Correspondente Médico: Por que as pessoas quebram regras em ambientes públicos?
Prefeitura do RJ vai lançar aplicativo para que os frequentadores marquem horário e lugar nas areias; isso pode funcionar?
A prefeitura do Rio de Janeiro vai lançar nos próximos dias um aplicativo para que os frequentadores marquem horário e lugar nas areias das praias da cidade.
Na edição desta quarta-feira (12) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes abordou por que pode ser um desafio fazer com que as pessoas respeitem as novas regras em um ambiente que, cultural e socialmente, remete a alguma liberdade.
“Uma regra como essa tenta transformar um ambiente aberto e livre em um parque de diversão, com filas e período que você pode desfrutar ou não, mas a nossa memória é muito forte”, avaliou ele.
Essa “memória já estabelecida de contato livre com a natureza” é reforçada pela “informação visual, que chega pelos lobos occipitais”.
“Você está na praia, vê o céu maravilhoso e aquele horizonte que parece uma reta, o que impressiona os lobos occipitais e aciona a memória com a sensação de liberdade e pode fazer o que quer”, explicou.
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“Temos essas memórias muito arraigadas na nossa cabeça, então você colocar isso dentro de um quadradinho é um desafio”, analisou o médico. “Mas não tem jeito, mas precisamos acionar os lobos frontais para entender que desfrutar de toda essa liberdade o mínimo de organização será necessário”, ponderou.
Desenvolver essa disciplina pode ser mais difícil para adultos, que, segundo ele, já têm “uma vivência de como é transitar na praia”. Para uma criança, a internalização desse novo hábito é diferente. “Ela vai ter contato agora com essa experiência, talvez seja diferente para os próximos anos e décadas”, disse.
Para encerrar, Gomes ainda explica que imitar os comportamentos inadequados para o momento de pandemia, como, por exemplo, promovendo aglomerações, se explica pela sensação de inclusão.
Com isso, ele afirma que se a ação da Prefeitura do Rio de Janeiro foi aceita por uma parte das pessoas, ficará muito mais fácil que outras também sigam esse comportamento. “Se as pessoas locais incorporam, acabam ditando como deve ser compartilhar aquele espaço e situação”, conclui.
‘Quadrados’ na praia
À CNN, o superintendente de Educação e Projetos da Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro, Flávio Graça, explicou, nessa terça-feira (11), a proposta de reservar “quadrados” na areia das praias a fim de evitar aglomerações.
Segundo ele, “todo o regramento está acabando de ser construído”. Ele adianta que um percentual entre 20% a 30% será destinado para reservas feitas por aplicativo. “Está sendo definido ainda esse valor”, informou Graça.
O representante disse que o método tem como público-alvo “pessoas que não podem chegar muito cedo ou são portadores de deficiência ou alguma limitação”. “Para, com muita calma, saber a hora que pode chegar e sair”, completou.
O restante do espaço público será disponibilizado conforme a ordem de chegada. “Como hoje acontece com qualquer espaço público”, justificou.
“Temos que pensar que estamos no novo padrão de normalidade. Estamos passando por um momento de muitas modificações e grande necessidade de adaptação de toda a população aos novos protocolos e novas regras”, disse.
(Edição: André Rigue)