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    Sergio Vale: Quarto trimestre promete nível recorde de risco na economia

    Incerteza sobre a inflação de 2023 é crescente, há uma recessão mundial a caminho e temor com a política brasileira

    Caldo indigesto da política pode elevar o valor do dólar
    Caldo indigesto da política pode elevar o valor do dólar Getty Images

    Sergio Vale

    Às vésperas da decisão do Copom sobre a taxa de juros, começam a aparecer dúvidas sobre a necessidade de o Banco Central continuar subindo a Selic ou não. O resultado de agosto ainda deverá ser de alta de 0,5 ponto percentual, e os juros iriam a 13,7%. Mas a partir daí ainda há discussão sobre o precisar ir além disso ou não.

    Grosso modo, a incerteza sobre a inflação de 2023 é crescente. Há uma recessão mundial a caminho e um novo presidente sobre o qual pairam muitas dúvidas sobre como deverá ser encaminhada a política fiscal. Esse cenário de incerteza geral aliado a ajustes que devem acontecer ano que vem jogam a expectativa de inflação para cima.

    Parte do ajuste fiscal, ano que vem, deverá ser feito via tributos, o que significa reverter parte das desonerações feitas este ano. Com isso, o IPCA tende a repercutir parte desse aumento tributário e, por isso, as expectativas de inflação têm subido para o ano que vem. Parte disso vem também da deterioração fiscal que pressiona o câmbio e contamina a inflação do ano que vem.

    Mas uma inflação entre 5% e 6%, que é o que se espera para o ano que vem, colocará dúvidas para o Banco Central sobre até onde chegar com a taxa de juros. O quarto trimestre especialmente promete ser bastante difícil no país.

    De um lado, o governo Bolsonaro segue em escalada autoritária. A reação a isso tem acontecido, como os documentos de reafirmação da democracia que a sociedade civil tem assinado.

    Entretanto, isso não afasta o risco de alguma faísca acontecer e comprometer a economia, como já comentamos no último artigo. A eleição em outubro não aceita em resultado pelo presidente em caso de derrota colocará em atenção como se dará o impacto disso na sociedade. Não tende a ser pacífico como gostaríamos que fosse.

    Por outro lado, na eventual vitória de Lula haverá muita dúvida sobre a condução da política econômica. Desde a quebra da regra do teto até mudanças mais agressivas na política de preços da Petrobras vão colocar o mercado em sinal de alerta sobre a economia em 2023.

    Esse caldo indigesto pode piorar o humor do mercado e piorar a taxa de câmbio, que levaria a mais risco inflacionário ano que vem, colocando o BC numa saia justa de eventualmente ter de subir ainda mais a Selic.

    Assim, olhando de hoje, se não houver nenhum desses sobressaltos, o BC conseguiria controlar a inflação mantendo a Selic em 13,75% por um longo tempo.

    Mas, se os riscos subirem como consideramos nos exemplos acima, o BC pode ter que voltar a pensar em subir a taxa novamente. O que pode ajudar a evitar que isso aconteça é uma forte queda nos preços das commodities com uma recessão mais agressiva no mundo. Não é o cenário básico, mas talvez seria a única solução para uma queda mais forte da inflação em 2023.

    Como se vê, os cenários são pra lá de desafiadores. Se tivemos um começo do ano positivo na economia, o final do ano promete muitos riscos e a necessidade de atenção redobrada.

    De qualquer maneira, causa certo espanto em 2022 termos que defender valores democráticos e econômicos através da responsabilidade fiscal. Assuntos que não deveriam ser mais matéria de discussão voltam a nos assombrar. Não tem como isso não repercutir negativamente na economia enquanto não forem bem equacionados. Até lá, será um final de ano bem tumultuado.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.