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    Como uma pessoa se sente depois de tomar uma vacina de mRNA contra a Covid-19

    Essas vacinas requerem duas doses: uma para preparar o corpo e, algumas semanas depois, uma segunda injeção para aumentar a resposta imunológica

    Ilustração de vacina contra Covid-19 da Pfizer
    Ilustração de vacina contra Covid-19 da Pfizer Foto: Saulo Angelo/Futura Press/Estadão Conteúdo (2.dez.2020)

    Andrea Kane, da CNN

    Os Estados Unidos se aproximam cada vez mais de autorizar uma vacina contra a Covid-19 e muitas pessoas já se perguntam como será receber essa injeção.

    Será que ela é como a da gripe? Será mais dolorida? E quanto aos efeitos colaterais?

    As duas principais candidatas para obter uma autorização de uso de emergência da FDA (Food and Drugs Administration) – agência reguladora de medicamentos e alimentos nos EUA – produzidas pela Pfizer/BioNTech e pela Moderna, usam uma nova tecnologia com o mRNA. Nenhuma vacina licenciada nos Estados Unidos trabalha com essa técnica, embora os pesquisadores a estudem a há décadas contra infecções como gripe, raiva e zika, e até mesmo para alguns tipos de câncer.

    As vacinas de mRNA fornecem ao nosso corpo as instruções, na forma de RNA mensageiro, para fazer um pequeno pedaço deste coronavírus em particular (SARS-CoV-2), mais especificamente a proteína spike presente no vírus. Quando nosso corpo recebe essas instruções, ele começa a produzir a proteína spike. Isso, por sua vez, ativa nosso sistema imunológico, já que ele reconhece a proteína spike como “estranha” e passa a produzir anticorpos contra ela. Portanto, quando somos infectados com o vírus real, nosso corpo já está preparado para combatê-lo.

    Essas vacinas requerem duas doses: uma para preparar o corpo e, algumas semanas depois, uma segunda injeção para aumentar a resposta imunológica. Os resultados do estudo mostram que as vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna têm cerca de 95% de eficácia.

    Mas, como a tecnologia é muito nova para uma vacina, ela suscitou várias dúvidas e algumas preocupações entre aqueles a quem se destina.

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    Um participante do estudo Moderna disse que ser vacinado “definitivamente não era uma brincadeira” – mas certamente faria tudo de novo.

    Yasir Batalvi, um recém-formado de 24 anos que vive na área de Boston, disse que originalmente se inscreveu para participar de um teste no site do NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA) no início de julho porque se sentiu motivado a fazer algo para ajudar durante a pandemia.

    “Eu me sentia tão impotente. A pandemia afetou demais a vida de todos de forma significativa. E não são apenas vidas, são meios de subsistência”, disse Batalvi ao correspondente médico-chefe da CNN, doutor Sanjay Gupta. “Eu me inscrevi porque queria apenas fazer o que pudesse. E nem achava que seria escolhido. Mas acabei recebendo uma ligação em setembro. E, em meados de outubro, eu estava inscrito no teste”.

    O voluntário conta que ficou um pouco nervoso, especialmente quando recebeu um formulário de consentimento de 22 páginas para assinar. Mas disse que se sentia como se estivesse prestando um serviço público.

    “O coronavírus foi uma perturbação tão significativa em nossas vidas que decidi que era o que eu tinha que fazer. Parecia um dever cívico”, contou. “Acredito que a vacinação em massa é realmente a única forma realista de sair da pandemia em que estamos”.

    Então, qual foi a sensação?

    “A injeção pareceu, no começo, como uma vacina contra a gripe, ou seja, apenas uma picada na lateral do braço”, disse Batalvi. “Assim que saí do hospital, naquela noite, a rigidez piorou um pouco. Foi algo que consegui administrar, mas não conseguia levantar o braço muito acima do ombro. Os efeitos colaterais são bem localizados. Ou seja, é apenas no músculo do seu braço. E é só isso. Não afeta nada além disso e você se sente bem”.

    Isso foi depois da primeira dose. Mas a segunda dose foi diferente.

