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    Com escassez durante pandemia, usuários buscam drogas mais fortes e perigosas

    Fechamento de fronteiras acabou com rotas de tráfico, o que diminuiu estoques e elevou preços; especialista alertam para hábitos arriscados de usuários

    Da CNN, em São Paulo

    Com o avanço das medidas de isolamento para tentar conter o novo coronavírus, alguns usuários de drogas ilegais passaram as estocar sua substância preferida para evitar desabastecimento no período em que não podem deixar suas casas.

    Mas as consequências podem ser devastadoras, alertam especialistas preocupados com a possibilidade de essas pessoas adotarem hábitos mais arriscados – como o uso de drogas com as quais não tem familiaridade ou a abstinência, que pode ser perigosa se não for acompanhada.

    Especialistas britânicos em políticas de drogas e crimes disseram à CNN que estão preocupados com um número crescente de denúncias de escassez e aumento dos preços das drogas à medida que as fronteiras internacionais se fecham e interrompem as vias de fornecimento dessas substâncias.

    “Há relatos de pessoas armazenando sua droga favorita e, é claro, isso cria uma escassez, o que inevitavelmente levou a aumentos de preços”, afirmou Ian Hamilton, professor de saúde mental e dependência da Universidade de York. Ele disse acreditar que a heroína deve desaparecer muito rapidamente no Reino Unido.

    Steve Rolles, analista sênior de políticas da Transform Drug Policy Foundation, disse à CNN que já há evidências de aumentos de preços. “Isso não chega a surpreender. Parece provável que o suprimento de drogas que essas pessoas estão usando, em particular a heroína, seja restrito.”

    “Se a heroína não estiver disponível, eles provavelmente encontrarão outro caminho, seja [consumindo] álcool, inalantes, benzodiazepínicos ou qualquer outra coisa”, disse Rolles.

    Alex Stevens, professor de justiça criminal da Universidade de Kent, disse à CNN que, em áreas como Birmingham e Bristol, usuários de heroína e canabinóides sintéticos relataram que as porções de drogas foram diminuídas – sem redução de preços – em relação ao que era vendido há quatro ou cinco semanas.

    O que acontece quando faltam drogas?

    Quando o Reino Unido experimentou falta da heroína pela última vez em 2010 e 20011, a pureza da droga vendida no país caiu para 18%, segundo a Agência Nacional de Crimes. Os preços nas ruas aumentaram e houve uma redução no número de mortes envolvendo heroína – e um aumento simultâneo, mas menor, de mortes envolvendo metadona.

    Isso pode parecer positivo, mas os especialistas dizem que os efeitos podem ser diferentes desta vez. Os usuários podem passar para métodos mais perigosos de consumo de drogas, como os injetáveis. E podem usar combinações letais, além de estarem mais sujeitos a uma overdose por causa do distanciamento social.

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    Uma diferença vital entre 2010 e 2020 que preocupa os especialistas é a proliferação de fentanil, um opioide sintético que é até 50 vezes mais forte que a heroína e, portanto, pode ser transportado em quantidades muito menores. A droga ainda não se espalhou no Reino Unido, mas está causando estragos nos Estados Unidos.

    O fentanil é a droga mais frequentemente envolvida em overdoses nos EUA, de acordo com o Centro Nacional de Estatísticas de Saúde. A taxa de overdoses envolvendo o opioide disparou cerca de 113% ao ano de 2013 a 2016. “Se você está acostumado a usar heroína e toma fentanil, o risco de overdose é extremo”, disse Hamilton.

    Com muitos usuários de drogas lidando com problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, o isolamento do coronavírus apresenta um desafio sem precedentes.

    “Pessoas que têm um distúrbio ativo, um distúrbio de dependência, procuram maneiras de obter drogas”, disse à Cynthia Moreno Tuohy, diretora-executiva da Associação Nacional de Conselheiros em Alcoolismo e Abuso de Drogas dos EUA.

    Tuohy espera também usos mistos de maconha e álcool, muito mais fáceis de serem encontrados e que já tiveram um aumento no consumo em todo o mundo nas últimas semanas.

    “Quanto mais longa for a crise, menos esperança as pessoas veem… não parece que haverá uma luz no fim do túnel”, disse Tuohy. “A longo prazo, é provável que haja também aumento de suicídios como resultado da depressão.” (Com informações da CNN)

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