Wassef foi chamado para esquema por “ter talento para lidar com a polícia”
No depoimento, registrado na denúncia, foi dito que Wassef foi indicado para o serviço por ter “um talento incrível para lidar com escrivães de polícia"
O Ministério Público Federal apresentou nesta sexta-feira (25) denúncia contra o advogado Frederick Wassef e outras quatro pessoas, acusados de desvio de recurso público e lavagem de dinheiro. Segundo os procuradores, o grupo teria desviado ao menos R$ 4,6 milhões das estruturas do SESC, Senac e da Fecomércio do Rio de Janeiro. A apuração é da âncora da CNN Daniela Lima.
A denúncia aponta para uma atuação de Wassef, que extrapola o figurino do lobby advocatício. Em um trecho, um dos depoentes afirma que Orlando Diniz, o ex-presidente da Fecomércio do Rio e cabeça da operação, tinha a real intenção de firmar contratos com o escritório que repassava serviços a Wasseff, para criminalizar as condutas da ex-mulher, Daniele Paraíso, e influenciar, por exemplo, a disputa pela guarda da filha do casal.
Segundo essa testemunha, Diniz contratou Wassef para defendê-lo em processos contra a ex-esposa e outras pessoas que o ex-presidente da Fecomércio-RJ “imaginava estarem conspirando contra ele”.
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No depoimento registrado na denúncia, foi dito que Wassef era indicado para o serviço por ter “um talento incrível para lidar com escrivães de polícia.”
Essa denúncia é um desdobramento da operação E$quema S, que apura um amplo esquema de desvio de dinheiro a partir da delação do ex-presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz.
Estão na mira da investigação, a destinação de mais de R$ 300 milhões a escritórios de advocacia, com o objetivo de barrar investigações na justiça e na imprensa.
Além de Wassef e Diniz, os procuradores denunciaram nesta sexta-feira (25) as advogadas Luiza Eluf, Márcia Carina Zampiron e o empresário Marcelo Cazzo, suspeito de ser um dos mentores do esquema.
Outro lado
Frederick Wassef afirmou que não ter e nunca ter tido qualquer relação comercial com a Fecomercio-RJ, não foi contratado, nunca recebeu da entidade e nunca negociou com a federação. Diz que a denúncia é inepta, não descreve qualquer conduta ou crime praticado por ele, criminaliza a advocacia e causa danos à sua imagem. “Nunca em minha vida respondi a qualquer processo ou fui investigado, sempre tive um nome limpo e sequer em 28 anos de advocacia tive uma única representação em meu desfavor perante a Ordem dos Advogados do Brasil”, disse, em nota.
“Fui contratado e prestei serviços advocatícios a um renomado escritório de advocacia criminal de São Paulo, em que a dona é uma famosa procuradora do Ministério Público de São Paulo, conhecida por ter dedicado toda sua vida e carreira a instituição Ministério Público e o combate ao crime, tratando-se de pessoa pública, íntegra, proba e de idoneidade inquestionável. Os serviços advocatícios foram devidamente prestados, os honorários foram declarados à receita federal e os impostos pagos”.
Ele acrescenta que após dois anos de investigação sobre a Fecomércio jamais foi intimado ou convocado a prestar esclarecimento. “Após dois anos de investigação da Fecomercio, jamais fui intimado ou convocado por qualquer autoridade a prestar qualquer esclarecimento. Desde o início da referida operação “esquema” não fui investigado e ao final não fui denunciado, pois sempre souberam que jamais participei de qualquer esquema”, diz, em nota. “Estranhamente após a denúncia de todos os advogados citados na referida operação sofri uma busca e apreensão em que nada foi apreendido por não terem encontrado qualquer irregularidade e mais estranhamente ainda resolveram oferecer uma denúncia relâmpago, isolada, baseada em absolutamente nada contra minha pessoa”, prossegue.
Procurada, Luiza Eluf manifestou-se por meio de nota. “A advogada Luiza Eluf recebeu com absoluta perplexidade a notícia do oferecimento da denúncia. Ela sempre trabalhou de forma correta e transparente, com atuação rígida nos termos da Lei. Repentinamente, é surpreendida com uma perseguição desvinculada da realidade. A defesa já havia feito contato com o Ministério Público Federal e solicitado que ela fosse ouvida presencialmente e aguardava que a data fosse marcada. As advogadas Izabella Borges e Maíra Fernandes, que defendem Luiza Eluf, acreditam que a Justiça do espetáculo pode causar infinitos danos ao país! Luiza Eluf reforça que não praticou crime algum, que o serviço foi prestado conforme contrato, as notas emitidas, os tributos recolhidos, e sua inocência será comprovada.”
Márcia Zampiron enviou a seguinte nota: “Tenho a esclarecer que: 1- Contratada por renomado escritório paulista para prestar serviços profissionais junto à Fecomércio/RJ, na condição de advogada, afirmo que prestei regularmente esses serviços durante vários meses, tendo recebido a remuneração devida pelos serviços executados. 2- Lamentavelmente, apesar de ter dirigido pedido ao Juiz da 7ª. Vara Criminal Federal, ao MPF e a PF de que poderia prestar depoimento, apresentar documentos que comprovam a minha prestação de serviços, indicar testemunhas e apresentar ainda toda a minha movimentação bancária que comprovam que não repassei a nenhum terceiro, indevida ou simuladamente, os pagamentos que recebi da FECOMÉRCIO, não me foi dada a oportunidade de prestar estes esclarecimentos antes da proposta de abertura da Ação Penal. 3- Apesar de me considerar injustiçada profundamente e atingida na minha dignidade profissional, confio na Justiça do Brasil e, por isso, tenho absoluta certeza de que será, ao final, reconhecida a minha inocência.”
O advogado de Marcelo Cazzo afirmou que a denúncia é descabida. “A defesa enfatiza que Marcelo Cazzo sempre esteve à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos, jamais praticou qualquer ilegalidade e fará prova da sua inocência durante a tramitação do processo”, disse Conrado Gontijo, em nota.
A defesa de Orlando Diniz informou que só se manifestará nos autos do processo.