Onda de voto útil beneficiou tanto o Bolsonaro quanto o Lula, diz especialista
Resultados do primeiro turno divergem da maior parte das pesquisas eleitorais divulgadas ao longo das últimas semanas; especialista aponta fatores que influenciaram cenário
O candidato do PT à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 48,43% dos votos válidos no domingo (2), contra 43,20% do presidente Jair Bolsonaro (PL), com 99,99% das urnas apuradas. Os resultados do primeiro turno divergem da maior parte das pesquisas eleitorais divulgadas ao longo das últimas semanas.
Em entrevista à CNN nesta segunda-feira (3), o CEO da AtlasIntel, Andrei Roman, explicou os fatores que podem ter influenciado nos resultados de domingo.
“Parece que existiu uma onda de voto útil que beneficiou tanto o Bolsonaro quanto o Lula. Os dois subiram na reta final, a gente capturou isso nos nossos dados mostramos quanto o Ciro despencou nos últimos dias da campanha para o primeiro turno. A Simone Tebet também teve uma leve queda”, afirmou.
O especialista avalia que a polarização entre os candidatos do PT e do PL pode ter influenciado os resultados do pleito.
“Na medida em que os eleitores entenderam que simplesmente ia ser essa polarização entre Lula e Bolsonaro no segundo turno, eles quiseram antecipar de alguma maneira o voto no candidato que eles rejeitam menos para evitar um ‘mal maior’. Basicamente, deram um voto de confiança para que ou o Bolsonaro ou o Lula pudesse sair mais fortalecido na margem desse primeiro turno”, diz Roman.
O CEO da AtlasIntel afirma que outros dois fatores explicam a divergência entre pesquisas e resultados.
“A PNAD Contínua indica hoje em dia em termos de perfil da população brasileira que em torno de 35% da população está dentro da faixa de renda de dois salários mínimos. Esse dado que a Atlas vem usando para calibragem amostral e esse dado que não vem sendo usado pela maioria dos institutos”, afirma. “Se você superestima a população mais pobre do Brasil em 70 pontos percentuais, de 35 para acima de 55, inevitavelmente você vai subestimar o desempenho do Bolsonaro e me parece que isso está muito bem comprovado”, explica.
Como segunda hipótese, o especialista cita o chamado “voto envergonhado“. “Quando as pessoas são abordadas por um entrevistador na rua ou mesmo por telefone, a interação humana faz com que algumas não declarem efetivamente a intenção real de voto que de fato se manifestará nas urnas. Esse tipo de viés não existe na nossa pesquisa por que a Atlas faz pesquisas com coleta via internet. Então existe uma situação de pleno conforto, de plena anonimidade para o respondente”, diz.