Witzel dava ordens diretas para que licitações fossem fraudadas, diz delator
Segundo EdmarSantos, foi o próprio governador que o ordenou a direcionar a licitação para uma organização social que já estava gerindo o Hospital Zilda Arns
O ex-secretário de Saúde do Rio Edmar Santos narrou aos investigadores que o governador Wilson Witzel dava ordens diretas para fraudar licitações e garantir que o suposto esquema de corrupção seguisse em andamento. Essas fraudes teriam como contrapartida o pagamento de propina ao grupo liderado por Witzel.
Santos firmou uma colaboração premiada e suas declarações ajudaram a sustentar a decisão do Superior Tribunal de Justiça de determinar o afastamento de Witzel do cargo por 180 dias.
Segundo Santos, foi o próprio governador que o ordenou a direcionar a licitação para uma organização social que já estava gerindo o Hospital Zilda Arns, em Volta Redonda. A orientação teria sido dada pelo governador a Santos em reunião no Palácio Guanabara em março de 2020.
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O mesmo aconteceu no caso do contrato de gestão do Hospital Dona Lindu, em Paraíba do Sul, de acordo com a delação. Santos afirmou que foi também Witzel que lhe deu ordem direta para direcionar o processo de escolha. A vencedora deveria ser a organização social indicada por Gothardo Lopes Netto, aliado do governador.
E assim foi feito, de acordo com relato de Santos. A Associação de Proteção à Maternidade e Infância de Mutuípe venceu o certame, que garantia contrato de R$ 58,5 milhões.
Os investigadores contam que houve questionamentos de concorrentes e o Tribunal de Contas do Estado acabou determinando, em liminar que a contratação não fosse feita. Para o Ministério Público, esses indícios reforçam a narrativa de Edmar Santos.
“Como se vê, nos próprios processos administrativos de seleção e contratação podem ser encontrados diversos indícios a reforçar a narrativa do colaborador de fraude no processo licitatório, por decisão prévia de direcionamento da mencionada licitação, tendo em vista promessa e/ou pagamento de propina à organização criminosa instalada no Governo do Estado do Rio de Janeiro”, diz trecho do documento produzido pelos investigadores e que subsidiou a decisão do Superior Tribunal de Justiça.
Segundo os investigadores, esse é um dos elementos que demonstram a atividade de uma “enorme organização criminosa” que era “liderada pelo próprio governador do estado”. O grupo seria responsável por uma série de delitos, “a maioria em curso” e que resultou em “prejuízo gigantesco” aos cofres do estado.