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    Covid-19 em ‘temporada da gripe’ transformou Norte em foco de pandemia

    Chuva e alta densidade populacional são outras razões apontadas para que região tenha mais de duas vezes casos a cada 100 mil habitantes que média nacional

    Ambulância em Manaus, capital do estado do Amazonas, 16 de abril de 2020.
    Ambulância em Manaus, capital do estado do Amazonas, 16 de abril de 2020. Foto: Bruno Kelly/Reuters

    Guilherme Venaglia, da CNN, em São Paulo

    Em números absolutos, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro são os que possuem o maior número de casos da Covid-19 no Brasil. De acordo com o balanço mais recente do Ministério da Saúde, são 73.739 casos em terras paulistas e outros 32.089 em terras fluminenses.

    Apesar disso, a região que mais preocupa o governo federal neste momento é outra, a Norte. Muito extensa e pouco populosa, a região tem “apenas” 60 mil casos, mas quando este número é colocado em uma perspectiva proporcional, são 326 casos a cada 100 mil habitantes. Essa métrica chega a até 613 e 612 casos por 100 mil, respectivamente, nos estados do Amapá e do Amazonas.

    Para efeito de comparação, a incidência média em São Paulo é de 160 casos e a do Rio de Janeiro, de 185 a cada 100 mil habitantes. A média nacional é de 147 casos a cada 100 mil. As informações estão na plataforma digital do Ministério da Saúde de divulgação do panorama da Covid-19.

    A região Nordeste também está acima da média nacional, com 185 casos por 100 mil, dados pressionados por Ceará (344 casos/100 mil), Pernambuco (250 casos/100 mil) e Maranhão (227 casos/100 mil).

    Segundo o diretor do departamento de análise em Saúde, Eduardo Macário, a principal razão a colocar Norte e Nordeste no foco inicial da Covid-19 é um alerta para as demais regiões do país. Trata-se da chamada “temporada da gripe”, período em que por condições climáticas a circulação de vírus gripais é mais intensa.

    “Não estamos no período sazonal no Brasil, mas sim no período sazonal das regiões Norte e Nordeste”, explicou Macário em entrevista coletiva nesta quinta-feira (21). As duas regiões mais ao norte começam a ser afetadas pelos vírus gripais — como H1N1 e Influenza — a partir de março, enquanto no centro-sul do país esse processo começa mais para o início do inverno.

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    A pedido da CNN, o técnico detalhou um pouco mais a sua percepção: a chegada da Covid-19 ainda coincidiu no Norte com um período de chuvas. Além de questões relativas à imunidade, a chuva afeta a dinâmica social, com pessoas fechando janelas de ônibus e carros, se resguardando de temporais e circulando mais em locais fechados.

    Essa combinação de um vírus altamente transmissível, como é o novo coronavírus, com aglomerações em ambientes fechados contribuiu sensivelmente para que a situação fosse mais grave na região. O Sudeste foi a porta de entrada para a Covid-19, por ser o pólo com mais chegadas e partidas de voos internacionais, mas foi no Norte onde encontrou a “tempestade perfeita”, ainda com menor capacidade de reação do sistema de saúde.

    Outros números do ministério indicam como esse processo ocorreu. Em 28 de março, o Norte tinha casos registrados da doença em 19 municípios (4,2%), enquanto no Sudeste eram 97 municípios (5,8%). Dois meses depois, a Covid-19 chegou em 358 municípios do Norte (79,8%) e 992 municípios do Sudeste (59,5%).

    A exceção

    De todos os estados da região Norte, apenas um encontra-se abaixo da média nacional: Tocantins. A CNN procurou a Secretaria de Saúde do estado para questionar a que razão isso era atribuído.

    Em nota, a pasta pondera que o Tocantins foi um dos últimos estados a confirmarem casos da doença, o que ainda coloca o estado sob observação para que aguarde a evolução local da pandemia Além disso, outras duas razões são apontadas: a densidade demográfica mais baixa e a adoção do isolamento social.

    “Em relação à região Norte, o alto índice se dá devido à alta densidade populacional apresentada em Belém e Manaus, por exemplo, o que torna as cidades mais propensas à alta incidência de Covid-19 na população. Felizmente o Tocantins diverge do alto índice da região, em geral”, afirma a pasta.

    Inverno

    A chegada do inverno –e, com ele, a temporada da gripe no centro-sul do país– foi tema de uma reunião de gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) nesta quinta-feira. Há duas vertentes que acendem o alerta para o rumo da pandemia do novo coronavírus nesses estados e no interior do país de uma forma geral.

    Neste encontro, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, afirmou que estados precisarão continuar investindo em infraestrutura mesmo após o pico da crise, uma vez que é previsto um rumo de pacientes do interior em busca de atendimento nas capitais e os efeitos do inverno.

    “[Para] o Sudeste, o Sul e o Centro-Oeste, é tempo de se preparar. É hora de acumular meios, estruturar UTIs, habilitar leitos, adquirir insumos e equipamentos, se preparar para o combate com a vantagem de estarmos observando o que está acontecendo, como foi o impacto no Norte e Nordeste”, afirma.