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    19 instituições e órgãos de saúde do Rio devolveram 45% da cloroquina recebida

    Os medicamentos foram enviados para os 92 municípios do estado do Rio, entre 15 de abril e 2 de dezembro do ano passado

    José Brito, Stéfano Salles e Vital Neto, da CNN no Rio e em São Paulo

    No ano de 2020, 19 unidades de saúde de municípios do Rio de Janeiro devolveram 19 mil comprimidos de cloroquina 150 mg enviados pelo governo federal ao estado. O total corresponde a 45% dos 42 mil comprimidos recebidos pelas unidades.

    Os dados foram extraídos de uma comunicação oficial entre a Superintendência de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (Supafie) e a Ouvidoria e Transparência Geral, dois órgãos da estrutura da Secretaria de Estado de Saúde (SES).

    Os medicamentos foram enviados para os 92 municípios do estado, entre 15 de abril e 2 de dezembro do ano passado. A remessa foi feita com base em uma nota informativa do Ministério da Saúde que recomendava o uso de cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19. 

    Dos 19 entes governamentais citados no documento, o que mais comprimidos devolveu foi a Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias, município de Baixada Fluminense, que dispensou dois mil dos 2,5 mil recebidos. A recusa inclui quatro hospitais da rede estadual, Alberto Torres, em São Gonçalo, Instituto Ary Parreiras, em Niterói, Carlos Chagas e Getúlio Vargas, na capital.  Há também quatro Unidades de Pronto Atendimento, todas estaduais, sediadas na capital: Botafogo, na Zona Sul, Bangu e Jacarepaguá, Zona Oeste, e Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte, além do Hospital Central da Polícia Militar, no Centro.  

    Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, Alberto Chebabo explica que os remédios foram devolvidos por falta de eficácia no enfrentamento ao novo coronavírus. 

    “Eles se mostraram ineficazes para a Covid-19. Todas as sociedades médicas do Brasil e do mundo, a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos o rejeitam para essa finalidade, porque não tem eficácia comprovada. Mesmo na França, onde surgiu a proposta de uso da cloroquina para Covid-19, seu uso para esse fim já está proibido. Todo medicamento envolve um risco. E esse não tem qualquer vantagem para o tratamento da doença. Então, ingeri-lo é assumir um risco que não se justifica”, afirma o infectologista. 

    Percentualmente, as unidades que mais devolveram comprimidos de cloroquina foram o Instituto Estadual Ary Parreira, em Niterói, Região Metropolitana, e duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs): a de Jacarepaguá de Ricardo de Albuquerque. Elas retiveram com apenas 15% do total recebido.

    Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (SinMed/RJ), Alexandre Telles entende que a decisão do Ministério da Saúde configura um desperdício de recursos públicos, que poderiam ser mais bem utilizados em outras frentes do combate à pandemia. 

    “Mais do que esse remédio não ter eficácia comprovada, está comprovado que ele não funciona. Não deveria sequer ter sido enviado, vende uma sensação de segurança que não existe, e agora tem sido oferecido por meio de nebulização. Se por via oral é errado, por via respiratória é pior ainda. O volume de recursos empregados para esse fim deveria ter sido utilizado na compra e distribuição de máscaras, medicamentos do kit intubação e respiradores. São problemas que se repetem desde outras fases da pandemia”, avalia. 

    Procurada pela CNN, a Prefeitura de Duque de Caxias confirmou ter recolhido dois mil comprimidos de cloroquina e ter efetuado a devolução do lote no dia três de novembro do ano passado. Por meio de nota, justificou que  a devolução ocorreu “por não haver necessidade de manter esse quantitativo em estoque, em função do município contar com um volume suficiente do medicamento, capaz de atender as necessidades da rede de saúde municipal”.

    A reportagem também buscou contato com a Secretaria de Estado de Saúde e o Ministério da Saúde, mas os órgãos não se manifestaram até o momento. O mesmo acontece com a Polícia Militar, responsável pelo Hospital Central, que está fora da estrutura de administração da saúde fluminense.

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