Dez verdades sobre a pandemia, segundo ex-diretor do CDC nos EUA
Para o dr. Tom Frieden, ex-diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, a pandemia da Covid-19 pode ficar ainda pior
1. “É terrível” em Nova York
2. É “apenas o começo”
3. Os dados são uma “arma muito poderosa contra esse vírus”
4. Precisamos “encaixotar o vírus”
5. Precisamos encontrar o equilíbrio
Tom Frieden, doutor e ex-diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, levou a público “10 verdades claras” sobre a Covid-19, nessa quarta-feira (06), enquanto falava em uma audiência do Comitê de Apropriações da Câmara [norte-americana] sobre a resposta à pandemia.
“Nos meus 30 anos em saúde pública global, nunca vi nada assim”, disse Frieden, que agora atua como presidente e CEO da Resolve to Save Lives [iniciativa que trabalha com saúde pública global]. “É assustador. É sem precedentes.”
Aqui estão as 10 verdades, de acordo com Frieden:
“Mesmo agora, com as mortes diminuindo substancialmente, há duas vezes mais mortes por Covid-19 na cidade de Nova York do que em um dia normal por todas as outras causas combinadas”, disse Frieden.
Nova York tem os casos de novo coronavírus mais confirmados do que qualquer outro estado do país, com 321.192 infectados no total e 25.231 mortes, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. Somente na cidade de NY, existem 173.288 casos, com 43.676 hospitalizados e 13.938 mortes confirmadas.
Frieden afirmou que, por pior que as coisas pareçam agora, ele acha que ainda estamos nas fases iniciais da pandemia.
Os especialistas sobre pandemia John Barry e Marc Lipsitch, foram co-autores de um novo relatório que prevê que o surto do novo coronavírus pode durar mais dois anos e alertam que a situação pode ficar “consideravelmente pior do que vimos até agora”.
Frieden explicou que os índices usados para monitorar tendências podem ajudar a interromper os clusters [aglomerados] antes que eles se transformem em surtos. Dados, ele disse, podem ajudar a impedir que os surtos se transformem em epidemias.
O epidemiologista da Universidade de Stanford, Dr. John Ioannidis, descobriu, a partir de números emergentes, que as infecções por novo coronavírus são mais regulares do que os especialistas pensavam inicialmente, e o risco de morte para um indivíduo comum é menor do que o projetado inicialmente.
Enquanto as ordens de ficar em casa diminuíram, bem como a propagação do vírus e assim o achatamento da curva em estados como Nova York e Califórnia, a doença continua se espalhando por todo o país, com aproximadamente 30 mil novos casos por dia, durante quase um mês.
Com gestores de algumas regiões dos EUA pensando em diminuir as restrições, o país se abre para o aumento de infecções. Por isso, explicou Frieden, temos que encaixotar o novo coronavírus assim que a curva começar a achatar.
A economia não precisa vir à custa da saúde pública. Dr. Frieden lembra que é necessário encontrar o equilíbrio entre deixar vírus correr desenfreadamente, o que seria um grande erro, e reiniciar as atividades econômicas dos Estados Unidos.
Um modelo do Institute for Health Metrics and Evaluation, da Universidade de Washington, divulgou um estudo revisado que sugere que 134 mil norte-americanos poderiam morrer até agosto com o impacto das aberturas nos estatos. E um rascunho do relatório interno dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, obtido pelo The New York Times, descobriu que o número de mortes diárias pode chegar a 3 mil até 1º de junho.
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“Precisamos proteger os profissionais da saúde e outras equipes essenciais, ou os heróis da linha de frente desta guerra”, declarou Frieden.
Segundo uma estimativa do CDC [Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA], mais de 9.200 profissionais da saúde foram infectados pelo novo coronavírus.
Os profissionais de saúde e as equipes essenciais estão sob maior risco. Hospitais enfrentam escassez de equipamentos de proteção essenciais, como as máscaras N95 para protegê-los.
Oito em cada dez mortes relatadas nos EUA foram de adultos com 65 anos ou mais, de acordo com o CDC. E pessoas com sistemas imunológicos fracos e condições de risco, como asma, doenças cardíacas, pressão alta ou diabetes, correm mais riscos.
“Na sua vida cotidiana, você sempre luta contra patógenos”, disse Sanjay Gupta, correspondente médico da CNN. “Na maioria das vezes você nem percebe. Se você tem uma condição subjacente, torna mais difícil combater um vírus como esse. Você pode desenvolver febre, falta de ar ou tosse mais facilmente do que alguém que não tem uma doença preexistente “.
Tanto o governo quanto a indústria devem colaborar para fazer “investimentos contínuos e maciços em testes e distribuição de uma vacina o mais rápido possível”, ressaltou Frieden.
Anthony Fauci, chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, disse, em março, que uma vacina poderia estar disponível em um período de um ano a 18 meses. No entanto, os especialistas são céticos.
“Acho que nunca foi feita [uma vacina] em escala industrial em 18 meses”, disse Amesh Adalja, pesquisador sênior focado em doenças infecciosas emergentes no Centro de Segurança em Saúde da Universidade Johns Hopkins. “O desenvolvimento da vacina é, geralmente, medido em anos, não meses”.
Um teste de vacina contra o novo coronavírus em humanos já começou no Reino Unido.
Enquanto a pandemia do novo coronavírus sobrecarregou muitos hospitais com pacientes em todo o mundo, as pessoas não estão mais subitamente imunes a outras doenças e enfermidades.
10. A preparação é fundamental
Muitos procedimentos eletivos foram cancelados ou adiados, e os pacientes com outras doenças esperam, com medo, enquanto suspendem o tratamento. Muitos têm medo de se aventurar e visitar hospitais por receio de contrair o vírus.
“Nunca mais”, concluiu Frieden. “É inevitável que ocorram surtos futuros. Mas não é inevitável que continuemos tão despreparados”.
Elizabeth Cohen da CNN, Dra. Minali Nigam, Donald Judd, Ali Zaslav, Daniella Diaz, Kristen Rogers, Robert Kuznia e Ellie Kaufman contribuíram para este texto.
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