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    Como as novas tecnologias transformaram o combate à Aids nos últimos 38 anos

    Inovações em medicamentos e em estratégias de prevenção reduziram a mortalidade e permitiram que ela se tornasse uma doença crônica

    Lucas Rocha, da CNN, em São Paulo

    “Use camisinha!”. A expressão popularizada pelas campanhas de prevenção ao HIV já não é a única maneira de combater a propagação do vírus causador da Aids, isolado pela primeira vez no dia 20 de maio de 1983, pelo cientista Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, na França. 

    Graças à evolução dos medicamentos utilizados no combate ao HIV, a Aids é considerada uma doença crônica atualmente. Os tratamentos apresentam alta eficácia para frear a replicação viral e poucos efeitos colaterais em comparação com os remédios utilizados na década de 1990, o que favorece a adesão. 

    Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Dessas, 89% foram diagnosticadas e 77% fazem tratamento com antirretroviral. Entre os pacientes em tratamento, 94% atingiram carga viral indetectável, que confirma a adesão aos medicamentos. Ainda de acordo com a pasta, de 2012 a 2019, o Brasil registrou uma queda de 18,7% na taxa de detecção da Aids. E a mortalidade pela doença teve queda de 17,1% de 2015 a 2019. 

    Conheça as principais estratégias de prevenção e inovações em medicamentos que contribuíram para esse cenário:

    Profilaxia Pré-Exposição 

    Durante anos, a prevenção ao HIV/Aids esteve restrita ao uso da camisinha – que ainda é um dos recursos mais relevantes, segundo os especialistas. No entanto, foram desenvolvidas tecnologias que reduzem as chances de contágio através do uso de medicamentos específicos. 

    Uma delas é a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), indicada para pessoas que não vivem com o HIV, ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS) desde dezembro de 2017.

    A utilização diária de uma combinação de dois medicamentos antirretrovirais, que apresentam composição similar aos utilizados no tratamento do vírus, reduz em mais de 90% as chances de uma pessoa se infectar quando exposta ao HIV. 

    Segundo o Ministério da Saúde, os públicos prioritários para a PrEP são as populações que apresentam risco mais elevado para a infecção, como gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, trabalhadores do sexo e casais sorodiferentes (quando um vive com HIV e o outro não). 

    Os especialistas também recomendam o uso para indivíduos com comportamentos que potencializam os riscos da infecção, o que inclui deixar de usar camisinha com frequência, ter relações sexuais sem preservativo com pessoas com HIV que não estejam em tratamento, apresentar infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) frequentemente, e fazer uso repetido da Profilaxia Pós-Exposição ao HIV.

    Para realizar a profilaxia pelo SUS, é necessário procurar atendimento médico em uma unidade de saúde e passar por uma avaliação. Na rede pública, a entrega dos medicamentos da PrEP é condicionada às consultas regulares ao serviço de saúde. A cada três meses, são realizados exames de acompanhamento que verificam a reação aos medicamentos, além de testes para HIV, sífilis e hepatites B e C.

    No atendimento particular, a prescrição também deve ser feita pelo médico. No entanto, os remédios só poderão ser comprados em farmácias. O valor de um frasco com 30 comprimidos, suficiente para um mês, varia entre R$ 150 e R$ 300. A PrEP não faz parte da cobertura dos planos de saúde.

    Profilaxia Pós-Exposição

    Os nomes são parecidos, mas as metodologias são bastante distintas. A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é um recurso emergencial para pessoas que possam ter sido expostas à infecção por situações como relações desprotegidas, rompimento da camisinha, violência sexual ou acidentes ocupacionais por profissionais da saúde. 

    Assim como a PrEP, a medida também considera o uso de medicamentos antirretrovirais para reduzir o risco da infecção. Nesse caso, são utilizados comprimidos que fazem parte do tratamento comum do HIV.

    O tratamento tem duração de 28 dias e deve começar o mais rápido possível, logo que seja identificada a possibilidade de contágio. O prazo máximo para início é de 72 horas após a exposição.

    Os especialistas alertam que a PEP não deve ser utilizada de forma recorrente, mas como recurso de emergência. Os pacientes são acompanhados pela equipe de saúde e realizam testes rápidos para HIV, sífilis e hepatites B e C no momento do atendimento. Ao final do ciclo de 28 dias, as testagens devem ser repetidas.

    A Profilaxia Pós-Exposição pode ser indicada por profissionais de saúde das redes pública e privada. No entanto, a retirada da medicação é feita exclusivamente na rede pública, pelo SUS.

    Da camisinha à prevenção combinada

    Especialistas defendem que as estratégias de prevenção ao HIV sejam utilizadas de forma combinada. As recomendações incluem uso dos preservativos masculino e feminino, profilaxias contra o HIV, prevenção da transmissão vertical (da mãe para o bebê durante a gestação), testagem regular, diagnóstico e tratamento precoce das infecções, além da imunização para HPV e hepatite B e adesão aos programas de redução de danos para usuários de álcool e drogas.

    Testagem regular 

    Testagem, diagnóstico e tratamento do HIV são mecanismos considerados fundamentais para interromper a cadeia de transmissão. As unidades de atenção básica, como postos de saúde, oferecem de forma gratuita os testes rápidos para HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis e as hepatites B e C. 

    Segundo o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gustavo Magalhães, a periodicidade da testagem pode variar de três meses a uma vez ao ano, de acordo com a atividade sexual de cada pessoa.

    O infectologista alerta que a infecção pelo HIV pode ser assintomática, o que faz com que as pessoas não busquem atendimento médico, favorecendo a transmissão. 

    “A prevenção do HIV passa por um conjunto de ações, não é somente o uso do preservativo que também é muito importante. Se fizermos a testagem com frequência, principalmente de pessoas que têm risco elevado, conseguimos detectar mais rápido a infecção, começamos o tratamento e interrompemos a transmissão”, afirma.

    Segundo o especialista, a detecção e o tratamento de outras ISTs também reduzem as chances de contágio pelo HIV. “Uma pessoa com sífilis pode apresentar lesões no pênis, na vagina ou no ânus, que são indolores. Quando acontece uma relação sexual desprotegida, a ferida facilita muito a transmissão do HIV. As lesões também estão presentes no caso de herpes e outras ISTs”, explica.

    Adesão ao tratamento antirretroviral 

    A pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Brenda Hoagland, ressalta que o diagnóstico do HIV e o início precoce do tratamento melhoram a qualidade de vida dos pacientes.

    O tratamento antirretroviral atua na redução da quantidade de vírus no organismo, podendo reduzir a carga viral a uma quantidade indetectável. De acordo com evidências científicas, pessoas que realizam o tratamento e apresentam carga viral indetectável há pelo menos seis meses não transmitem o vírus por relação sexual.

    A carga viral é avaliada periodicamente, a cada seis meses, por meio de um exame de quantitativo, que utiliza a técnica de diagnóstico molecular (RT PCR). 

    Eliminação da transmissão vertical

    Prevenir a transmissão vertical do HIV, quando a infecção passa da gestante para o bebê, também é uma das diretrizes da prevenção combinada. 

    O Ministério da Saúde recomenda a testagem das grávidas e dos parceiros para HIV, sífilis e hepatites durante o pré-natal e no último trimestre da gestação. O diagnóstico precoce e tratamento podem garantir que o bebê nasça saudável. 

     

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