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    Resistência a Doria no PSDB não paulista dá força a governador gaúcho

    Leite é o mais jovem governador do país e, assim como Doria, é publicamente contrário a reeleição

    Iuri Pittada CNN



     

    O governador João Doria tem oferecido jantares para avaliar o cenário político e tentar agregar aliados, como o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), para uma futura candidatura presidencial em 2022, mas acabou provando o amargo gosto das resistências internas a suas pretensões dentro do próprio PSDB, partido pelo qual disputou e venceu as eleições para prefeito e governador de São Paulo.

    Essa tensão entre o titular do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, e alas de sua própria sigla ajuda de forma indireta a outro chefe de Executivo estadual tucano: o gaúcho Eduardo Leite.
    Leite é o mais jovem governador do país e, assim como Doria, é publicamente contrário à reeleição – portanto, descarta uma nova candidatura ao Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul.

    Está na agenda do governador gaúcho receber uma comitiva de deputados do PSDB, oriundos de diversos estados, para mostrar as realizações de sua gestão à frente da quarta maior economia do país.
    Embora não tenha um trunfo semelhante ao de Doria, responsável pela disponibilidade da Coronavac no Brasil, Leite é considerado um político jovem e habilidoso em agregar adesão dentro e fora do partido.

    doria eduardo
    Foto: Estadão Conteúdo

    Entusiastas de seu nome no PSDB querem fazer da reunião com o gaúcho um lançamento informal de seu nome como pré-candidato ao Palácio do Planalto, mas o governador descarta tratar a reunião como um ato dessa natureza. Mas Leite sabe que eventuais erros de Doria, como o jantar realizado na segunda-feira, fazem com que naturalmente seu nome ganhe aderência dentro do partido. 

    Jantar mal digerido

    Na noite de segunda-feira (8), Doria recebeu no Palácio dos Bandeirantes lideranças tucanas como os deputados federais Rodrigo de Castro (MG), líder da bancada na Câmara, e Samuel Moreira, ex-chefe da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin; os ex-ministros Antonio Imbassahy, titular do escritório do governo paulista em Brasília, e Aloysio Nunes Ferreira; o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, além de aliados paulistas, como o secretário Marco Vinholi e o presidente da Assembleia Legislativa, Cauê Macris.

    Convidados, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José Serra, ambos na faixa etária mais vulnerável ao coronavírus, não compareceram.

    Doria promoveu o jantar após fazer um convite a Maia para se filiar ao PSDB, buscando consolidar uma posição do partido em relação ao governo Jair Bolsonaro. No encontro, o governador e seus aliados defenderam uma atuação mais incisiva das bancadas na Câmara e no Senado em oposição ao presidente, principalmente no enfrentamento ao coronavírus e no que chamam de “negacionismo” em relação à pandemia.

    O encontro se estendeu até a madrugada desta terça-feira (9) e foi permeado de momentos de tensão. A começar pela ideia colocada em discussão de Doria suceder a Bruno Araújo no comando nacional do PSDB a partir de maio – há um acordo partidário para o atual presidente seguir no cargo por mais um ano. A ideia é que esse movimento funcionaria como um passo a mais na pré-campanha do tucano ao Palácio do Planalto.

    À exceção dos aliados mais próximos de Doria, a possibilidade foi definida como uma péssima ideia por mais de um dos comensais. Fora de São Paulo, o governador é considerado “excessivamente paulista” e, a despeito dos trunfos obtidos no enfrentamento ao presidente Jair Bolsonaro, principalmente em relação à corrida pela vacina contra a Covid-19, as ações de marketing nem sempre recebem aval dos demais tucanos e muitos não o consideram um “político de partido”. Por sua vez, Doria e sua equipe se queixam de liturgias da política que consideram anacronismo, além da postura dúbia do PSDB de não assumir na prática o afastamento e a oposição ao governo federal.

    A gota d’água relacionada a essa queixa foi vista na disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados. Doria acusou o deputado e ex-presidente do PSDB Aécio Neves (MG) de ter atuado em favor da candidatura de Arthur Lira (PP-AL), embora o partido fizesse parte do bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP), aliado de Rodrigo Maia.

    Em agenda pública na manhã desta terça-feira, Doria cobrou do PSDB e de seus integrantes discurso e atuação de oposição ao governo federal, em recado indireto a deputados que tenham apoiado a eleição de Lira.

    “Entendo que o PSDB não deve abrir espaço para ações desse tipo. O PSDB é um partido com direcionamento e com uma posição, embora possa ter discussões, debates — isso faz parte do processo de qualquer partido. Mas você não pode ter dissidências”, disse o paulista, ao confirmar que pediu o afastamento de Aécio do PSDB.

    Tiroteio de notas

    Na tarde desta terça-feira, Aécio divulgou uma nota dura, na qual diz que “política não se faz com arrouos pela imprensa e nem se resume a ações sucessivas de marketing” e que a trajetória do PSDB “não será sufocada por arroubos autoritários de quem quer que seja”.

