Posição de Bolsonaro teria sido decisiva em julgamento de Pazuello
Arquivamento de processo contra general, contudo, não alterou o humor dos quartéis em relação ao ex-ministro da Saúde
A pressão deflagrada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em favor da ausência de punição ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello pode ter sido decisiva para que o Exército brasileiro entendesse que não houve transgressão disciplinar em sua participação no ato no Rio de Janeiro.
Desde a realização do ato, no dia 23 de maio, a posição do Alto Comando da força era a de punir Pazuello justamente para evitar a politização dos quartéis e deixar claro que a força é de Estado, e não de governo.
Sabendo disso, o Palácio do Planalto deu início a uma operação política para se não demover, pelo menos conseguir com que Pazuello recebesse uma punição branda.
O ministro da Defesa, Braga Netto, iniciou a operação conversando diretamente com o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, sobre o assunto e deixando clara a posição do presidente.
Depois, o próprio presidente fez o pedido diretamente ao comandante. Ele também fez a defesa pública de Pazuello em uma live, quando referendou ao vivo um dos principais argumentos de Pazuello ao Exército: o de que o ato no Rio não era um ato político, portanto, não poderia se configurar em transgressão disciplinar. Por fim, Bolsonaro ainda nomeou o ex-ministro para um cargo dentro do Palácio do Planalto.
Militares que atuaram no processo de arquivamento da representação disseram à CNN que toda essa operação foi determinante para decisão final de absolver Pazuello.
O arquivamento, contudo, não alterou o humor dos quartéis em relação a Pazuello. A expectativa é a de que o gesto do comando do Exército faça com que ele vá finalmente para a reserva, um desejo antigo dos quarteis.
Fontes militares asseguram que ele já disse que fará isso, mas não deu a data. Seus interlocutores asseguram que isso não ocorrerá antes do final dos trabalhos da CPI da Pandemia.
A CPI termina no início de agosto, mas pode ser prorrogada por mais 90 dias.
Procurado pela CNN, Pazuello não se manifestou. Também procurado, o Exército disse que já se manifestou por meio de nota.
“Em evento realizado na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 23 de maio de 2021, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que o Comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general”, disse o Exército em nota.
Também informou que “desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do General Pazuello”.
Em sua live semanal, nesta quinta (3), o presidente Bolsonaro disse que “a punição existe nas Forças Armadas, ninguém interfere”. Segundo o presidente, “a decisão é do chefe imediato dele [Pazuello], do comandante da unidade, e a disciplina só existe porque o nosso código disciplinar é bastante rígido”.