Sergio Vale: Bons ventos na economia no curto prazo não são suficientes
Uma vitória larga de Lula traz risco fiscal, mas uma vitória apertada traz riscos de não aceitação dos resultados por parte de Bolsonaro
Com o início da campanha eleitoral, parece ficar claro que a disputa será mais agressiva do que no passado. Como pela primeira vez há riscos concretos de um presidente não se reeleger, a tendência de estresse aumentará, especialmente pelo o que o presidente Jair Bolsonaro tem sinalizado contra as urnas eletrônicas.
A postura da institucionalidade presente na posse de Alexandre de Moraes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dá sinais importantes e contundentes de que aventuras autoritárias não vão prosperar. Mas contar com o entendimento do outro lado são outros quinhentos.
É muito provável que Bolsonaro siga sua cruzada antieleitoral e enfrentemos dificuldades crescentes na economia no quarto trimestre. Mas o quarto trimestre já discutimos em artigo anterior e vale olhar um pouco os próximos meses até a eleição.
O governo tem tentado de tudo para entregar números que convençam a sociedade de que seu mandato merece uma segunda chance. Corte nos impostos e Auxílio Brasil são os dois carros-chefes com esse objetivo. O primeiro mais atento à classe média, mais vocal. O segundo, com objetivo de mudar o voto da população até 1 salário mínimo, que em peso permanece com Lula.
Por enquanto, as pesquisas não têm mostrado muito resultado na estratégia do governo e, como já dizemos, eles parecem governar neste momento como se não estivessem com mandato ano que vem, dado o grau de piora econômica contratada com as medidas que estão sendo feitas.
Mas até outubro deverão vir uma quantidade importante de boas notícias para o governo, com queda adicional da taxa de desemprego, chegando abaixo de 9%. O PIB do segundo trimestre deve crescer quase 3% na comparação com o ano passado e deve jogar o
resultado do ano para mais perto de 2%.
A inflação, que estava em 12% há alguns meses, deve chegar a 7,1% até o final do ano, com ajuda importante não apenas do corte de impostos, mas da queda do preço do petróleo que tem ajudado em quedas adicionais dos preços dos combustíveis.
A questão é se essas notícias serão suficientes para mudar o quadro eleitoral. Até agora, não mudou, e há certa consolidação de quem vota em Lula e Bolsonaro que dificulta trocas entre os dois. É mais difícil ver alguém trocando de candidato entre Lula e Bolsonaro do que entre os outros e um desses dois.
Nesse caso, parece haver uma tendência de tanto Simone Tebet, mas especialmente Ciro Gomes, perderem voto nas próximas pesquisas, numa tentativa da população de voto útil já no primeiro turno. Isso, em tese, poderia até trazer a possibilidade novamente de fechar a eleição do primeiro turno.
De qualquer maneira, será uma eleição disputada, pois não dá para imaginar que o incumbente, Bolsonaro, não consiga tirar alguns pontos de diferença com os resultados econômicos que virão pela frente. É provável que não seja suficiente para mudar o resultado das pesquisas de hoje, mas colocará pressão caso Lula vença por pouco.
De qualquer maneira, se Lula vencer por pouco pode ser um sinal importante de que precisará ir para o centro. Não teria a “licença para gastar” caso fosse eleito com ampla margem de diferença de Bolsonaro. Não querendo dizer com isso que Bolsonaro seria fiscalmente responsável, o que ele não tem sido, mas uma vitória larga de Lula poderia dar a percepção ao mercado de preocupação com o fiscal. Os riscos seguem imensos: vitória larga de Lula traz risco fiscal, mas vitória apertada de Lula traz riscos de não aceitação por parte de Bolsonaro.
Os bons ventos da economia neste momento, no final, tendem a não evitar as turbulências de final de ano e, pelo contrário, acentuá-las.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.