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    Eleições 2022

    Sergio Vale: Bolsonaro e Ciro têm propostas infactíveis para o país

    Os dois candidatos foram entrevistados no Jornal Nacional, mas, do ponto de vista econômico, a população continua sem saber exatamente o que se passaria nos dois governos

    Os candidatos Jair Bolsonaro e Ciro Gomes participam de entrevista no Jornal Nacional, da TV Globo
    Os candidatos Jair Bolsonaro e Ciro Gomes participam de entrevista no Jornal Nacional, da TV Globo Reprodução/JN

    Sergio Valeda CNN

    Como tem sido tradição nas últimas eleições, o Jornal Nacional iniciou a série de entrevistas com os candidatos à Presidência. Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT) foram entrevistados na segunda e na terça-feira, respectivamente, e, do ponto de vista econômico, a população continua sem saber exatamente o que se passaria nos dois governos.

    De um lado, Bolsonaro teve que se defender. Por conta de um governo que mais divergiu do que convergiu, era inevitável que fosse confrontado quando encarasse um jornalismo fora da sua bolha. Não conseguiu mostrar o que fez, que foi pouco de qualquer maneira, e mostrou pelas inúmeras fake news que aparentemente ele acredita que, caso ganhe, seguiremos sendo governados por outro grupo, seja os ministros seja o Congresso.

    No caso, o novo governo Bolsonaro, que já nasce enfraquecido como é natural em segundos mandatos, traria a marca crescente da força do Centrão e do Congresso na agenda de política econômica. Um Guedes cada vez mais enfraquecido sinaliza que, caso se mantenha na Presidência, Artur Lira que dará as cartas na política econômica.

    Inevitável pensar que o Supremo possa de alguma forma contestar esse jogo ao colocar em pauta a discussão do orçamento secreto.

    Mas a cooptação do Congresso vai muito além disso. Cada vez mais fica claro que a agenda de reformas, quaisquer que sejam, terão o crivo não do Ministério da Economia, mas do presidente da Câmara. Já tem sido assim e esse processo vai avançar.

    Uma vitória de Bolsonaro é o enfraquecimento continuado do Executivo e um presidencialismo de coalização em que o chefe de governo vai ser parecer cada vez mais com o presidente da Câmara e não do Executivo. Além de ferir o equilíbrio dos três Poderes, coloca um certo ar paroquial nas decisões como se viu ao longo deste ano em que cortes de impostos foram feitos à despeito dos riscos fiscais à frente. Em um governo em que o Ministério da Economia fosse mais forte não teríamos visto isso.

    Assim, um eventual governo Bolsonaro será de enfraquecimento contínuo da agenda econômica e um presidente que continuará a demonstrar querer permanecer no poder de qualquer maneira. Hoje joga dúvida sobre as urnas. Amanhã o que será?

    Já um governo Ciro Gomes quer ir para o contrário disso. Se hoje o Congresso tem força absoluta, Ciro quer tirar toda a força dele. Ao reconhecer a preponderância do Centrão, diz optar por uma agenda transformadora que seria tão avassaladora e impossível de o Congresso não aceitar porque ele assume que não se candidatará novamente e que usara do artifício de plebiscitos. Se o Centrão atrapalha, o caminho para ele é ir direto para o povo.

    Mas plebiscitos sem aprovação do Congresso dificilmente acontecerão, e o canto da sereia de não se candidatar não funciona, já que acabamos de ver o presidente Bolsonaro furar sua promessa feita em 2018. Politicamente, o projeto de Ciro Gomes não tem a mínima chance de avançar, e ele vai ter que negociar com o Centrão caso queira ver alguma reforma avançar.

    A solução aqui não é suplantar a política, mas reformar a mesma. O melhor que Ciro poderia fazer é assumir uma reforma política radical no primeiro semestre, junto com uma tributária na economia, valendo a política para o próximo mandato, por exemplo. Trazer o voto distrital misto ajudaria a população a seguir melhor os deputados federais em quem vai votar. Mas soluções que tentam sobrepassar a política estão fadadas ao fracasso. O negócio é reformá-la.

    No mais, caso aprove uma boa reforma tributária, mais em bens e serviços do que em renda, já seria um enorme ganho. Mas focar em imposto sobre patrimônio não agrega em termos de arrecadação e pode fazer acontecer o que acontecer com a Argentina, e a riqueza começar a ir para outros países.

    Há muito o que fazer sem precisar mexer nesse tipo de discussão. Trazer mais progressividade e simplificar os impostos de bens e serviços já seria uma revolução, mas os candidatos insistem no inviável, Ciro com o imposto sobre patrimônio, e Guedes com a volta da CPMF. Temos conhecimento e bons projetos já existentes. Ajudaria muito não reinventarem a roda. Mas no turbilhão da polarização seria pedir demais.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.