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    Eleições 2022

    Reunião do Ministério da Justiça antes do 2º turno usou mapa de eleitores de Lula; veja imagens

    Segundo a Polícia Federal, a investigação sobre possível interferência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições começou após a denúncia de um funcionário do Ministério da Justiça

    Fernanda Pinottida CNN

    São Paulo

    A investigação da Polícia Federal (PF) apontou que um mapa dos municípios com maior número de eleitores do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria sido utilizado durante uma reunião do Ministério da Justiça e Segurança Pública, na época sob gestão de Anderson Torres, pouco antes do segundo turno das eleições de 2022.

    As investigações da PF sobre a possível interferência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições do ano passado levaram à prisão do ex-diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, na manhã desta quarta-feira (9), em Florianópolis.

    Denúncia levou à prisão

    Segundo o ofício da Polícia Federal, essas investigações tiveram início após uma denúncia de Clebson Vieira, então analista de inteligência do Ministério da Justiça e da Segurança Pública.

    Clebson disse que, após o primeiro turno das eleições em 2022, a diretora de inteligência do Ministério na época, Marília Alencar, solicitou a ele que fizesse várias análises estatísticas, dentre elas um levantamento dos municípios nos quais houvesse votação superior a 75% em um dos candidatos à Presidência – Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

    Ele disse ter considerado a demanda estranha, por fugir da lógica de análise que estava sendo seguida em outros projetos, e por isso procurou a PF.

    Segundo ele, em dado momento, sua superior, Marília Alencar, pediu que ele imprimisse a planilha referente aos municípios que votaram no Lula, e que ele observou que a maior parte dessas cidades se localizava no Nordeste.

    Ação com base em dados

    No dia 30 de outubro de 2022, o analista falou ter percebido que a PRF parecia estar agindo com base nos dados de seu levantamento, com blitze “em municípios ou próximas a municípios nos quais o então candidato Lula tivesse votação acima de 75%”.

    Em depoimento à PF, Marília Alencar confirmou o pedido, mas alegou que os dados seriam confrontados com os partidos políticos dos respectivos prefeitos dos municípios, para procurar indicativos de compra de votos.

    Mapas em celular

    Alencar ainda afirmou que apresentou a planilha ao então ministro da Justiça, Anderson Torres, durante uma reunião antes do segundo turno, no dia 17 de outubro, na qual também estavam presentes outros servidores da Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do ministério.

    Em fotos armazenadas no celular da ex-diretora, é possível ver o mapa com dados de eleitores de Lula impresso em uma folha de papel. A imagem foi tirada pelo aparelho no mesmo dia que Alencar e Torres se reuniram.

    Imagem armazenada no celular de Marília Alencar, com o resultado do levantamento de municípios com mais de 75% dos votos para Lula (PT) no primeiro turno das eleições de 2022. / Reprodução

    Na imagem, uma folha de papel mostra a impressão de uma “tela” em que aparece um painel com o título “CONCENTRAÇÃO MAIOR OU IGUAL A 75% – LULA”.

    Abaixo do título, há um mapa do Brasil e uma lista de municípios, trazendo uma tabela com cidades ordenadas, aparentemente, por ordem de concentração de votos no candidato “LULA”.

    São listadas as seguintes cidades:

    • Crato (CE),
    • Paulo Afonso (BA),
    • Iguatu (CE),
    • Parintins (AM),
    • Candeias (BA),
    • Serra Talhada (PE),
    • Quixeramobim (CE),
    • Canindé (CE),
    • Casa Nova (BA),
    • Araripina (PE),
    • Santo Amaro (BA),
    • Pesqueira (PE),
    • Ouricuri (PE),
    • Barreirinhas (MA),
    • Icó (CE),
    • Cajazeiras (PB)
    • e Euclides da Cunha (BA).

    O ex-ministro Anderson Torres também depôs à PF e afirmou que não levou a planilha em questão ao conhecimento da PRF, e que acredita que não houve difusão do material sequer pelos canais de inteligência.

    Torres disse que o planejamento operacional da PRF foi apresentado ao Ministério da Justiça pela Seopi, que a PRF tinha autonomia operacional e que ele, enquanto ministro, não tinha atribuição para vetar o planejamento da instituição.

    Segundo Torres, Silvinei Vasquez teria lhe dito que “a ação foi praticamente a mesma do primeiro turno, não tendo havido qualquer direcionamento”.

    Planilha

    Além do mapa de municípios que mais votaram em Lula, o aparelho celular de Marília Alencar também continha uma planilha Excel na área de documentos, criada no dia seguinte à reunião com Torres, 18 de outubro.

    A planilha, com o nome “BA_ELEICOES_.xlsx”, apresentava as colunas “QTD EQUIPES”, “BASE”, “TOTAL DE ELEITORES” e “ALCANCE NO ESTADO”, indicando o possível alcance de eleitores pelas equipes da PRF, abrangidos pelas suas bases/pontos fixos, sendo que a outra aba do arquivo, nomeada “DETALHAMENTO”, especificava os municípios atendidos por cada base.

    Planilha de Excel encontrada no telefone celular de Marília Alencar. / Reprodução

    No dia 18 de outubro, uma conversa de Alencar com seu marido indica que ela estava em uma reunião no gabinete do ministro Anderson Torres para tratar de uma planilha Excel.

    Troca de mensagens entre Marília Alencar e seu marido, no dia 18 de outubro de 2022. / Reprodução

    Com base nesses relatórios, a PF investiga se foram direcionadas blitze no Nordeste para impedir a votação de eleitores nos locais onde Lula teria vantagem.

    Durante a realização do segundo turno das eleições, em 30 de outubro, a PRF realizou mais de 500 operações no transporte de eleitores em diversas estradas do país. As ações foram suspensas após pedido da Justiça Eleitoral.

    No mesmo dia, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, disse que as operações não impediram eleitores de chegarem aos seus locais de votação. Apesar disso, pessoas relataram dificuldade em chegar aos locais de votação.

    Segundo a PF, o objetivo da operação desta quarta-feira, que prendeu Vasques, é esclarecer o suposto uso da máquina pública para interferir no processo eleitoral.

    Depoente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro no último dia 20 de junho, Silvinei se defendeu das acusações de interferência na disputa presidencial e negou qualquer irregularidade nas blitze realizadas pela PRF. Ele ainda admitiu ser alvo de processo por improbidade administrativa no Rio de Janeiro.

    A CNN tenta contato com as defesas dos citados neste texto.

    Suposta interferência no dia das eleições