Debate sobre uso da cloroquina deve ser menos politizado, afirmam médicos
Novo protocolo do Ministério da Saúde autoriza uso da hidroxicloroquina para casos leves do novo coronavírus
Em entrevista para a CNN nesta quarta-feira (20), o reumatologista Ricardo Azêdo e o infectologista Carlos Fortaleza, membro do Centro de Contingência do Estado de São Paulo, concordaram que o debate sobre o uso da cloroquina no tratamento do novo coronavírus não deve ser politizado.
“O uso da hidroxicloroquina e da cloroquina está liberado com prescrição médica. Nós também não temos estudos [sobre o uso] da dipirona [para tratar] o coronavírus, mas usamos”, disse Azêvedo. “Até agora não há evidências de eficácia [do uso da cloroquina em pacientes com a Covid-19], mas também não tem [comprovação] de ineficácia.”
Fortaleza afirmou que a ciência “não precisa desse ruído político”, mas disse acreditar que foram os proponentes da cloroquina que politizaram o assunto.
“Essa medicação até agora não é autorizada para uso no tratamento do coronavírus. O FDA [agência dos EUA para medicamentos], a agência europeia de medicamentos e o governo britânico são contrários ao uso para tratar a Covid-19”, disse.
Apesar da falta de comprovação científica de eficácia da cloroquina para pacientes diagnosticados com o novo coronavírus, o governo federal divulgou hoje o novo protocolo que amplia a recomendação do uso do medicamento para pacientes com a doença.
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Pela recomendação, a administração da cloroquina ou sulfato de hidroxicloroquina pode ser feita entre o primeiro e 14º dia, associada à azitromonicina durante cinco dias.
A orientação vale para todos os casos. Para os graves, a medicação é indicada também após o 14º dia, observando as características de cada paciente.
Questionados sobre o que muda na prática com esse novo protocolo, Azêvedo afirmou que o paciente não é obrigado a fazer o que o médico decide.
“Acredito que a opinião do paciente precisa ser respeitada, e sou um grande defensor da decisão compartilhada, onde o médico conversa com o paciente sobre os prós e contras [da droga] e juntos decidem o melhor tratamento”.
Fortaleza concordou e disse que a proposta de tratamento deve ser avaliada entre o médico e o paciente, e que precisa ser feita da maneira “mais democrática e saudável possível”.