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    A temperatura corporal normal é 37º C? Talvez não. E veja por que isso importa

    Fatores pessoais, ambientais e médicos influenciam a temperatura corporal e ajudam a determinar se alguém está ou não com febre

    Kristen Rogers, da CNN

    Como um dos sintomas comuns da Covid-19 é a febre, algumas pessoas mais preocupadas podem estar medindo suas temperaturas com mais frequência nos dias de hoje. Só que uma pessoa que entra em pânico quando o termômetro emite um bipe e indica 0,1 grau acima de 37 graus Celsius pode estar se preocupando sem motivos, dizem os especialistas.

    Qualquer medição acima de 37º C pode parecer preocupante, mas não é tão simples assim. Existem muitos fatores pessoais, ambientais e médicos que influenciam a temperatura corporal e determinam se alguém está com febre.

    O conceito de temperatura corporal padrão é geralmente creditado ao médico alemão Carl Wunderlich, que, em meados de 1800, analisou mais de 1 milhão de temperaturas axilares de cerca de 25 mil pacientes. A partir dessas leituras, ele obteve a média de 37º C, e seu padrão tem prevalecido desde então – pelo menos na mente de muitos que não são médicos.

    “Curiosamente, eu diria que há muitas pessoas que podem não estar cientes de que a temperatura normal é uma faixa, não um número fixo”, comentou o doutor Donald Ford, médico de medicina da família na Clínica Cleveland em Ohio, por e-mail. “Grandes estudos mais recentes mostram temperaturas normais variando de 36,1 a 37,2 graus, e muitos indivíduos podem ficar fora dessa faixa e estar perfeitamente bem”.

    Pode-se saber quais os níveis normais de pressão arterial, frequência cardíaca ou de glicose no sangue, “mas poucas pessoas neste mundo sabem qual é sua temperatura corporal normal ou o quanto ela varia normalmente”, disse o doutor Waleed Javaid, diretor de controle e prevenção de infecções no hospital Mount Sinai Downtown, no estado de Nova York.

    “Devemos começar a pensar sobre a temperatura corporal normal: o que é, o que significa para mim e assim por diante”.

    Como a temporada de gripe nos Estados Unidos coincide com o aumento dos casos de Covid-19, é importante entender o que realmente é febre e qual a sua faixa de temperatura individual. Continue lendo para entender quais são os fatores de influência e como medir com precisão sua temperatura.

    O que realmente é febre e por que ela acontece

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    Passageiro chega a aeroporto internacional do Galeão no Rio de Janeiro
    Foto: Ricardo Moraes.25.mar.2020/ Reuters

    O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos considera que uma pessoa tem febre quando sua temperatura é de 38º C ou mais. Pessoas que se sentem quentes ou possuem um histórico febril também podem apresentar febre.

    Quando um patógeno “entra em nosso corpo, ele o reconhece e produz uma reação com anticorpos e outras respostas”, disse Javaid. “Esses anticorpos fazem com que outras células de nosso corpo liberem alguns elementos químicos”, que entram em nosso cérebro e mudam nosso ponto de ajuste de temperatura.

    “Na maioria das vezes, quando há uma infecção esse ponto de ajuste aumenta um pouco”, acrescentou. “Os tremores fazem com que nosso corpo metabolize mais excessivamente”, o que resulta em febre.

    Como saber a sua variação

    A temperatura corporal tende a ser mais baixa pela manhã, mas aumenta um ou dois graus ao fim do dia. Para algumas pessoas, as febres causadas pela Covid-19 tendem a aumentar à noite, assim como nossas temperaturas normalmente flutuam. Como podemos então distinguir esse padrão natural dos sintomas de Covid-19?

    A febre causada pela Covid-19 “vai continuar alta, não desaparece”, disse Javaid. “Febre e flutuação da temperatura corporal são coisas completamente diferentes. Normalmente, não sentimos nenhuma diferença entre nossa temperatura mais alta e mais baixa”.

    Além disso, as febres são acompanhadas por outros sintomas, incluindo tremores.

    É possível saber qual sua faixa de temperatura basal verificando-a três vezes ao dia, em horários fáceis de se lembrar, como pela manhã, ao meio-dia e à noite. Ao longo de várias semanas, registre esses resultados. Ao final do experimento, é possível calcular a média de seus dados e saber o que é normal para você em diferentes momentos do dia. Caso consulte seu médico com frequência, pergunte a ele qual sua temperatura média.

    “Quando conhecemos nossa temperatura corporal, se ela variar podemos dizer com segurança que, ‘esta é uma temperatura persistentemente alta'”, disse Javaid. “É como dizer, ‘Tenho pressão alta continuamente’. Isso precisa ser tratado”.

