Como acelerador de partículas brasileiro pode ajudar a combater a Covid-19
José Roque, diretor geral CNPEM, disse que projeto vai ajudar a encurtar os caminhos na procura por um medicamento contra o novo coronavírus
José Roque, diretor geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e diretor do projeto Sirius, explicou à CNN, nesta segunda-feira (13), como o maior acelerador de partículas do Brasil pode ajudar na busca por um medicamento que iniba e combata a reprodução da Covid-19 no corpo do paciente. O equipamente produziu novas imagens do vírus.
“É como se eu tivesse uma fechadura – a proteína – e o remédio é como se fosse uma chave que eu preciso procurar. Se eu não tivesse a imagem dessa fechadura, teria um conjunto enorme de chaves e eu teria que ficar procurando aleatoriamente. Com essa imagem é como se eu tivesse uma dica de qual será a chave que vai encaixar perfeitamente”, explicou.
Com o desenho da proteína é possível desenvolver remédios que podem parar a infecção. Essa técnica foi utilizada para produzir coquetéis eficazes contra o vírus HIV e está pode ser uma esperança na corrida por um medicamento contra o novo coronavírus.
“É como se eu tivesse obtido a estrutura dela e fármaco interage em alguns bolsões dessa proteína – que tem uma função. A função dessa, em particular, é picotar certas estruturas que são importantes para o funcionamento do vírus. Então, se eu impedir que essa proteína opere e impeço que ele se replique”, acrescentou.
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O diretor do projeto esclareceu que o acelerador de partículas brasileiro é diferente do grande equipamento que fica na Europa.
“Aquele acelera e colide prótons uns contra os outros para entender a estrutura interna dessas partículas. Aqui temos um acelerador de elétrons, que não vai colidir com nada”, disse ele, que acrescentou que esse processo foi usado para gerar um cristal de proteína do novo coronavírus.
“Isso é colocado na frente do feixe de raio-x, que interage com esse cristal, detectamos essa reação e depois conseguimos resolver essa imagem e obter a posição de cada átomo nessa proteína”, completou.
Por fim, Roque informou que o equipamento vai permitir que pesquisadores de qualquer local do país tenham uma busca “mais eficiente” de medicamentos contra o novo coronavírus. “Ele vai ajudar a encurtar os caminhos [na procura pelo remédio]”, concluiu.
Localizado em Campinas, interior de São Paulo, o novo acelerador de elétrons, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) foi projetado por brasileiros a um custo de R$ 1,8 bilhão, financiado por empresas privadas nacionais e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
Com o diâmetro de 235 metros em uma estrutura circular, o Sirius foi apelidado de “Maracanã da Ciência”,. A maioria da tecnologia é nacional e deve ser usada em estudos de diversas áreas, como meio ambiente, energia e saúde.
Ao todo o projeto Sirius terá 38 linhas de luz — a que a registrou o “desenho” do novo coronavírus é apenas uma delas. Atualmente o acelerador trabalha com apenas 5% de sua capacidade. Na próxima etapa vai ser possível ver o novo coronavírus em 3D.
Com o experimento de hoje, pesquisadores do mundo todo poderão utilizar o equipamento para testar suas teorias. De acordo com o CNPEM a escolha por usar a proteína do vírus é pela urgência em se encontrar uma solução para a pandemia.
(Edição: Leonardo Lellis)