Revisão da minuta do golpe e reuniões sigilosas: as evidências contra Bolsonaro até agora
Defesa do ex-presidente ainda não respondeu se ele recebeu e pediu alteração na minuta do golpe
Participação em reuniões suspeitas e o pedido de revisão da chamada minuta do golpe são até agora os principais pontos que a Polícia Federal dispõe que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fazia parte de uma trama para um golpe de Estado.
As informações foram colhidas pela CNN com investigadores e também estão disponíveis na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que autorizou a operação da PF de hoje.
Na decisão, obtida pela reportagem, Moraes afirma que as investigações revelaram que “Bolsonaro recebeu uma minuta de decreto apresentada por Felipe Martins e Amauri Feres Saad para executar um golpe de Estado, detalhando supostas interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e ao final decreta a prisão de diversas autoridades, entre as quais os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e, por fim, determinava a realização de novas eleições”.
O documento afirma ainda que, “posteriormente, foram realizadas alterações a pedido do então presidente permanecendo a determinação de prisão do ministro Alexandre de Moraes e a realização de novas eleições”.
Na visão dos investigadores, fica claro que, ao pedir mudanças, Bolsonaro efetivamente participou e não apenas ouviu.
Uma vez realizadas as mudanças na minuta de decreto, Bolsonaro teria convocado os comandantes das forças militares para pressioná-los a aderir ao golpe.
Ainda não é possível saber como a PF apurou essas informações — se apenas através da delação de Mauro Cid ou se há outros elementos de confirmação.
Registros de acesso do Palácio do Alvorada mostram que Filipe Martins, o auxiliar encarregado das mudanças na minuta, esteve no Planalto no dia 17 de dezembro, entre o primeiro e o segundo turno das eleições, quando Bolsonaro teria se reunido com os comandantes do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e o ministro da Defesa.
Procurada, a defesa de Bolsonaro ainda não respondeu se ele recebeu e pediu alteração na minuta do golpe.
As reuniões supostamente golpistas também fazem parte, na visão da PF, do arcabouço de evidências contra Bolsonaro. Dentro da linha do tempo feita pelos investigadores são elencadas pelo menos duas reuniões.
A primeira ainda é uma transmissão ao vivo feita pelo presidente ainda em meados de 2021 em que ele demonstra indícios de ocorrência de fraudes e manipulações de votos em eleições brasileiras, decorrentes de supostas vulnerabilidades do sistema eleitora.
A segunda é uma reunião de cúpula do governo federal ocorrida em julho de 2022, comandada por Bolsonaro na qual são apresentadas a integrantes de alto escalão do governo alegações inverídicas de fraude e manipulação, proferidos ataques contra o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, os ministros do Supremo Luiz Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes.
Bolsonaro teria dado a orientação para que as informações inverídicas fosse replicadas.