Com pandemia, cemitério da Vila Formosa em SP tem quase o dobro de sepultamentos
À noite, coveiros trabalham sob a luz de lanternas de carros no maior cemitério público da capital
A disparada de mortes por causa do espalhamento do novo coronavírus na capital paulista tem provocado um impacto nunca antes calculado no serviço funerário de São Paulo.
A sobrecarga fez com que a prefeitura precisasse lançar um projeto emergencial com uma série de mudanças na dinâmica do serviço. O pacote custará aos cofres públicos R$ 39,4 milhões e prevê a compra de oito câmaras frias, a abertura de 13 mil novas valas e até a instalação de agências funerárias dentro de nove hospitais municipais pra agilizar a liberação de corpos.
Pra ajudar na abertura de covas, foram contratadas quatro retroescavadeiras, que estão concentradas no cemitério da Vila Formosa, visitado pela reportagem da CNN nesta semana. Por lá, o número de sepultamentos diários foi 35 para mais de 70. Os coveiros estão usando roupas especiais, com máscara e mais proteções para transportar e enterrar os corpos com mais segurança. Para isso, foram comprados três mil macacões e 15 mil sacos reforçados para o deslocamento de corpos.
Um dos gargalos do sistema é a dinâmica de sepultamentos. É inviável sepultar, no mesmo cemitério, duas pessoas simultaneamente. Justamente por isso, tem havido uma programação mais extensa para enterros, que atravessa o fim da tarde e chega até à noite. Sem iluminação artificial em cemitérios como o da Vila Formosa, os coveiros têm feito os sepultamentos com a ajuda das lanternas dos carros que transportam as equipes contratadas.
Para piorar a situação, 60% dos 257 sepultadores do Serviço Funerário Municipal tiveram que ser afastados por pertencerem ao grupo de risco do novo coronavírus, por terem mais de 60 anos e doenças pré-existentes que podem se agravar caso sejam contaminados. A diminuição acontece em um momento em que a capacidade de sepultamentos diários está saltando de 240 para 400.
Decretos municipais também mudaram a dinâmica dos velórios, que estão limitados ao máximo de 10 pessoas e só podem durar uma hora. No caso de pessoas com suspeita de COVID-19, o caixão permanece o tempo todo fechado e os familiares precisam usar máscaras durante toda a cerimônia.
Plano de contingência
O plano de contingência anunciado nesta quinta-feira (23) pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), foi antecipado pela reportagem da CNN no fim de março, prevê a instalação de um cemitério vertical com capacidade de mil gavetas, que seria instalado ao lado do Crematório da Vila Alpina. Também inclui a contratação de 220 coveiros e 40 motoristas para carros funerários, o que praticamente dobra a frota de 36 para 68 carros, com o objetivo de agilizar o transporte dos mortos.
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A cidade de São Paulo tem 21 cemitérios municipais, além do crematório da Vila Alpina. Agora, no entanto, todos os velórios e sepultamentos dos cemitérios privados poderão acontecer sem passar pelo serviço funerário da Prefeitura.
“A nossa preocupação é de estarmos preparados para organizar e minimizar dor das famílias, para que elas possam dar um sepultamento digno aos entes que serão perdidos. Por isso, elaboramos este plano de contingência, para que a gente possa ter um funcionamento adequado do sistema funerário na cidade de São Paulo”, disse o prefeito.
Veja o que prevê o plano de contingência do Serviço Funerário:
– custo de R$ 39,4 milhões
– aumento da capacidade de 240 para 400 enterros por dia
– contratação de 220 coveiros
– contratação de 40 motoristas para carros funerários
– aumento de 36 para 68 os carros funerários
– compra de 38 mil urnas funerárias
– compra de 15 mil sacos reforçados para corpos
– 13 mil valas abertas com 4 retroescavadeiras
– compra de 3 mil macacões de proteção para funcionários de cemitérios
– instalação de agências funerárias em 9 hospitais municipais
– compra de 8 câmaras frias para armazenar corpos
– contratação de mais 200 coveiros para trabalhar de noite
– expansão dos sepultamentos para 24 horas por dia