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    Como funciona o antiviral tecovirimat contra varíola dos macacos, que deve chegar ao Brasil

    País receberá o medicamento contra a doença por intermédio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), de acordo com o ministro Marcelo Queiroga

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    Os medicamentos chamados antivirais contam com propriedades capazes de reduzir a ação de vírus no organismo humano. O combate à infecção pode ser feito a partir do bloqueio na invasão das células ou pelo enfraquecimento da replicação viral, ações que contribuem para impedir a evolução e o agravamento das doenças.

    Os antivirais devem ser utilizados na fase inicial da infecção, de preferência, entre o primeiro e o quinto dia do aparecimento dos sintomas. A maior eficácia dos antivirais está associada à presença de uma maior quantidade de vírus no organismo, ou seja, uma alta carga viral comum no início da infecção.

    Um antiviral conhecido como tecovirimat, que foi desenvolvido para a varíola comum, foi licenciado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para varíola dos macacos em 2022 com base em dados em estudos em animais e humanos. No entanto, o medicamento ainda não está amplamente disponível.

    O Brasil deve receber o medicamento para ampliar o combate ao surto da doença a partir de parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A informação foi confirmada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nesta segunda-feira (1º).

    Como funciona o medicamento

    O tecovirimat (também conhecido como TPOXX) é um medicamento desenvolvido para o tratamento do vírus da varíola comum. No atual surto de varíola dos macacos, o fármaco tem sido utilizado no combate à infecção da doença. O antiviral está disponível como cápsula oral (200 mg) e injeção para administração intravenosa.

    Nos Estados Unidos, por exemplo, o tecovirimat foi aprovado em 2018 pela Food and Drug Administration (FDA), agência norte-americana semelhante à Anvisa, para o tratamento da varíola em adultos e crianças, mas não para a Monkeypox. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, mantêm um protocolo de acesso expandido ao medicamento, o que permite o uso para o tratamento precoce da infecção.

    Em estudos com animais, o tecovirimat demonstrou diminuir a chance de morte por infecções por ortopoxvírus, como o vírus da varíola dos macacos, quando administrado no início da doença. Em pessoas, uma série de casos de indivíduos infectados com o vírus Monkeypox, que incluiu um paciente tratado com tecovirimat, sugere que o medicamento pode encurtar a duração da doença e a disseminação viral. Os resultados foram publicados na revista científica Lancet (veja detalhes abaixo).

    Quem pode se beneficiar do uso do antiviral

    De acordo com o CDC, o tecovirimat pode ser considerado para tratamento em pessoas infectadas com o vírus da varíola dos macacos com doença grave, como casos hemorrágicos, lesões grandes que se encontram, sepse, inflamação do cérebro (encefalite) e outras condições que requerem hospitalização.

    A OMS alerta que recém-nascidos, crianças, gestantes e pessoas com deficiências imunológicas podem estar em risco de sintomas mais graves e de morte por varíola dos macacos. O agravamento da doença também pode afetar pessoas com histórico ou presença de dermatite atópica e com outras condições esfoliativas ativas da pele, como eczema, queimaduras, acne severa e infecção pelo vírus herpes simplex.

    O uso do antiviral também pode ser indicado a indivíduos com uma ou mais complicações, como infecção bacteriana secundária, gastroenterite com náuseas e vômitos graves, diarreia ou desidratação ou outras comorbidades.

    A OMS recomenda que o uso do tecovirimat seja monitorado em um contexto de pesquisa clínica com coleta de dados prospectiva.

    Desafios no uso do antiviral

    O tecovirimat pode encurtar os sintomas e reduzir o tempo de contágio da varíola dos macacos. Um estudo retrospectivo com a participação de sete pacientes diagnosticados com a doença no Reino Unido entre 2018 e 2021.

    Três casos da doença foram relatados no Reino Unido em 2021 em uma família com histórico de viagem à Nigéria. De acordo com o estudo, dois desses casos foram os primeiros exemplos de transmissão doméstica fora da África.

    Um desses casos ocorreu em uma criança, que foi observada com atenção devido à maior probabilidade de mortalidade. O estudo aponta que a criança apresentou doença leve e se recuperou totalmente.

    Um dos pacientes diagnosticados em 2021 foi tratado com tecovirimat e apresentou uma duração mais curta dos sintomas e eliminação viral do trato respiratório superior do que os outros casos neste grupo. De acordo com o estudo, todos os pacientes apresentaram doença leve e receberam tratamento em ambiente hospitalar com o objetivo principal de controlar a propagação da infecção e não devido à gravidade dos quadros.

    Nenhum paciente avaliado apresentou as complicações graves comumente reconhecidas da varíola dos macacos, como pneumonia ou sepse (infecção generalizada). Os resultados da análise foram publicados na revista Lancet em maio.

    Tratamento de suporte

    Na maior parte dos casos, os pacientes com varíola dos macacos recebem o chamado tratamento de suporte, ou seja, os cuidados clínicos são voltados para o alívio dos sintomas, além do gerenciamento de complicações e prevenção de sequelas a longo prazo.

    Os pacientes devem receber líquidos e alimentos para manter o estado nutricional adequado. Infecções bacterianas secundárias devem ser tratadas conforme indicado.

    A doença começa, na maior parte dos casos, com uma febre súbita, forte e intensa. O paciente também tem dor de cabeça, náusea, exaustão, cansaço e fundamentalmente o aparecimento de gânglios (inchaços popularmente conhecidos como “ínguas”), que podem acontecer tanto na região do pescoço, na região axilar, como na região genital.

    A manifestação na pele acontece na forma de bolhas ou lesões que podem aparecer em diversas partes do corpo, como rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais.

    O vírus da varíola dos macacos é transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. O período de incubação é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.

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