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    Aceleração do desmatamento deixa o Brasil propício para uma nova pandemia, dizem especialistas

    País abriga o terceiro maior número de espécies de morcegos do mundo, que podem ser hospedeiros de agentes causadores de doenças

    Da Reuters

    Cientistas veem o Brasil como provável berço de uma futura pandemia. A rápida destruição da floresta tropical deixou 1,5 milhão de quilômetros quadrados de terra prontos para um microrganismo transmitido por morcegos infectar humanos.

    Nas profundezas da floresta amazônica, cientistas dizem que a próxima pandemia do mundo pode começar em uma caverna. No Pará, a caverna Planaltina, que se estende por mais de 1,5 quilômetro de profundidade, é o lar de milhares de morcegos.

    Muitas outras cavernas como essa existem em toda a Amazônia. Inúmeros habitats – e espécies de morcegos nativos deles – permanecem completamente não estudados ou descobertos.

    O próprio Brasil abriga o terceiro maior número de espécies de morcegos do mundo. Alguns dos vírus mais devastadores do mundo surgiram de morcegos. Cientistas estão estudando como e por quê, na esperança de prevenir futuras pandemias como a Covid-19.

    Mas com financiamento limitado, nove cientistas entrevistados pela reportagem dizem que não esperam desvendar esses mistérios patogênicos tão cedo. Além disso, afirmam que a humanidade teve sorte de evitar um grande surto viral da região até agora.

    “Se você não fizer isso agora, pode haver outros surtos no futuro e acabar na situação que estamos hoje de não saber de onde vem esse surto, de onde vem o SARS-CoV-2. E isso é um grande problema, porque se não soubermos identificar o caminho que esse vírus percorreu, a questão evolutiva e como chegou ao homem, não podemos combatê-lo”, afirma Sebastien Charneau, professor do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB).

    O Brasil tem mais terra do que qualquer outro país onde as condições são propícias para que um vírus se espalhe de morcegos para humanos – áreas denominadas “zonas de salto”.

    Uma análise da Reuters descobriu que as zonas de salto brasileiras cresceram mais de 40% nas últimas duas décadas. Isso é 2,5 vezes mais rápido do que áreas de risco semelhantes em todo o mundo. Impulsionando o risco está o rápido desmatamento da região amazônica.

    Cientistas dizem que a prática causa estresse em morcegos. Estudos apontam que, quando estressados, eles podem carregar mais vírus e liberar mais germes em sua saliva, urina e fezes.

    “É muito triste saber que temos um grande potencial para descobrir e prevenir novas epidemias, novas pandemias, e isso não está sendo levado em conta, ninguém está pensando nisso. Pelo contrário, estamos tendo neste momento um investimento muito grande no desmantelamento do ambiente”, diz Ludmilla Aguiar, bióloga da UnB.

    A destruição do habitat dos morcegos disparou durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A administração reverteu regulamentações ambientais e cortou o financiamento para pesquisas científicas. Sob seu comando, o sistema de saúde do Brasil estremeceu diante da Covid-19.

    Bolsonaro deixou a presidência em janeiro de 2023. Seu advogado disse que o ex-presidente se recusou a comentar.

    Brasil tem condições propícias para que um vírus se espalhe de morcegos para humanos, dizem especialistas / Getty Images/Johner RF

    Cientistas e especialistas em saúde alertam que o país ainda está mal equipado para detectar um agente causador de doenças perigoso – apesar das chances de um novo vírus emergir da região serem altas.

    O sucessor de Bolsonaro – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – prometeu eliminar o desmatamento no Brasil até 2030. Mas isso exigiria que ele reformulasse a lei brasileira – e legisladores poderosos aliados ao lobby agrícola do Brasil não facilitarão seus esforços.

    Um representante agrícola disse à reportagem que o grupo apoia seus esforços para deter o desmatamento ilegal, mas que o desmatamento legal é necessário para garantir a segurança alimentar e energética.

    O Ministério da Saúde disse que monitora diariamente o risco de transmissão zoonótica por meio de várias redes e programas e está estudando formas de melhorar a vigilância.

    Enquanto isso, o desmatamento continua em ritmo constante. Cada nova incursão oferece mais uma oportunidade para um novo e mortal agente causador de doença emergir e se espalhar para o resto do Brasil e para o mundo.

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