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    Covid: expectativa de vida mundial diminuiu 1,6 anos na pandemia, diz estudo

    Levantamento também mostra que, apesar da alta mortalidade por Covid-19, as taxas de óbitos infantis continuaram em queda entre 2019 e 2021

    Gabriela Maraccinida CNN

    Um novo estudo, publicado na revista científica The Lancet na segunda-feira (11), trouxe detalhes inéditos sobre o impacto da pandemia na saúde global. De acordo o trabalho, a Covid-19 reduziu a expectativa de vida mundial em 1,6 anos, entre 2019 e 2021, devido ao alto número de mortes decorrentes à doença. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a estimativa é que cerca de 20 milhões de pessoas morreram durante a pandemia.

    A pesquisa apresenta estimativas atualizadas do GBD (Global Burden of Disease Study) 2021. Os pesquisadores estimam que a pandemia fez com que a mortalidade global aumentasse entre as pessoas com mais de 15 anos, crescendo 22% entre os homens e 17% entre as mulheres, no período de 2019 a 2021.

    O trabalho mostra também que, apesar da redução na expectativa de vida global, a mortalidade infantil continuou em queda durante a pandemia de Covid-19, com uma redução de 7% nas taxas de mortalidade entre crianças menores de 5 anos entre 2019 e 2021.

    No entanto, ainda persistem diferenças significativas na mortalidade infantil entre diferentes regiões. Em 2021, uma em cada quatro crianças que morreram em todo o mundo vivia no Sul da Ásia, enquanto duas em cada quatro crianças que faleceram viviam na África Subsaariana.

    “Nosso estudo sugere que, mesmo depois de fazer um balanço da terrível perda de vidas que o mundo sofreu devido à pandemia, fizemos um progresso incrível ao longo de 72 anos desde 1950, com a mortalidade infantil continuando a cair globalmente”, disse o co-primeiro autor, Hmwe Hmwe Kyu, Professor Associado de Ciências Métricas da Saúde no IHME (Institute for Health Metrics and Evaluation) da Universidade de Washington.

    “Agora, continuar a desenvolver os nossos sucessos, enquanto nos preparamos para a próxima pandemia e abordamos as vastas disparidades na saúde entre os países, devem ser os nossos maiores focos”, completa.

    Mortalidade entre idosos aumentou no mundo

    Por outro lado, a mortalidade entre idosos aumentou em todo o mundo de forma nunca vista nos últimos 70 anos, segundo o estudo. No entanto, apesar das taxas altas de mortalidade, a pandemia não interferiu no progresso histórico da expectativa de vida — a esperança de vida ao nascer aumentou quase 23 anos entre 1950 e 2021.

    “Para os adultos em todo o mundo, a pandemia da COVID-19 teve um impacto mais profundo do que qualquer evento visto em meio século, incluindo conflitos e desastres naturais”, afirma o coautor do estudo Austin E. Schumacher, professor assistente interino do IHME, na Universidade de Washington, em comunicado. “A esperança de vida diminuiu em 84% dos países e territórios durante esta pandemia, demonstrando os impactos potenciais devastadores de novos agentes patogénicos.”

    Regiões com maiores taxas de queda na expectativa de vida

    Segundo o estudo, países como Peru e Bolívia e a Cidade do México, capital mexicana, tiveram as maiores quedas na expectativa de vida entre 2019 e 2021. Além disso, os pesquisadores identificaram alta mortalidade durante a pandemia em países como Jordânia e Nicarágua, o que não era notificado nas estimativas anteriores sobre excesso de mortalidade para todas as idades.

    Além disso, as províncias sul-africanas de KwaZulu-Natal e Limpopo registraram as mais elevadas taxas de excesso de mortalidade ajustadas à idade e os maiores declínios na esperança de vida durante a pandemia no mundo.

    Por outro lado, regiões como Nova Zelândia, Barbados e Barbuda, ambos no Caribe, apresentaram as taxas mais baixas de mortalidade ajustadas à idade devido à pandemia durante o período analisado.

    Tendências populacionais

    O estudo GBD 2021 também avaliou as tendências populacionais no mundo. A partir de 2017, a taxa de crescimento da população global começou a cair após anos de estagnação. Durante a pandemia de Covid-19, essa queda acelerou. Em 2021, 56 países atingiram o pico populacional e, agora, devem entrar em tendência de queda populacional. No entanto, o levantamento aponta que o crescimento da população continuou nos países mais pobres.

    Além disso, as populações em todo mundo estão envelhecendo. Entre 2000 e 2021, o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu mais rapidamente do que o número de pessoas com menos de 15 anos em 188 países e territórios.

    “A desaceleração do crescimento populacional e o envelhecimento das populações, juntamente com a concentração do futuro crescimento populacional, deslocando-se para locais mais pobres e com piores resultados de saúde, trarão desafios sociais, econômicos e políticos sem precedentes, tais como a escassez de mão-de-obra em áreas onde as populações mais jovens estão diminuindo e os recursos estão escassos em locais onde o tamanho da população continua a expandir-se rapidamente”, diz Schumacher.

    “Vale a pena reafirmar isso, uma vez que estas questões exigirão uma reflexão política significativa para serem abordadas nas regiões afetadas. Como exemplo, as nações de todo o mundo precisarão de cooperar na emigração voluntária, para a qual uma fonte de orientação útil é o Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular da ONU”, completa.

    Como o estudo foi feito?

    O GBD 2021 analisa as tendências demográficas passadas e atuais a nível global, regional, nacional e subnacional. O estudo fornece medidas globalmente comparáveis de excesso de mortalidade e é um dos primeiros a avaliar tendências demográficas durante os dois primeiros anos de pandemia de Covid-19.

    Para estimar o excesso de mortes decorrentes da emergência de saúde global, os autores contabilizaram os óbitos decorrentes da infecção por Sars-CoV-2, o vírus causador da Covid-19. Também foram contabilizadas as mortes associadas aos efeitos indiretos da pandemia, como atraso na procura por cuidados de saúde devido ao isolamento social.

    Para os autores, o estudo oferece “implicações para o futuro dos sistemas de saúde, economias e sociedades e uma base valiosa para a avaliação, desenvolvimento e implementação de políticas em todo o mundo”.

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