TSE barrou candidatura de Silvio Santos à Presidência em 1989
Inicialmente cotado para disputar o cargo pelo PFL (atual DEM), Silvio Santos enfrentou resistência de uma ala do partido e buscou espaço no PMB
“É o 26, é o 26! Com Silvio Santos chegou a nossa vez”. Quem viveu as eleições de 1989 talvez se recorde deste jingle eleitoral e como o apresentador, que sempre foi ligado a figuras políticas, tentou tornar-se uma.
Faltando 15 dias para as primeiras eleições diretas após o processo de redemocratização no Brasil, Silvio Santos deu um passo inusitado até mesmo para ele: anunciou que estava concorrendo à Presidência da República para a sucessão de José Sarney.
Inicialmente cotado para disputar o cargo pelo PFL (atual DEM), Silvio Santos enfrentou resistência de uma ala do partido e buscou espaço no PMB. Presidente da sigla na época, Armando Corrêa era o candidato oficial e já estava até aparecendo na propaganda eleitoral gratuita na televisão, mas cedeu a candidatura para o apresentador.
O pedido de registro para a candidatura da chapa Silvio Santos e Marcondes Gadelha foi feito a apenas 11 dias das eleições. Eram os tempos do voto impresso, e as cédulas eleitorais já estavam prontas com o nome de Corrêa. Para explicar a situação aos eleitores, Silvio gravou em que tentava explicar a situação.
Ao lado de uma cédula gigante, o apresentador narrou aos eleitores como deveriam fazer para votar nele. “No dia das eleições, não haverá Silvio Santos na cédula. Vocês deverão colocar o X e marcar 26. Por favor, não escrevam na cédula porque anularão o voto”, disse. “E podem acreditar: o Silvio Santos vai lutar por vocês, defender os interesses do povo e o desenvolvimento do Brasil. Quem acredita em mim deve votar no 26.”
A candidatura agitou o cenário eleitoral, como lembrou o jornalista Maurício Stycer, no livro “Topa Tudo por Dinheiro”, e desagradou a Roberto Marinho, dono das Organizações Globo (hoje, Grupo Globo), que competia com o SBT pela liderança na televisão aberta.
Nas pesquisas, o comunicador tinha tirado votos dos principais presidenciáveis. Um levantamento da Gallup, de 2 de novembro de 1988, mostrava o apresentador à frente de Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola.
No entanto, a campanha de Silvio durou apenas 23 dias e caiu após 18 pedidos de impugnação da candidatura. Por unanimidade, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) constatou que a sigla não tinha cumprido a Lei Eleitoral.
Em pouco tempo, chegou ao fim a corrida ao Palácio do Planalto para Silvio Santos, que preferiu seguir à frente dos programas de auditório aos domingos e manter as boas relações com quem estivesse no poder.
Office boy de luxo do governo
Foi durante o regime militar que Silvio Santos obteve a primeira concessão de TV. O documento foi assinado por João Baptista Figueiredo, cuja gestão deu início ao quadro A Semana do Presidente, que ia ao ar nos intervalos do Programa Silvio Santos.
Criado pelo dono do SBT, o quadro fazia um resumo elogioso dos feitos do governo federal durante os últimos dias, incluindo parabenizar os presidentes pelo aniversário.
O quadro continuou após a redemocratização e foi encerrado na gestão FHC, mas Silvio chegou a ensaiar a volta de A Semana do Presidente algumas vezes – pelo menos duas no início do governo de Jair Bolsonaro.
Criticado diversas vezes pela iniciativa, o comunicador se defendia dizendo não concordar com apenas criticar os governantes. “Acho que [as críticas] não levam a nada. O público que julgue os governantes”, declarou à revista Veja, em setembro de 1985.
Em 1988, Silvio se descreveu como um “concessionário, um office boy de luxo do governo” ao falar ao jornal Folha de São Paulo. “Faço aquilo que posso para ajudar o país e respeito o presidente, qualquer que seja o regime”, afirmou.
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