Por que homem recebeu diploma 5 décadas após ser morto na ditadura? Entenda
Documento foi entregue simbolicamente a um primo; estudante perseguido entrou para lista de desaparecidos políticos em 1973
O geólogo Honestino Guimarães, assassinado durante a ditadura militar do Brasil, recebeu o diploma de conclusão do curso de maneira póstuma mais de 50 anos após seu desaparecimento.
Foi a primeira vez que a Universidade de Brasília (UnB) realizou a concessão de um diploma post mortem – após o falecimento da pessoa em questão.
Apesar de ter sido o primeiro colocado no vestibular para geologia pela UnB, Guimarães foi expulso da universidade em 1968, antes mesmo de conseguir concluir a graduação, por conta de sua forte militância contra o regime da ditadura militar. Ele liderou diversos movimentos estudantis contra o regime.
Onde ocorreu a solenidade?
A cerimônia foi realizada na capital federal, no auditório da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), na última terça-feira (30).
Acompanharam a entrega familiares, amigos, colegas de turma de Honestino, além de alunos, professores, políticos e autoridades.
Quem recebeu o diploma?
Um primo e representante de Honestino, Sebastião Lopes Neto, foi quem recebeu o documento.
Quem entregou?
A reitora da UnB, Márcia Abrahão, entregou o diploma. Ela se desculpou com a família de Honestino, em nome da universidade.
Segundo Abrahão, a entrega “simboliza não apenas um reconhecimento acadêmico, como também o compromisso da universidade com a democracia”.
O aluno chegou a concluir o curso?
Não. Ele foi expulso da universidade antes de concluir a graduação, em 1968, ano em que foi decretado o Ato Institucional nº 5 (AI-5).
A expulsão dele foi posteriormente revogada pela instituição.
Onde o homenageado nasceu?
Honestino Guimarães nasceu em 28 de março de 1947, em Itaberaí (GO).
De origem humilde, foi o primeiro colocado no vestibular para geologia realizado na UnB em 1965.
Como foi a trajetória estudantil dele?
O aluno iniciou a militância estudantil no movimento secundarista e foi filiado à Ação Popular.
Enquanto era militante, foi perseguido e preso diversas vezes.
Foi eleito para a presidência do Diretório Acadêmico de Geologia da UnB em 1967, ano de sua primeira prisão. Enquanto estava detido, também foi escolhido para o cargo de presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília (Feub).
Em 1971, foi nomeado como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) na capital fluminense.
Ele chegou a viver na clandestinidade?
Sim. Ele viveu diversos anos escondido dos militares.
Por último, morou no Rio de Janeiro até seu desaparecimento.
Quando ele desapareceu?
Honestino foi visto pela última vez em 10 de outubro de 1973, aos 26 anos.
O desaparecimento dele foi denunciado por presos políticos de São Paulo, de acordo com documento de 1976.
O Estado reconheceu a morte dele?
Mais de vinte anos depois, em 1996, a família recebeu um atestado de óbito, emitido pelo poder judiciário do Rio de Janeiro, sem a causa da morte.
O que fez o governo federal a respeito do caso?
Em 2014, no governo de Dilma Roussef, Honestino Guimarães foi oficialmente anistiado político post mortem pelo governo federal.
Na época, o Ministério da Justiça também determinou a retificação do atestado de óbito para que constasse como causa da morte “atos de violência praticados pelo Estado”.