    “Na verdade, tive alguns sintomas bastante significativos após receber a segunda dose. Assim que a recebi, fiquei bem enquanto estive no hospital. Mas a noite foi difícil. Tive febre baixa, cansaço e calafrios”, contou Batalvi. Ele disse que ficou mal no dia e na noite da vacina, mas se “sentia pronto para seguir em frente na manhã seguinte”.

    O voluntário ligou para os médicos do estudo para informá-los sobre seus sintomas, que não ficaram alarmados e disseram que ele também não deveria.

    Sentir-se indisposto não significa que você pegou Covid-19 com a vacina. Na verdade, os especialistas dizem que esse tipo de reação mostra que seu corpo está respondendo da maneira que deveria e não deve impedir ninguém de ser vacinado ou de receber a segunda dose.

    “Isso significa que a resposta imunológica está funcionando para você. Você deve se sentir bem com isso”, disse o doutor Paul Offit, especialista em vacinas do Children’s Hospital da Filadélfia. “E não deve haver nenhuma dificuldade em voltar para a segunda dose, sabendo que agora você está em uma posição muito melhor para lutar contra esse vírus terrível, que matou mais de 250 mil pessoas [nos EUA] e pode causar muitos efeitos de longo prazo”.

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    O especialista em doenças infecciosas Anthony Fauci disse a mesma coisa ao CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, na segunda-feira (30).

    “O que o corpo está dizendo com essa resposta é que está respondendo bem à injeção. Quando você recebe uma injeção da vacina, induz uma resposta. Algumas pessoas não sentem nada”, explicou. “Outras sentem uma dor no braço. Alguns podem sentir uma dor no braço e uma espécie de sensação de frio, quase como se você tivesse um quadro semelhante à gripe e, em uma minoria tem febre”.

    O doutor Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, disse que “quase tudo isso passa em 24 ou no máximo 48 horas” e acrescentou que é importante ser honesto com as pessoas sobre os efeitos colaterais que podem sentir.

    O conselheiro científico-chefe da Operação Warp Speed, Moncef Slaoui, disse na segunda-feira (30) que aproximadamente 10 a 15% dos participantes do estudo imunizados desenvolverão “efeitos colaterais bastante perceptíveis”.

    “A maioria das pessoas terá efeitos colaterais muito menos perceptíveis. Francamente, em comparação com 95% de proteção contra uma infecção que pode ser mortal ou significativamente debilitante, isso me parece um equilíbrio apropriado”, opinou.

    Efeitos colaterais como os experimentados por Batalvi não devem ser confundidos com questões de segurança. Qualquer fabricante de vacinas que busque a aprovação ou autorização da FDA deve mostrar dados de segurança de dois meses após a segunda dose ser administrada – que é quando ocorreram os problemas de segurança mais sérios em testes anteriores. Nesse aspecto, está até agora, tudo vai bem para as vacinas da Moderna e da Pfizer. Mas só o tempo dirá se algum evento sério de segurança ocorrerá nos próximos anos.

    “Embora saibamos que os previsíveis 90, 95% dos efeitos colaterais que aconteceram dois meses após a imunização são realmente bons para as duas vacinas que foram apresentadas agora, Moderna e Pfizer, não temos experiência para um ano ou dois anos, e vamos aprender à medida que avançamos”, disse Slaoui.

    Batalvi não sabe ao certo se recebeu a vacina ativa ou um placebo. Mas, com base em sua experiência, acha que tem um bom palpite.

    “Sabemos que é um estudo duplo-cego e randomizado. Portanto, nem eu, nem os médicos do estudo, nem a Moderna sabemos se tomei a vacina ou não. Mas estou confiante com base nos efeitos colaterais de que consegui a dose verdadeira”, afirmou.

    O voluntário disse que espera que esta pandemia termine para que sua família possa conhecer os novos gêmeos de sua irmã (um menino e uma menina) nascidos no início desta semana.

    “Espero que, assim que esta vacina for lançada, as pessoas se sintam confiantes em tomá-la. Quer dizer, estou bem aqui: tomei a vacina e tudo bem. Acho que podemos superar isso”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).