Waack: Não se sabe o que Bolsonaro vai fazer; talvez nem ele mesmo saiba
Mas o que o presidente está conseguindo é a formação de uma inédita frente ampla contra si mesmo
O nome de Jair Bolsonaro (PL) não aparece na carta em defesa da democracia, divulgada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), a famosa São Francisco.
Mas é dele que fala esse manifesto em defesa do sistema eleitoral e das regras da nossa democracia.
A carta tem uma expressiva adesão de personalidades dos mais variados segmentos e correntes políticas.
Todos preocupados com as reiteradas ameaças de Bolsonaro ao sistema eleitoral.
A carta se inspira num documento de 1977, também organizado pela Faculdade de Direito da USP.
Naquela ocasião, o texto denunciava a ilegitimidade do regime militar.
O paralelo com Bolsonaro hoje é óbvio.
Ao invés de uma festa cívica, diz o texto, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática.
Perigo que o manifesto atribui aos ataques de Bolsonaro aos outros poderes e à insistência do presidente em desacreditar o sistema eleitoral.
A carta manifesto veio a público no mesmo dia em que o secretário de defesa norte-americano, em visita a Brasília, reiterou o recado de Washington cobrando respeito ao sistema eleitoral brasileiro.
No mesmo dia em que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, avisou que não vai tolerar negacionismo eleitoral nem autoritarismo, numa clara referência a Bolsonaro.
E às vésperas de mais um manifesto, desta vez a cargo de entidades empresariais, cobrando respeito à democracia.
Não se sabe o que Bolsonaro vai fazer.
Talvez nem mesmo ele saiba.
Mas o que está conseguindo é a formação de uma inédita frente ampla contra si mesmo.