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    PF deve manter indiciamento de Torres em caso que investiga bloqueio das rodovias nas eleições

    Ex-ministro afirma que delegados agiram sem sua autorização, mas depoimento de ex-diretora de inteligência indica que ordens partiram de Torres; investigações continuam

    Gabriela Pradoda CNN , Brasília

    A Polícia Federal (PF) deve manter o indiciamento de Anderson Torres, conforme apurou a CNN. O depoimento do ex-ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PL), segundo fontes ligadas à investigação, diverge das evidências obtidas até agora.

    Segundo investigadores, Torres afirmou em interrogatório realizado na última segunda-feira (14) que os delegados da PF cedidos ao Ministério da Justiça na época, Alfredo de Souza Lima Coelho Carrijo e Marília Ferreira de Alencar, agiram “por conta própria”, sem sua autorização ou conhecimento.

    Ainda no depoimento, Torres teria declarado que nunca solicitou aos delegados a elaboração de qualquer minuta com sugestões de alteração no plano de trabalho das forças policiais durante o período eleitoral.

    Para os investigadores, o depoimento do ex-ministro contradiz as declarações da ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar.

    Nesta semana, ela também prestou depoimento à PF e disse que partiu do ex-ministro Anderson Torres as ordens para orientar ações de policiais federais e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o segundo turno das eleições de 2022.

    Depoimentos apresentam contradições

    A ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, afirmou em depoimento à PF, nessa terça-feira (15), que partiu de Anderson Torres as ordens para orientar ações de policiais federais e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o 2º turno das eleições de 2022, segundo apurou a CNN.

    De acordo com as investigações, coube ao setor que ela comandava produzir um mapa com a quantidade de votos que Lula e Bolsonaro tiveram em cada cidade no primeiro turno.

    Para os investigadores, há indícios de que esse boletim de inteligência tenha sido usado para orquestrar uma megaoperação da PRF e impedir que eleitores de Lula chegassem aos locais de votação.

    A apuração da Polícia Federal começou com uma denúncia relatada por um servidor que estava lotado na Diretoria de Inteligência do Ministério da Justiça, subordinado à Marília.

    O analista de cibercrimes foi o responsável por fazer o boletim de inteligência com dados de votos do primeiro turno das eleições. Segundo ele, em depoimento à PF, o pedido para fazer o relatório partiu da chefia imediata dele, a diretora Marília Alencar, que ele “estranhou” a demanda, por isso procurou a PF.

    No celular de Marília, a PF encontrou esses mapas e pontos vermelhos no Nordeste, com cidades onde Lula teve expressiva votação no primeiro turno.

    A defesa de Marília sustentou que o mapa foi feito em apuração de possível compra de votos em cidades específicas e também tinha votação do então presidente Jair Bolsonaro (PL).

    Fontes da PF relataram à CNN que Marília foi uma das investigadas que chegou a cogitar uma colaboração premiada, mas os investigadores consideraram que não havia novos elementos para prosseguir com a delação.

    Indiciamento ocorreu em agosto

    Torres, Carrijo, Marília e outros três investigados foram indiciados em agosto pela Polícia Federal em um relatório preliminar, acusados de impedir ou restringir a movimentação de eleitores durante o segundo turno das eleições de 2022.

    A defesa de Torres informou que vai pedir a reconsideração do caso, já que o indiciamento foi feito antes da conclusão do inquérito policial.

    “Ao responder a integralidade dos questionamentos, o ex-ministro demonstrou sua disposição em auxiliar na busca da verdade dos fatos”, informou a defesa do ex-ministro por meio de nota.

    Ao indiciar os investigados, a Polícia Federal solicitou autorização para dar continuidade às investigações e realizar novas oitivas, que foram agendadas para esta semana.

    Primeiro depoimento

    Em maio do ano passado, Anderson Torres prestou o primeiro depoimento sobre o caso. A PF investiga se houve uma ação ordenada para impedir que eleitores propensos a votar no então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — que venceu Bolsonaro — chegassem aos locais de votação no Nordeste no dia da eleição do 2º turno.

    O relatório parcial entregue pela PF ao Supremo Tribunal Federal (STF) tem mais de duzentas páginas. Segundo investigadores, os elementos de prova trazem depoimentos, planilhas e mensagens trocadas em grupos de mensagem envolvendo os acusados.

    No primeiro depoimento, o ex-ministro disse ter recebido de Marília Alencar um levantamento sobre o resultado do primeiro turno das eleições.

    Torres, porém, negou que tenha compartilhado o documento com a PRF ou a PF.

    O estado da Bahia registrou vantagem de votos para Lula, na disputa contra Bolsonaro, tanto no primeiro quanto no segundo turno eleitoral.

    O ex-ministro admitiu que esteve na Bahia dias antes do segundo turno, conforme documentos revelados pela CNN em maio do ano passado.

    Segundo ele, porém, a ida foi para visitar obras da Superintendência da PF baiana. Uma foto com Torres e outros integrantes da PF com capacetes de obra, em frente ao prédio, é apontada como prova pela defesa.

    A suspeita da investigação, no entanto, é de que a viagem tenha sido utilizada para que Torres orientasse as ações que a polícia faria no dia das eleições.

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