    Outros fatores podem influenciar a temperatura. Medicamentos como paracetamol e ibuprofeno são comumente tomados para dor, mas também reduzem a febre. Os antiinflamatórios (como os usados com frequência em casos de câncer, artrite reumatoide e lúpus) também podem afetar a temperatura.

    As pessoas deveriam ler as “bulas dos medicamentos ou procurar online por sites confiáveis sobre o medicamento que estão tomando e ver como isso afeta a temperatura”, explicou Javaid.

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    Os termômetros e métodos mais eficazes

    Termômetros hospitalares ou aqueles fabricados por empresas conceituadas, como drogarias, são os melhores, disse Javaid. Avalie a precisão medindo sua temperatura por três vezes consecutivas, com intervalos de 10 minutos. Se os resultados variarem um grau ou mais e você ainda se sentir da mesma maneira, provavelmente precisará de um instrumento melhor.

    As temperaturas podem ser medidas na pele, boca, reto, axila ou ouvido. “Termômetros de pele ou de ouvido são fáceis de usar, mas podem ser menos precisos do que termômetros orais ou retais”, disse Ford. “As medições nas axilas (também chamadas axilares) estão em uma posição intermediária. A diferença é que a febre é definida como uma elevação da temperatura corporal central, e as membranas da pele e dos ouvidos podem estar mais sujeitas a temperaturas externas ou exercícios, podendo não refletir a temperatura central”.

    A precisão também pode depender do ambiente. Javaid explica: “Se eu acabasse de sair de um ambiente muito frio, minha testa, orelhas e tudo mais estariam com uma temperatura muito baixa nos próximos 30 ou 40 minutos, e assim eu deveria esperar uma ou duas horas antes de medir minha temperatura na testa”.

    “Sempre se pode verificar a temperatura oral ou colocar o termômetro na boca. Isso geralmente dá uma ideia muito boa”, continuou.

    Embora a avaliação da temperatura seja o método mais preciso para confirmar a febre, medir a temperatura nem sempre é possível se não houver termômetros disponíveis. Além disso, se a pessoa doente tomou algum medicamento, isso poderia baixar a medida. Nesses casos, pode-se detectar a febre pelo surgimento de sintomas como rosto avermelhado, olhos vidrados ou calafrios.

    Como medir sua temperatura com precisão

    Além do clima extremo, consumir “comidas ou bebidas muito quentes ou muito frias minutos antes de aferir a temperatura oral pode causar confusão”, detalhou Ford. Espere de 30 a 40 minutos antes de medir sua temperatura.

    Se sua leitura estiver um ou dois graus acima do normal e você não tiver outros sintomas, monitore sua temperatura no dia seguinte, disse Javaid. “Se não houver mais nada acontecendo, geralmente a temperatura voltará ao normal de um dia para outro”. Se isso não acontecer, você deve se preocupar e fazer o teste para o coronavírus, especialmente se começar a sentir outros sintomas, como tosse, falta de ar, fadiga ou perda do paladar ou do olfato.

    A menos que não indicado por seu médico, tomar paracetamol ou ibuprofeno pode aliviar a febre, cujos efeitos podem ser prejudiciais “em termos de desidratação e exaustão”, explicou Ford. “É importante ingerir o máximo de líquidos possível, porque isso ajuda nosso corpo a eliminar infecções”.

    A frequência com que devemos verificar nossa temperatura depende de alguns fatores, comentou Javaid. “Um dos fatores é seu tipo de trabalho ou a localidade em que está”, disse ele. “Por exemplo, para alguns profissionais de saúde, aconselhamos checar a temperatura diariamente”.

    Para pessoas que não estão seguindo as orientações, sentir-se mal ou mais quente que o normal sem saber o motivo ou a exposição a alguém com Covid-19 são outros bons motivos para medir a temperatura.

    “Se uma pessoa está se sentindo bem, não há necessidade de verificar as temperaturas diárias sem ser em testes clínicos”, acrescentou Ford.

    Embora sua temperatura corporal possa ser um indicador da febre causada pela Covid-19, a febre em si não é o único fator importante para avaliar se você está com a infecção. Muitas pessoas com Covid-19 não apresentam quaisquer sintomas, e algumas podem ter tosse ou dificuldade para respirar, mas não apresentam febre.

    “Isso pode variar de pessoa para pessoa”, disse Javaid. “Medir sua temperatura toda semana apenas para ver se você tem Covid-19 provavelmente não é a melhor maneira de fazer isso”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

     

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