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    Butantan pede autorização da Anvisa para testar soro contra Covid-19 em humanos

    Em laboratório, produto diminuiu a carga viral e resultou em uma melhora na estrutura pulmonar de ratos

    Washington Luiz, colaboração para a CNN 

    O Instituto Butantan pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorização para iniciar testes clínicos em humanos de um soro que poderá ser utilizado para o tratamento da Covid-19. De acordo com o instituto, cerca de 3 mil frascos estão prontos para serem utilizados nessa fase do estudo. 

    O produto é feito a partir do plasma sanguíneo de cavalos. Para fabricá-los, os pesquisadores aplicaram o vírus inativado por radiação nos animais. Em resposta ao vírus, eles produziram anticorpos do tipo imunoglobulina G (IgG). 

    Esses anticorpos são extraídos do sangue e purificados por meio de uma técnica usada no instituto há décadas para produção de outros soros, como o antiofídico, usado contra picadas de serpentes. 

    Em testes realizados em ratos infectados pelo vírus vivo, a equipe do Butantan observou que o uso do soro diminuiu a carga viral e resultou em uma melhora na estrutura pulmonar das cobaias. 

    “Um dia depois da administração do soro, vimos uma proteção muito grande nos pulmões desses animais”, afirmou a bioquímica Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora de Inovação do instituto, em entrevista à CNN

    Ainda de acordo com Tavassi, os testes serão aplicados, inicialmente, em um número reduzido de pacientes infectados pela Covid-19. A intenção será avaliar como o corpo humano reage ao produto. 

    “Na primeira fase, o soro será aplicado num número reduzido de pacientes e a resposta será ‘funciona ou não funciona’. É um processo praticamente imediato, porque o soro será utilizado em casos em que o vírus já está presente. Dois dias depois, vamos saber se está funcionando ou não”, afirmou. 

    Equipamento do instituto para purificação de anticorpos extraídos do plasma sang
    Equipamento do instituto para purificação de anticorpos extraídos do plasma sanguíneo de cavalos
    Foto: Instituto Butantan/Divulgação

    Soro x vacina 

    Enquanto o soro é usado para tratar doenças, a vacina evita o surgimento delas. Na prática, o soro oferece ao paciente infectado um anticorpo pronto, que é capaz de reconhecer e bloquear a propagação do vírus. 

    A vacina, por sua vez, é profilática. Ou seja, o vírus é injetado no organismo e o sistema imunológico gera o anticorpo. Assim, em caso de contato com a Covid-19, o organismo estará pronto para a defesa. 

    Dossiê 

    Segundo a Anvisa, o Butantan enviou o pedido de autorização para o Dossiê de Desenvolvimento Clínico de Medicamento (DDCM). Porém, segundo a agência, o instituto ainda não apresentou o Dossiê Específico de Ensaio Clínico (DEEC) com o protocolo do estudo a ser realizado. 

    De acordo com a agência reguladora, o DEEC é um dos documentos obrigatórios para a análise do DDCM e o principal documento para avaliação de um pedido de pesquisa clínica de medicamentos com seres humanos. 

    Em nota, o Butantan informou que irá encaminhar o documento até a próxima semana. 

    Rio de Janeiro 

    O Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro, desenvolve outro soro semelhante, que também poderá ser utilizado no tratamento da Covid-19.

    Segundo a instituição, o produto está em fase avançada de produção e a expectativa é que o pedido para testes em humanos seja apresentado à Anvisa ainda neste mês. 

    “A perspectiva é que o soro seja usado para tratamento da Covid no país ainda em 2021. Temos capacidade de produzir 300 mil ampolas por ano. Porém, como é uma doença nova, não sabemos como vai ser a cobertura vacinal, quantas pessoas vão ficar doente após receber a vacina. Então, não podemos afirmar com certeza quantas ampolas o Brasil vai precisar. Estamos acompanhando as respostas e daqui a seis ou oito meses esperamos ter uma noção melhor”, afirmou Átila Castro, presidente do instituto.

    A principal diferença entre os soros do Vital Brazil e do Butantan é a forma de fabricação. O instituto carioca utiliza a proteína S recombinante do novo coronavírus para criar os anticorpos nos cavalos. O paulista, por sua vez, usa o vírus inativo. 

    Além do Brasil, outros países também realizam pesquisas sobre o soro. Na Argentina, por exemplo, o estudo está avançado e o uso emergencial foi liberado em 10 de janeiro.

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