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    PF vai ouvir ministro Ciro Nogueira novamente em investigação sobre propina da J&F

    O inquérito foi aberto após a delação premiada de Ricardo Saud, ex-diretor da empresa

    Daniel Adjuto

    A Polícia Federal vai ouvir novamente o ministro Ciro Nogueira na investigação sobre suposto pagamento de propina pelo grupo J&F para que o Partido Progressista, presidido por Ciro, apoiasse a chapa Dilma e Temer nas eleições de 2014 e, às vésperas do impeachment, não rompesse com a petista.

    A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, atendeu ao pedido dos investigadores e prorrogou a investigação por mais 30 dias. Nesse período, também deverá ser ouvido o ex-tesoureiro do PT e atual prefeito de Araraquara-SP, Edinho Silva. A Procuradoria-Geral da República concordou com a extensão do prazo final das apurações.

    A PF quer confrontar o ministro da Casa Civil com o material apreendido na operação Compensação e com depoimentos de outros alvos. Segundo a PGR, a operação, que mirou em endereços de Ciro e Gustavo Nogueira, irmão do ministro, a PF apreendeu materiais que confirmam os fatos delatados pelos executivos da J&F e revelam a participação de duas outras pessoas: Reginaldo Mouta de Carvalho, dono do supermercado, e Gilson de Oliveira Andrade, tesoureiro do estabelecimento.

    Eles e o irmão do ministro também tiveram os sigilos telefônicos e de localização quebrados.

    O inquérito foi aberto após a delação premiada de Ricardo Saud, ex-diretor da J&F. Segundo o executivo, a pedido do ex-tesoureiro do PT, o grupo empresarial pagou R$ 42 milhões para apoio do PP, de Ciro Nogueira, à chapa. O valor inicial acertado, ainda segundo Saud, era de R$ 20 milhões, mas o valor mais que dobrou.

    O delator revelou ainda que, do valor total, R$ 2,5 milhões de reais se destinaram exclusivamente a Ciro Nogueira e foram repassados por meio do supermercado Comercial Caravalho, em Teresina-PI, ao irmão do senador, Gustavo Nogueira.

    A investigação também apura o suposto pagamento de propina para que o PP adiasse a reunião que discutiria o rompimento com a ex-presidente Dilma às vésperas do impeachment. Em delação premiada, Joesley Batista afirmou que acertou o pagamento de R$ 8 milhões com o senador Ciro Nogueira em um encontro um dia depois de o MDB anunciar a separação com o PT. Ainda segundo Joesley, Ciro Nogueira recebeu pessoalmente R$ 500 mil, em março de 2017, como parte do pagamento.

    Segundo a subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, o material apreendido confirma os fatos delatados e há evidências de que “Ciro Nogueira recebeu valores ilícitos pagos a mando de dirigentes do Grupo JBS, no decorrer do ano de 2014”.

    “É possível perceber que Gustavo Nogueira compareceu em diversas oportunidades à sede da Comercial Carvalho, ocasiões em que, segundo os depoimentos de Gilson de Oliveira e de Reginaldo Mouta, teriam sido repassados ao irmão do parlamentar investigado valores em espécie que totalizaram R$ 5 milhões”, diz a subprocuradora-geral ao defender a prorrogação da investigação.

    Em depoimento à PF, o ministro Ciro Nogueira negou as acusações e disse que, como presidente do Partido Progressista, procurou o apoio político de vários empresários para as eleições de 2014, dentre eles Ricardo Saud e Joesley Batista. Saud, segundo ele, teria pedido apoio a Aécio Neves e não a Dilma Rousseff.

    O ministro também negou que tenha havido propina para adiar discussão sobre rompimento do PP com Dilma às vésperas do impeachment da ex-presidente.

    A PGR, no entanto, afirma que, apesar da negativa do ministro, “os elementos de prova arrecadados indicam que a quantia repassada pela empresa Comercial Carvalho teria sido empregada em pagamentos realizados por familiares do senador, ou pagamentos realizados pelas empresas de Ciro Nogueira, as quais movimentaram valores expressivos sem comprovação de origem, o que constituiu, em tese, mecanismo de ocultação e dissimulação da origem e propriedade destes valores”.

    A PGR defendeu que Ciro seja ouvido novamente para que ele possa ter o direito de se defender antes da apresentação do relatório final da investigação. A PF ainda não marcou a data do novo depoimento.