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    Cientistas descrevem composição do veneno do escorpião-marrom pela primeira vez

    Estudo do Instituto Butantan abre caminhos para a análise das proteínas presentes na peçonha da espécie Tityus bahiensis, predominante no Brasil

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    Pesquisadores do Instituto Butantan descreveram, pela primeira vez, a composição do veneno do escorpião-marrom. A espécie, chamada Tityus bahiensis, que pode provocar acidentes graves, é encontrada na Bahia e nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

    O estudo abre caminhos para a análise das proteínas presentes na peçonha do animal, o que poderá ajudar na compreensão de efeitos secundários do envenenamento e ampliar a busca por novos tratamentos.

    Nos últimos 10 anos, houve um aumento de 149,3% nas notificações de acidentes por escorpiões no país, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

    Análise de proteínas

    Ao investigar as proteínas isoladas do veneno, os pesquisadores descobriram um peptídeo capaz de aumentar a quantidade de neurônios em cultura de células e em animais. O próximo passo será testá-lo em modelos animais de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e doença de Huntington.

    “Como o veneno do escorpião é neurotóxico, nós testamos as toxinas em células do sistema nervoso. E assim identificamos esse peptídeo que, em vez de matar os neurônios, aumentava a sua viabilidade celular. A molécula em si já era conhecida, mas essa função nunca havia sido descrita”, explica o pesquisador Emidio Beraldo-Neto, primeiro autor do artigo, em comunicado.

    Os estudiosos também identificaram, pela primeira vez, a presença da enzima ACE no veneno, molécula nunca antes encontrada em escorpiões. Em mamíferos, essa enzima tem a função de regular a pressão arterial. Uma das hipóteses dos cientistas é que a ACE, junto com outros componentes na peçonha, poderia contribuir para os casos de variação de pressão arterial que são descritos nos envenenamentos.

    Segundo o pesquisador Daniel Pimenta, orientador do estudo, os artigos costumavam descrever somente as proteínas predominantes dos venenos, que em geral eram as mais tóxicas e, consequentemente, mais importantes para o envenenamento. “A evolução dos sistemas de detecção permitiu identificar e caracterizar moléculas que antes não eram tão conhecidas, e que podem dar origem a novas ferramentas biotecnológicas”, aponta.

    A descrição completa das proteínas passa a compor uma espécie de banco de dados que poderá ser utilizada em futuros estudos sobre a evolução do escorpião-marrom, sobre o envenenamento e a identificação de novas abordagens terapêuticas. A pesquisa contou com a participação dos laboratórios de Bioquímica, Genética e Farmacologia do Butantan.

    Veja como se proteger

    Nos acidentes com escorpiões, o envenenamento acontece a partir do contato com o ferrão. Predominantes nas zonas tropicais e subtropicais do mundo, os escorpiões apresentam maior incidência nos meses quentes e úmidos.

    De acordo com o Ministério da Saúde, ao menos cinco espécies do gênero Tityus têm importância em saúde pública no Brasil: escorpião-amarelo (T. serrulatus), escorpião-marrom (T. bahiensis), escorpião-amarelo-do-nordeste (T. stigmurus) e o escorpião-preto-da-amazônia (T. obscurus).

    Amplamente distribuído pelo país, o escorpião-amarelo representa a espécie de maior preocupação em função do maior potencial de gravidade do envenenamento e fácil adaptação ao meio urbano.

    As medidas de prevenção são semelhantes às recomendadas contra as aranhas, incluindo o combate à proliferação de baratas e evitar colocar as mãos sem luvas em buracos, sob pedras e troncos podres.

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