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    Sleeping Giants aponta censura de “big techs” a campanhas pró-PL das Fake News

    Trio de fundadores da organização mostra dados que apontam para a redução artificial do alcance de postagens com conteúdo a favor do PL

    John Schnobrich/Unsplash

    Leandro Resendeda CNN

    em São Paulo

    Com três anos de atuação e muito barulho na Internet, o Sleeping Giants Brasil abriu uma nova frente de batalha.

    Além da cruzada contra o financiamento de sites disseminadores de fake news e canais online que espalham mentiras e discurso de ódio, a organização se tornou a principal voz a tentar peitar o lobby de Facebook, Google, Twitter e Telegram contra o projeto de lei 2630, conhecido como PL das Fake News, que regulamenta a atuação dessas e de outras empresas no país.

    Em conversa com a CNN, o trio de fundadores da organização exibiu dados que apontam para a prática de “censura” das plataformas no conteúdo a favor do PL das Fake News, com a redução artificial do alcance de postagens no Twitter e no Instagram.

    Além disso, o Sleeping Giants também contesta um anúncio de impulsionamento pró-projeto barrado pelo Google por supostamente violar as políticas da empresa.

    Procurados pela CNN, o Telegram e o Twitter não responderam. A Meta — que administra o Instagram — informou que “nega a acusação de censura e informa que não há quaisquer restrições à conta”. O Google informou à reportagem que “não comenta casos específicos”.

    Humberto Ribeiro, diretor jurídico do Sleeping Giants, mostra que o alcance das postagens pró-aprovação foi reduzido drasticamente no Twitter após a aprovação do requerimento de urgência do projeto pela Câmara, no dia 25 de abril, até o dia 30, quando surgiram as primeiras denúncias — antes da votação, por exemplo, o SG conseguiu bater quase 200 mil visualizações com uma postagem. Depois, cai para quase 3 mil.

    No Instagram, os dados revelam redução do alcance pela metade: se antes da primeira votação do projeto o alcance era de 47 mil usuários, em média, depois cai para pouco mais de 20 mil.

    No caso do Google, a reclamação é por um anúncio pago pela organização para impulsionar um vídeo sobre o PL 2630 que foi bloqueado por apresentar “conteúdo sensível”.

    Segundo a política da empresa, publicidades que “exibem conteúdo chocante, promovem ódio, intolerância, discriminação ou violência” não podem ser impulsionados.
    No entanto, uso de pontos de exclamação e problemas no espaçamento das palavras também podem ser usados com justificativa para exclusão de conteúdos.

    “Depois da denúncia, a partir do dia 30 de abril, a gente percebeu um retorno do engajamento da audiência, e isso torna evidente que o algoritmo foi modificado pelas plataformas, que estão manipulando o debate público sobre este projeto de lei”, afirmou Leonardo Leal, que fundou o Sleeping Giants ao lado de Mayara Stelle.

    Eles trabalharam de maio a novembro de 2020 no anonimato, pela redução do financiamento de empresas a sites que espalham mentiras, e hoje, embora conhecidos e com um time de dezenas de colaboradores (cuja quantidade não revelam por questões de segurança).

    “Essa é nossa maior campanha e é o maior caso da sociedade. Isso vai impactar muito na vida das pessoas. A regulação das plataformas trata do ódio, da violência. O que é veiculado livremente precisa ter algum zelo”, avalia Mayara Stelle.

    Maiores influenciadores do debate

    Um levantamento do cientista de dados Arcelino Neto mostrou que o Sleeping Giants se tornou, desde a semana passada, o perfil mais ativo e com maior engajamento no Twitter sobre o assunto.

    Do campo pró-regulamentação, só o SG e o influenciador Felipe Neto estão no top10 — o restante é de perfis ligados à direita.

    O destaque nas redes só veio, entretanto, após o projeto de lei ser retirado de pauta na Câmara dos Deputados, no dia 02 de maio.

    Até lá, os contrários ao texto dominaram as discussões sobre o assunto — impulsionados sobretudo por uma mentira espalhada pelo deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) de que seriam proibidas as publicações de determinados versículos da Bíblia caso o projeto fosse aprovado.

    “Ele foi o primeiro divulgador dessa informação, num momento em que a comunicação não estava preparada para ter que lidar com esse projeto a fundo — não havia certeza nem de que ele seria votado nesta semana. A gente precisou virar a chave da comunicação completamente. A direita é mais organizada”, pondera Leonardo Leal.

    Desmonetização

    O grupo calcula ter tirado R$ 80 milhões pagos por anunciantes que financiavam sites e canais do YouTube que espalham mentiras e discurso de ódio.

    Ao todo foram 47 campanhas até esta, considerada o grande desafio do grupo: influenciar e pautar a aprovação de um projeto de lei, nos moldes do que os braços do SG França e dos Estados Unidos fizeram.

    O Sleeping Giants Brasil integra, com 100 organizações, a Sala de Articulação contra a Desinformação (SAD), movimento da sociedade civil que defende o projeto de lei 2630 — que, para eles, não é uma regulação perfeita das plataformas, mas avança numa seara em que o Brasil está bem atrás de outros países do mundo.