    “O destempero do Governador se deve, na verdade, à sua fracassada tentativa  de se apropriar do partido, como ficou explicitado no jantar  promovido por ele ontem, que tinha como objetivo afastar o atual presidente Bruno Araújo, para que ele próprio assumisse a presidência do PSDB”, afirmou o deputado mineiro.

    Duas horas depois, Doria rebateu o texto de Aécio, afirmando que “o novo PSDB não pode se subordinar a projetos pessoais, que se perderam pela conduta inapropriada em relação à ética pública”. “E tampouco pode ser vilipendiado por benesses públicas que subjuguem um projeto maior para o Brasil”, completou o governador.

    Para Doria, “a pandemia e a persistente crise econômica exigem do PSDB um posicionamento contrário ao negacionismo e ao desgoverno do presidente Jair Bolsonaro”. “O PSDB tem o dever partidário, patriótico, moral e histórico de propor um projeto para o Brasil do século 21. E de fazer oposição ao desastre que é o governo de Jair Bolsonaro.”

    Nota de Aécio Neves 

    É lamentável que o governador de São Paulo demonstre tamanho desconhecimento em relação à realidade do seu próprio partido.

    O PSDB tem uma longa tradição democrática, construída muito antes de sua chegada ao partido, e que não será sufocada por arroubos autoritários de quem quer que seja.

    O destempero do Governador se deve, na verdade, à sua fracassada tentativa  de se apropriar do partido, como ficou explicitado no jantar  promovido por ele ontem, que tinha como objetivo afastar o atual presidente Bruno Araújo, para que ele próprio assumisse a presidência do PSDB.

    O desrespeito à democracia interna é tamanha que hoje mesmo o governador chegou ao extremo de se autoproclamar  “presidente nacional do PSDB”, cargo para o qual nunca foi escolhido por seus pares.

    Quanto à coragem por ele referida, lembro que muitos de nós a temos de sobra, o que foi demonstrado ao longo de décadas no enfrentamento dos nossos reais adversários.  Assim como também temos a responsabilidade, não só de permanecermos no partido que ajudamos a construir, mas de lutarmos para evitar posturas que inibam o debate democrático que nos acompanha por toda nossa  existência.

    Política não se faz  com arroubos pela imprensa e nem se resume a ações sucessivas de marketing.
    Se o Sr João Dória, por estratégia eleitoral, quer vestir um novo figurino oposicionista para tentar apagar a lembrança de que se apropriou do nome de Bolsonaro para vencer as eleições em São Paulo, através do inesquecível Bolsodoria, que o faça, sem utilizar indevidamente e de forma oportunista outros membros do partido.

    Criar um conflito artificial dentro do PSDB para alimentar na imprensa projetos pessoais cada vez menos críveis, é desrespeitar a história  de uma legenda construída há décadas por muitos brasileiros e que, mesmo nos momentos dos mais duros embates, jamais  viu desaparecer a boa educação e, principalmente, o respeito entre seus membros.

    Lamento profundamente que esteja faltando ao governador de SP a temperança e a humildade para compreender aquilo que sabemos desde a fundação do partido: que o PSDB não tem dono e que a vontade de um jamais se sobreporá à vontade da maioria.

    Aos inúmeros companheiros de bancada e de partido que se sentiram atingidos pelas declarações do governador, reafirmo mais uma vez minha total solidariedade.

    Deputado Federal Aécio Neves
    Ex-presidente nacional do PSDB

    Nota de João Doria

    O deputado Aécio Neves precisa entender que o novo PSDB não pode se subordinar a projetos pessoais, que se perderam pela conduta inapropriada em relação à ética pública. E tampouco pode ser vilipendiado por benesses públicas que subjuguem um projeto maior para o Brasil.

    O compromisso inadiável do PSDB está na defesa intransigente da vida e da ética, para que o Brasil resgate a esperança e volte a ter crescimento econômico e paz social.

    A pandemia e a persistente crise econômica exigem do PSDB um posicionamento contrário ao negacionismo e ao desgoverno do presidente Jair Bolsonaro.

    O PSDB, seus parlamentares e suas propostas para o Brasil precisam estar unidos na defesa da democracia, a favor da ciência, das vacinas e da vida; contra o autoritarismo e o descaso com a saúde pública, pela retomada econômica, pela geração de emprego e renda, pela proteção ao meio-ambiente e pela reconstrução do auxílio emergencial com respeito ao teto de gastos.

    O PSDB tem o dever partidário, patriótico, moral e histórico de propor um projeto para o Brasil do século 21. E de fazer oposição ao desastre que é o governo de Jair Bolsonaro. 

    A história recente do PSDB atesta que os eleitores aprovam e confiam no projeto que defende a vida, as vacinas, a liberdade, a democracia e a ética na política.

    João Doria
    Governador do Estado de São Paulo