Correspondente Médico: Qual a relação entre trombose venosa cerebral e Covid-19?
Fernando Gomes comentou condição que levou o jornalista Rodrigo Rodrigues à morte
O apresentador do SporTV Rodrigo Rodrigues morreu na terça-feira (28). Ele tinha 45 anos e estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital do Rio de Janeiro em estado grave por complicações causadas pelo novo coronavírus.
Rodrigues estava em coma induzido e teve morte cerebral atestada nesta terça. Ele foi internado no sábado (25) com diagnóstico de trombose venosa cerebral (TVC) — coagulação do sangue em uma veia no cérebro, condição que pode piorar com a Covid-19.
Na edição desta quarta-feira (29) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes avaliou o quadro do apresentador e explicou qual a relação entre a formação de coágulos, que pode desencadear em trombose venosa cerebral, com a Covid-19.
“No início da pandemia, nós não sabíamos se existia esta relação [entre o vírus e os coágulos]. Mas atualmente a gente sabe que existe, sim. E que pode provocar trombose em diversas partes do corpo, inclusive no cérebro”, iniciou.
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Gomes também explicou como é feita a formação do coágulo e a importância para a manutenção do corpo humano. De acordo com o neurocirugião, quando há alguma lesão no corpo humano, se não existisse o trombo, o indivíduo teria hemorragia, que poderia evoluir para óbito.
“Em caso de lesão, se não tivesse a formação de coágulos, o quadro do indivíduo iria evoluir para a morte, devido ao fluxo intenso de sangue. Como nós temos plaquetas e substâncias dissolvidas no plasma, existe a formação de um trombo ou, como chamamos, coágulo. A partir disso, a cicatrização acontece. No entanto, quando temos algum distúrbio e a formação de coágulos se intensifica, como temos observado em casos da Covid-19, estes vasos poderão entupir e desencadear problemas em qualquer órgão do corpo”, explica.
O neurocirurgião também avaliou os efeitos da trombose no cérebro, principalmente em casos de Covid-19. Quando a condição atinge o órgão, o fluxo de sangue é interrompido e, consequentemente, pode desencadear sequelas severas.
“O próprio vírus interfere nos fatores de coagulação e com isso existe uma formação muito além do normal dos trombos. Quando essa trombose acontece no cérebro, o fluxo de sangue, tanto para chegar, quanto para sair, é interrompido. Desta forma, a pessoa pode apresentar sequelas, que são lesões no tecido cerebral. Quando a condição atinge vários vasos e veias do cérebro, a pressão intracraniana pode aumentar, o órgão deixa de funcionar de forma adequada e o paciente pode evoluir para o coma ou para óbito. Por isso é tão grave e preocupante”, alertou.
Quando há suspeita de uma trombose venosa cerebral o indivíduo pode apresentar alterações neurológicas, como fraqueza de um lado do corpo, alteração visual e dor de cabeça. Já em outros órgãos, Gomes explica que a manifestação da trombose pode variar.
(Edição: Leandro Nomura)