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    Primeiro-cavalheiro: entenda o termo atribuído ao namorado de Eduardo Leite, eleito no RS

    Leite revelou ser homossexual em entrevista em julho de 2021; médico pediatra Thalis Bolzan tem recebido mensagens de felicitação nas redes sociais após eleições

    Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, e o médico Thalis Bolzan
    Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, e o médico Thalis Bolzan Rodrigo Ziebell/Palácio Piratini

    Lucas Rochada CNN

    em São Paulo

    Com o término do período eleitoral, governadores eleitos em todo o Brasil se preparam para assumir seus mandatos. A partir do início de 2023, dois estados serão governados por políticos abertamente LGBTQIA+: Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul, e Fátima Bezerra (PT), no Rio Grande do Norte.

    Eduardo Leite renunciou ao governo gaúcho em 31 de março, diante da possibilidade de concorrer à Presidência da República, hipótese que não se confirmou. Ele retorna ao Palácio Piratini em 2023, quebrando uma tradição e se tornando o primeiro a comandar o estado por dois mandatos seguidos.

    Com a eleição de Leite, as atenções se voltaram também ao namorado do político, o médico pediatra Thalis Bolzan, que tem recebido mensagens de felicitação nas redes sociais. Leite revelou ser homossexual em entrevista à TV Globo em julho de 2021.

    “Combater todo tipo de preconceito… são as diferenças que nos fazem únicos, especiais”, disse um dos seguidores no Instagram. “O amor é essencial e tem como ferramenta o respeito e a dignidade para vencer o preconceito a soberba humana”, disse outro.

    Em várias das mensagens, usuários se referem a Thalis como “primeiro-cavalheiro“.

    Primeiro-cavalheiro

    O substantivo primeiro-cavalheiro não consta no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), organizado pela Academia Brasileira de Letras (ABL). A consultora de língua portuguesa Thaís Nicoleti, que assina o blog que leva seu nome na Folha de S. Paulo, explica que o fato de uma palavra não constar do Volp não significa que ela seja “incorreta”. “Normalmente, a palavra entra em circulação e só depois de fixada no uso é que entra nos dicionários e também no Volp”, diz Nicoleti.

    “Em tese, a palavra pode vir a integrar o Volp futuramente, mas, antes, é preciso que o seu uso se fixe naturalmente entre os falantes, e isso depende da sua correspondência a uma realidade concreta e da sua utilidade no processo comunicativo”, completa.

    A especialista afirma que a língua é um território livre, o que dispensa decisões institucionais para criar palavras e usá-las.

    “É realmente o conjunto dos falantes que as aprova por meio do uso. A inclusão nos dicionários, em geral, está ligada ao emprego regular da palavra em documentos escritos, que podem ser jornais, obras literárias, textos jurídicos, etc. Mesmo assim, a inclusão não é automática, caso contrário palavras como ‘bolsonarista’ e ‘bolsonarismo’, largamente usadas nos últimos tempos em toda a imprensa, já teriam obtido registro, coisa que não ocorreu”, afirma.

    De acordo com Nicoleti, o registro em dicionário requer a disposição e a possibilidade de definir a palavra com o máximo de justeza – e certos termos, embora muito frequentes em um período, desaparecem ou perdem grandemente a relevância em pouco tempo.

    “Desconheço que tenha havido o uso formal do termo no Brasil. A discussão surgiu timidamente por ocasião da eleição de Dilma Rousseff para o cargo de presidente da República, mas logo desapareceu porque Dilma já era separada do marido havia muitos anos. Em países governados por mulheres, já houve o uso do equivalente a ‘primeiro-marido’ ou ‘primeiro-cavalheiro’, mas, normalmente, os maridos não reivindicam esse status, que está ligado a funções menos importantes”, pontua.

    A especialista enfatiza a importância de reflexões sobre a origem e o uso de termos como “primeira-dama” e “primeiro-cavalheiro”.

    “Toda reflexão sobre a língua é importante porque é, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre a realidade. Por exemplo, no caso de o governante ser um homossexual legalmente casado, pode ressurgir a questão com algumas nuances. Cabe perguntar se seria apropriado atribuir ao marido de um governador a alcunha de ‘primeiro-cavalheiro'”, afirma.

    “O termo original é feminino, ‘primeira-dama’, exatamente porque sua função pressupõe a posição de coadjuvante de um homem, sendo este, por suposição, sem o nome, é claro, o ‘primeiro-cavalheiro’. Para além desse pequeno problema, resta saber se o marido do governante vai realmente querer uma alcunha desse tipo, que o relega a uma função subalterna. É provável que não”, observa Nicoleti.

    Campanha

    Durante a campanha eleitoral, o candidato derrotado Onyx Lorenzoni (PL) afirmou, em sua propaganda no horário eleitoral, que o Rio Grande do Sul teria, após as eleições, “um governador e uma primeira-dama de verdade”.

    “Estou muito feliz com o resultado obtido no primeiro turno. E tenho certeza que os gaúchos e as gaúchas entenderam que vão ter, se for da vontade deles, do povo gaúcho, um governador e uma primeira-dama de verdade, que são pessoas comuns e que tem uma missão de servir e transformar a vida dos gaúchos para melhor”, disse Lorenzoni.

    Na ocasião, Leite discursou contra a homofobia em suas redes sociais em resposta ao então adversário. “Nesses tempos tão difíceis, em que tentam a todo custo nos separar uns dos outros, é motivador ver a sociedade e a opinião pública majoritariamente unidas para condenar demonstrações de homofobia. Não ao preconceito! O amor, o respeito e a tolerância falam mais alto”, escreveu.