Adesão à vacina contra poliomielite cai mais de 30% em cinco anos no estado do Rio
No Dia Mundial de Combate a Pólio, celebrado em 24 de outubro, especialistas alertam que doença pode retornar ao Brasil, mesmo tendo sido erradicada há 31 anos
No dia Mundial de Combate à Poliomielite, celebrado neste domingo (24), chama atenção a baixa adesão à campanha de vacinação contra a doença conhecida como paralisia infantil. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a cobertura vacinal de crianças de até dois anos de idade despencou mais de 30% em cinco anos.
A imunização nessa faixa etária estava em 88,76% em 2017. Já em 2020, somente 55,20% dos bebês foram vacinados contra o poliovírus, que pode levar à morte. As etapas seguintes de proteção revelam uma realidade ainda mais preocupante, já que a dose de reforço foi aplicada em apenas 49,58% das crianças.
Como a CNN mostrou esta semana, o problema é nacional. Somente 60% das crianças brasileiras de cinco anos, que são o público-alvo para a campanha, receberam a dose da vacina. O índice está 35% inferior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
À CNN, a pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, explica que a baixa adesão à campanha vacinal não está somente ligada à pandemia, que prejudicou a ida aos postos de vacinação, mas também à negligência em relação à enfermidade.
“As pessoas não acreditam mais no risco da doença. Essa é a única explicação plausível para a baixa cobertura. A VIP (Vacina Inativada Poliomielite) não é vítima de fake news, não é muito falada. Há um relaxamento claro dos brasileiros em relação a vacinação em geral. Para muitos, a vacina deixou de ser prioridade, o que é grave. Hoje a gente tem muita preocupação e o risco de a doença voltar não é baixo”, afirma a especialista.
Apesar de a poliomielite ter sido erradicada no Brasil em 1990, o pediatra e sanitarista Daniel Becker alerta que, se a população continuar sem comparecer aos postos de saúde, casos da doença podem retornar ao território brasileiro. Becker destaca, ainda, a desigualdade social, que faz com que os mais pobres sejam os mais afetados pela doença contagiosa.
“Sempre existe o risco de a doença ressurgir, se não houver uma cobertura vacinal adequada. Imagina a pólio, uma doença mortal e incapacitante, de transmissão fecal oral, portanto, facilitada pelas más condições de saneamento básico, que atingem mais de metade da nossa população, se disseminar num Brasil cada vez mais miserável? É uma tragédia de proporções catastróficas, e claro, sempre em cima dos mais pobres”, ressalta Becker.
O vírus da pólio pode infectar tanto adultos quanto crianças por meio do contato com fezes ou secreções eliminadas pela boca de pessoas contaminadas.
A maioria das infecções não resulta em sintomas, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS no continente. Entre 5% e 10% dos contaminados podem apresentar quadro semelhante ao provocado por uma gripe comum. No entanto, a doença pode se agravar e causar paralisias musculares, sendo os membros inferiores os mais afetados.
De acordo com o Ministério da Saúde, o último caso de infecção ocorreu em 1989, na Paraíba. A doença segue endêmica no Afeganistão, Paquistão e Nigéria.
O alerta mundial em relação à reintrodução da pólio já foi dado pela agência da Organização das Nações Unidas para a Saúde, após o número de infectados ter crescido nos últimos três anos.
Até o fim de outubro, na campanha nacional de multivacinação, podem se vacinar contra a pólio crianças de até cinco anos, além de viajantes adolescentes e adultos com destino a países onde a doença é endêmica ou onde há risco de transmissão e registro de casos.
Outras doenças
O cenário preocupante de baixa adesão não está restrito à poliomielite. A maior parte das vacinas no calendário infantil foi reduzida para índices entre 70% e 80% de cobertura, segundo dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Questionado pela CNN, o Ministério da Saúde afirmou que desenvolve estratégias necessárias relacionas a imunização das crianças. A pasta destaca que a iniciativa ocorre ao longo de todo o ano, não apenas durante as campanhas, reforçando a informação sobre a segurança e a efetividade das vacinas como medida de saúde pública.
Esta é a última semana para crianças e adolescentes de até 15 anos se vacinarem na campanha de multivacinação, realizada em todos os estados brasileiros.
Entre as vacinas disponíveis nos postos na campanha estão: BCG, Hepatites A e B, Penta (DTP/Hib/Hep B), Pneumocócica 10 valente, VIP (Vacina Inativada Poliomielite), VRH (Vacina Rotavírus Humano), Meningocócica C (conjugada), VOP (Vacina Oral Poliomielite), Febre amarela, Tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba), DTP (tríplice bacteriana), Varicela e HPV quadrivalente (Papilomavírus Humano), dTpa (para gestantes adolescentes), Meningocócica ACWY (conjugada) e dT (difteria e tétano).