Witzel não é o primeiro político a ter que sair do Laranjeiras
Em 1964, o então presidente João Goulart estava no palácio quando soube soube das primeiras movimentações de militares que resultaram no golpe que o derrubou
Wilson Witzel (PSC) não é o primeiro governante a ser despejado do Palácio Laranjeiras por conta da mudança dos ventos políticos. Em 31 de março de 1964, o presidente João Goulart estava no Laranjeiras — que então pertencia ao governo federal — quando soube das primeiras movimentações de militares que resultariam no golpe que o derrubaria. Outros ex-moradores do palácio que domina uma colina de Laranjeiras, na zona sul do Rio, também passaram por muitos problemas.
As desventuras associadas ao Laranjeiras começam com seu construtor e proprietário, o milionário Eduardo Guinle, que, em 1913, terminou a obra de 2.230 metros quadrados endividado até com sua mãe, Guilhermina Guinle. No livro ‘Os Guinle – A história de uma dinastia’, o historiador Clóvis Bulcão contra que um dos credores de Eduardo, um marceneiro, invadiu a residência e chegou a agredir o devedor.
Em 1947, seis anos depois da morte de Eduardo, sua viúva vendeu o Laranjeiras para o governo federal, então sediado no Rio. O Laranjeiras passou a servir de local de hospedagem para visitantes ilustres, como o presidente norte-americano Harry Truman. Em 1957, o presidente Juscelino Kubistchek decide morar no palácio — a exemplo de Goulart, ele também seria perseguido pelos militares e teria seus direitos políticos suspensos em 1964.
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Em 1968, foi no Laranjeiras que o presidente Costa e Silva assinou o Ato Institucional número 5, o AI-5, que implantou de vez a ditadura. No ano seguinte, vítima de um AVC, Costa e Silva morreria no próprio palácio. Ele foi velado no Laranjeiras, assim como Ernesto Geisel, outro presidente do período ditatorial.
O palácio foi doado ao governo do Rio de Janeiro em 1974, e passou a ser a residência oficial dos governadores fluminenses. Entre os que moraram lá, quatro passariam pela prisão: Moreira Franco, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Pezão – este último foi preso no próprio palácio. Condenado a penas que somam mais de 200 anos, Sérgio Cabral não chegou a morar no Laranjeiras, mas usava o palácio com frequência para eventos políticos e sociais.
Em nota divulgada nesta segunda (9), o governador afastado e, agora despejado, afirmou que foi morar no Laranjeiras por questões de segurança e que, por ele, não teria saído de sua casa no Grajaú, na zona norte. Mas, em meados de 2018, quando ainda ocupava as últimas colocações nas pesquisas eleitorais, o então candidato esteve com Pezão e pediu para conhecer o Laranjeiras que, segundo ele, seria sua futura casa.
Pezão, então, o convidou para jantar no palácio, todo construído com material importado, como mármores de Carrara, granito rosa da Hungria e obras de arte como dois quadros do pintor holandês Frans Post.