partículas, escreveram em artigo o engenheiro do MIT Martin Bazant e o matemático John Bush. O estudo foi publicado terça-feira no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), a publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
O coronavírus é um vírus transmitido pelo ar, e até mesmo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos disseram que o excesso de confiança na limpeza de superfícies pode levar as pessoas a negligenciar o perigo maior: respirar ar contaminado.
Bazant e Bush desenvolveram uma fórmula complexa para calcular a rapidez com que se poderia esperar que alguém fosse exposto ao vírus em salas fechadas. O cálculo leva em consideração a circulação do ar, a taxa de substituição do ar potencialmente contaminado por ar limpo e outros fatores que são apontados como variáveis importantes para transmissão ou não do vírus em ambientes fechados.
Nos Estados Unidos, um ensaio de coral, em Washington, foi o responsável pela contaminação de 53 pessoas. O comportamento das pessoas, expelindo o ar de seus sistemas respiratórios com toda força para cantar, é uma condição que facilita bastante a propagação do ar contaminado. Mesmo que esse comportamento aconteça em ambiente aberto, os especialistas alertam para o grande risco que isso envolve.
“Corre-se um risco maior em ambientes onde as pessoas se esforçam mais a ponto de aumentarem a taxa de respiração e a produção de patógenos, por exemplo, fazendo exercícios, cantando ou gritando”, escreveram os cientistas.
“Para minimizar o risco de infecção, deve-se evitar passar longos períodos em áreas densamente povoadas. É mais seguro em espaços grandes e com bastante ventilação”, escreveram os cientistas.
O matemático e o engenheiro do MIT reforçam a eficácia do uso das máscaras para reduzir os riscos de contaminação em diferentes ambientes. “O uso de máscara tanto por pessoas infectadas quanto por quem está suscetível à infecção reduzirão o risco de transmissão.”
Experimento em ambiente fechado
Os pesquisadores fizeram um experimento no qual reuniram 19 alunos e um professor sem máscaras em uma sala de aula. A proposta foi calcular a rapidez com que o ar poderia ser totalmente trocado dentro da sala de aula em duas situações distintas.
Em uma delas, as janelas abertas serviram como mecanismo de escape do ar. Na outra, um sistema AVAC (aquecimento, ventilação e ar-condicionado) de climatização foi utilizado para a troca do ar. O sistema de ventilação artificial se mostrou muito mais eficiente na troca do ar e na proteção daqueles que estão no ambiente fechado.
“Para uma ocupação normal e sem máscaras, o tempo seguro após um indivíduo infectado entrar na sala de aula é de 1,2 horas com ventilação natural e de 7,2 horas com ventilação mecânica”, escreveram eles.
Bazant e Bush alertam, porém, que o teste foi feito com crianças sentadas, e em silêncio, muito diferente do cenário encontrado no coral de Washington. “Períodos prolongados de atividade física, conversas coletivas ou atividades de canto reduziriam o limite de tempo em grande escala”, acrescentaram.
Riscos em lares de idosos
O estudo alerta, portanto, para o risco de contaminação em ambientes onde as pessoas ficam reunidas por mais de 7 horas, que é o tempo aproximado em que a ventilação mecânica funciona de maneira eficiente para trocar o ar contaminado por ar puro. Os especialistas alertaram principalmente para lares de idosos.
“Nossa análise soa o alarme para lares de idosos e instalações de cuidados de longo prazo, que respondem por uma grande fração das hospitalizações e mortes por COVID-19″, escreveram. Em lares de idosos na cidade de Nova York, a lei exige que um quarto de 24 metros abrigue até, no máximo, 3 pessoas.
Essas condições impostas pelas autoridades nova-iorquinas, mais as novas diretrizes de distanciamento de 1,80m garantem que os habitantes do quarto não troquem ar entre eles apenas por três minutos, é o que calculam os pesquisadores.
Se uma pessoa infectada entrar no ambiente, mesmo que por alguns instantes, a tendência é que o sistema de distanciamento social funcione por, no máximo, 17 minutos. “Com a ventilação mecânica estável, três ocupantes poderiam permanecer com segurança no ambiente por não mais do que 18 minutos”, dizem eles.
“Este exemplo fornece uma visão sobre o número devastador da pandemia COVID-19 sobre os idosos”, escreveram eles. “Além disso, ressalta a necessidade de minimizar o compartilhamento do espaço interno, manter ventilação adequada e de passagem única, além de incentivar o uso de máscaras faciais.”
(Texto traduzido. Leia o original, em inglês)