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    Como os pais definem a saúde mental dos filhos

    Tudo se resume a como lidamos com os sentimentos, dizem especialistas

    Elissa Strauss, da CNN

    A maioria dos pais sabe que seu comportamento afeta a saúde mental dos filhos, agora e, possivelmente, para sempre.

    Dessa forma, nós nos esforçamos para mostrar nosso melhor lado, dando um exemplo de serenidade e empatia tanto quanto podemos, com a esperança que esses momentos terão mais importância do que aqueles em que perdemos o controle.

    Há momentos em que é mais fácil e outros em que é mais difícil. Neste exato momento, caso alguém ainda não tenha certeza, é muito, muito mais difícil.

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    Com a pandemia, o fechamento das escolas e a luta contra injustiça racial, a crise climática e a incerteza política, este ano tornou difícil para qualquer um manter a compostura de forma razoável. Agora, adicione à essa lista criar os futuros cuidadores deste mundo vulnerável.

    A boa notícia é que as crianças não necessitam que sejamos pilares de força em meio ao caos. Nem que a ansiedade ou depressão de um dos pais significa que a criança inevitavelmente experimentará ansiedade e depressão agora ou no futuro.

    O que importa mais do que o nosso sentimento de instabilidade é como nós lidamos com ele. É isso que deve ser levado em conta quer sejam os pais ou os filhos experimentando sentimentos de ansiedade ou depressão.

    A relação entre a saúde mental dos pais e dos filhos

    Há uma relação estabelecida há muito entre os problemas de saúde mental dos pais e dos filhos, explicou Marcy Burstein, uma psicóloga clínica e funcionária do Instituto Nacional de Saúde Mental, que pesquisa esse assunto.

    Filhos de pais com transtorno de ansiedade têm de quatro a seis vezes mais chance de desenvolver um transtorno de ansiedade durante a vida, e filhos de pais com depressão têm de três a quatro vezes mais chance de desenvolver depressão. Frequentemente, esses problemas aparecem durante a infância ou adolescência.

    O porquê, no entanto, permanece incerto. É provável que seja uma combinação de genética, biologia e ambiente, disse Burstein. Também, não é sempre que algo é passado de pai para filho, o comportamento de uma criança pode impactar o pai ou mãe dela.

    “Esse é um fenômeno um pouco parecido com o do ovo e da galinha”, disse Burstein. “A relação entre pais e filhos é bidirecional e complexa. Às vezes, a criança ansiosa pode evocar menos carinho paternal ou causar superproteção, como mostram estudos”.

    Mas independentemente de onde ou como os transtornos mentais se iniciam —algo que pode ser impossível de apontar com precisão — Burstein quer que os pais saibam que ninguém deve se culpar.

    “Transtornos mentais devem ser tratados como qualquer outra doença”, diz. “Nós não culpamos uma pessoa por ter diabetes”.

    Eli Lebowitz, diretor do progama do infantil Centro de Estudos da Universidade de Yale sobre Transtornos de Ansiedade, concorda.

    Quando é a criança que experimenta ansiedade ou depressão, ele raramente pensa que a causa direta é os problemas dos pais com saúde mental.

    “Ainda há essa ideia de que tudo é culpa dos pais, o que a saúde mental, como disciplina, tem um longo histórico de dizer”, diz Lebowitz, autor do livro que ainda será publicado, intitulado “Libertando-Se da Ansiedade e TOC Infantis: Um Programa Provado Cientificamente Para os Pais”. “Eles culparam os pais por tantos dos problemas”.

    Isso não significa, no entanto, que os pais não têm influência sobre o bem-estar mental de seus filhos.

    Tudo tem a ver com a resposta

    Sofrimento emocional é inevitável. A vida é dolorosa e desconfortável em algum ponto para todos nós. Se você nunca experimenta esses sentimentos, então, eu tenho más notícias. Você provavelmente está até o pescoço em negação ou positividade tóxica (ou ambos), e não está beneficiando ninguém, muito menos você mesmo.

    Às vezes, ansiedade e tristeza podem ser lidados sem ajuda profissional. E, às vezes, eles são tão fortes que se tornam transtornos clínicos e requerem ajuda profissional.

    De qualquer maneira, negar essa dor pode causar mal a nossos filhos e a nós mesmos ao longo prazo. A coisa saudável emocionalmente a se fazer, o que também é a coisa mais difícil e corajosa a se fazer, é admitir nossas dificuldades na frente dos nossos filhos e ser um exemplo de resposta saudável para eles.

