Brasil precisa desenvolver vacina para população ter acesso, diz médico
Para Jorge Kalil, diretor do laboratório de imunologia do Incor, anúncio da vacina para a Covid-19 da farmacêutica Moderna animou mais o mercado financeiro
Em entrevista à CNN nesta terça-feira (19), o médico Jorge Kalil, diretor do laboratório de imunologia do Instituto do Coração (Incor), afirmou ser importantíssimo que o Brasil desenvolva uma vacina contra o novo coronavírus, pois se for produzida no exterior, a população brasileira terá que esperar para ter acesso.
“Vai demorar muito que ela [a vacina] seja produzida em larga escala. [Será] distribuída para países mais importantes do ponto de vista diplomático e depois, quem sabe, vem para o Brasil. Não acredito que tenhamos uma vacina antes da metade do ano que vem para começar a ser produzida massivamente”, disse.
Na segunda-feira (18), uma vacina experimental para a Covid-19 da farmacêutica Moderna demonstrou resultados promissores nos testes preliminares, feitos em oito voluntários nos Estados Unidos. Os voluntários criaram anticorpos equivalentes aos de uma pessoa que foi infectada e se recuperou.
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A notícia é boa, mas, para Kalil, “animou mais o mercado financeiro do que o científico”.
“Sem dúvida é interessante o resultado que eles trazem, mas são apenas oito pessoas. Temos que esperar mais gente. (…) São dados muito preliminares, são interessantes e espero que avance rapidamente, mas acho que existe um interesse claro financeiro para levantar um pouco o preço das ações. E eles querem ter dinheiro para continuar as pesquisas sem que tenha outro tipo de financiamento”, avaliou.
Medicamentos
Até que a vacina esteja disponível, cientistas também estudam medicamentos para o tratamento da doença.
Segundo Kalil, a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) analisou todos os dados da literatura e chegou à conclusão de que, por enquanto, não há nenhuma informação que os médicos devem utilizar qualquer medicação de maneira generalizada.
“Estamos esperando dados científicos para que possamos efetivamente indicar [um remédio]. Essa é a opinião de quase todos os médicos que têm uma visão científica”, afirmou.
No início deste mês, a Food and Drug Administration (FDA), agência federal norte-americana de controle de alimentos e medicamentos, emitiu uma autorização para o uso do remdesivir no tratamento de pacientes hospitalizados em estado grave devido ao novo coronavírus.
Para Kalil, o medicamento ainda não é a solução para o problema. “Ele apresenta algumas melhoras, mas são pequenas. Talvez com o tempo serão testados coquetéis de vários medicamentos e nós tenhamos um resultado melhor”, disse.
“Se o governo quer fazer isso [dar remédio para todos os pacientes com o novo coronavírus], seria interessante que propusesse um estudo científico e nós tivéssemos dados depois da utilização. Isso porque poderíamos contribuir para o mundo todo. O mundo todo quer o medicamento contra o vírus”, complementou.