Com déficit de vacinas no Brasil, especialistas apontam ineficácia de dose única
Ministério da Saúde prevê vacinar, 14,8 milhões de pessoas, mas, por enquanto, tem 12,8 milhões de doses garantidas
Com previsão de vacinar 14.846.712 de pessoas contra a Covid-19 em um primeiro momento, o Brasil tem, por enquanto, 12,8 milhões de doses de imunizantes aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A situação gera apreensão sobre a possibilidade de faltar doses para a segunda aplicação dentro do prazo necessário para garantir a eficácia do imunizante.
No caso da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, e já em utilização, o período máximo para a aplicação da segunda dose é de até 28 dias depois da primeira.
“Do ponto de vista de efeito colateral para o corpo, não existe risco tomar apenas uma dose, mas não tem garantia de eficácia de proteção às pessoas que tomaram apenas uma vez. Se isso [de atrasar] acontecer, pode correr o risco de surgir uma falsa sensação de segurança. É preciso tentar vacinar bem o máximo de pessoas”, comentou o médico infectologista Igor Maia Marinho, do Hospital das Clínicas Emílio Ribas, de São Paulo.
Doutora em Imunologia pela Universidade de Paris, Sorbonne Universités (França), Paola Minoprio corrobora que se uma pessoa não tomar a segunda dose contra a Covid-19 dentro do prazo recomendado, o organismo não conseguirá criar defesas suficientes contra o novo coronavírus.
“Na fase emergencial, o objetivo da vacina não é a gente se proteger completamente contra a infecção, mas contra os sintomas moderados e severos e garantir a imunidade de rebanho, que é quando 70% da população terá o sistema imunológico preparado para encontro com o coronavírus. Se a gente perder a eficácia por não dar a segunda dose, não adiantou de nada ter dado a primeira porque não houve o tempo necessário para o sistema imunológico atingir o máximo de eficácia da vacina”, explica Paola, que também é diretora de Pesquisa do Instituto Pasteur de Paris e coordenadora da Plataforma Científica Pasteur, da Universidade de São Paulo.
De acordo com o Plano Nacional de Imunização Contra a Covid-19, para vacinar todos da Fase I, que abrange 14,8 milhões de pessoas, são necessárias 31.178.095 de doses de vacina. O número leva em conta a necessidade de duas doses em cada pessoa mais 5% de perda operacional do produto.
A vacina aplicada atualmente no Brasil é a Coronavac. Foram repassados ao Ministério da Saúde (MS) 6 milhões de doses do imunizante. Nesta sexta-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso emergencial de um lote de 4,8 milhões de doses.
Além da Coronavac, o Brasil deverá receber nos próximos dias mais 2 milhões de doses da vacina da Astrazeneca/Oxford, fabricadas na Índia.
Estão incluídos nesta primeira etapa de vacinação os trabalhadores de saúde, pessoas de 75 anos ou mais, as acima de 60 anos em abrigos, população indígena em terras demarcadas e comunidades tradicionais ribeirinhas. Na fase II, com estimativa de 22,1 milhões, estão todos entre 60 e 74 anos; na Fase III as pessoas com morbidades: 12,6 milhões. O Ministério da Saúde prevê imunizar todos até o fim do primeiro semestre 2021.