    “As crianças olham para os pais para entenderem suas realidades e o mundo. Isso começa na infância”, diz Lebowitz. Ele aponta para um estudo em que bebês respondem aos sinais faciais de seus pais ao decidir engatinhar ou não por um piso transparente. Os bebês de pais que pareciam assustados pararam de engatinhar. Os que tinham pais calmos continuaram.

    “Essa é uma maneira importante em que aprendemos o que é seguro, o que é perigoso, o que é feliz e o que é triste”, adicionou. Nossos filhos apreendem nossas deixas emocionais verbais e não-verbais e tendem a ser mais perceptivos do que nós lhes damos crédito.

    Isso não significa que temos que parecer calmos o tempo todo. Quando nos sentimos ansiosos sobre a Covid-19, incêndios florestais, racismo ou insegurança financeira —ou porque temos um transtorno ansioso clínico — nós devemos admitir isso diretamente a nossos filhos de maneira adequada à idade deles.

    Quando um pai ou mãe se sente que ele ou ela está instável emocionalmente, os pais devem começar ao cuidarem de si mesmos. Em uma cultura que implícita ou explícitamente encoraja que os pais coloquem as necessidades dos filhos em frente das próprias, isso pode parecer errado, ou, ainda mais, egoísta. Mas isso é para o bem de todos.

    A liberação da tensão pode acontecer por meio de exercícios físicos, folga do trabalho, um telefonema com um amigo ou psicoterapia. “Encontre essas pequenas maneiras de recarregar suas baterias”, diz Lebowitz.

    Mas isso não é tudo. Além de encontrar maneiras de se ajudarem, os pais tmabém devem falar com seus filhos sobre o que está acontecendo.

    “É mais assustador para uma criança ter um pai que está passando por dificuldade e não fala sobre isso do que um pai que está passando por dificuldade e fala sobre isso”, disse Lebowitz. “Só certifique-se de usar palavras que eles entenderão”.

    Para crianças mais novas, “triste” e “assustado” são provavelmente melhores escolhas do que “deprimido” e “ansioso”.

    Conversas adequadas à idade das crianças sobre ansiedade e depressão podem conseguir uma série de coisas. Por exemplo, conversar com os seus filhos normaliza esses sentimentos e mostra a eles que é ok admitir e expressá-los. Segundo, a comunicação garante que as crianças saibam que o estresse e ansiedade de seus pais não é culpa delas. E, por último, quando pais falam sobre o que estão lidando com esses sentimentos, eles mostram a seus filhos o que fazer quando enfrentarem sentimentos difíceis eles próprios”.

    “Em vez de ter comportamentos não-construtivos, como pessimismo, se fechar ou gritar, pais devem tentar dar o exemplo de como lidar com isso nesse momento”, disse Burstein.

    Quando são as crianças que estão ansiosas, Lebowitz orienta os pais a respeitarem mas não necessariamente encorajarem essas preocupações. Isso pode ir contra o instinto paternal profundamente enraizado de proteger os filhos do que os assusta, mas a linha entre proteção e acomodação de comportamentos não-saudáveis e irracionais pode ser tênue.

    Se uma criança não quer ir a algum lugar por medo, não diga: “eu entendo que você está assustado e nós não iremos”. Em vez disso, siga: “eu entendo que você está assustado, mas nós sabemos que é seguro e eu sei que você consegue”.

    “Mostre à criança que você está confiante que eles conseguem tolerar o estresse e ainda ficarem bem. Faça com que eles saibam que você acredita que eles podem lidar com isso”, disse Lebowitz. “Pais são como o espelho que as crianças se olham para aprender sobre si mesmos”.

    Na minha experiência, esse espelho funciona dos dois lados. Saber que os meus filhos estão observando a minha reação ao estresse e tristeza me inspira a lidar com eles de forma mais saudável do que, por exemplo, me esconder embaixo de um cobertor e ficar no Twitter por horas.

    Na nossa casa, quando a mamãe está estressada, ela diz a todos que ela não consegue cozinhar e limpar naquele momento e nós pedimos comida do nosso restaurante chinês favorito. Quando a mamãe está estressada, nós saímos para uma caminhada da família. Quando a mamãe está estressada, nós colocamos música e dançamos até, mesmo que seja só por alguns minutos, nós nos esqueçamos.

    Os problemas podem não melhorar, mas a minha habilidade de lidar com eles, sim.

    Elissa Strauss é uma colaboradora frequente da CNN, onde escreve sobre a política e cultura da maternidade.

    (Texto traduzido, leia o original em inglês)

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