Obra do Rio São Francisco que Bolsonaro inaugurou é motivo de disputas políticas
Pensada há dois séculos, obra passou pelos últimos quatro presidentes
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi a Juazeiro do Norte (CE) nesta sexta-feira (26) para inaugurar a obra do Eixo Norte da transposição do Rio São Francisco — processo idealizado ainda na época do Império e cuja paternidade é disputada por diversos atores políticos.
O ato de acionamento das comportas foi agendado para as 11h, com as presenças do presidente da República e do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Segundo a analista da CNN Basília Rodrigues, governistas definem este ato como “o dia em que o governo vai levar água para o Ceará”.
Os governadores do Ceará, Camilo Santana (PT), e de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), recusaram o convite, em posição atribuída à pandemia da Covid-19.
Na agenda do presidente, o governo estima que as águas do rio cheguem ao Ceará por volta das 11h40. A informação da analista Basília Rodrigues é de que o projeto beneficiará 4 milhões de pessoas, mas que a disponibilidade de fato da água para a população está prevista apenas para agosto.
História da obra
A proposta de transposição do Rio São Francisco é um plano histórico. Segundo o Senado Federal, a primeira vez que um governo levou ao Congresso a ideia de fazer a obra foi no século XIX, quando o imperador Dom Pedro II discutiu com o Senado do Império a proposta de “encanar” o São Francisco.
Dois séculos depois, a ideia foi retomada, com a intenção de utilizar o rio para fazer chegar água a regiões secas da região Nordeste. Desde que o projeto começou a sair do papel, diversos atores políticos disputaram e ainda disputam a sua paternidade, com o presidente Jair Bolsonaro se juntando a essa galeria, que inclui até duas lideranças do mesmo governo.
A obra foi reiniciada no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas seu reinício é reivindicado politicamente também pelo então ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PDT), que listou a obra como uma de suas realizações quando foi candidato à Presidência da República pela última vez, em 2018.
Assista e leia também:
Mourão elogia sinais de moderação de Bolsonaro
Mercado, questão racial e universidades: o que pensa o novo ministro da Educação
Aliados de Bolsonaro preparam debandada de apoio a governo
A inauguração do Eixo Leste foi feita em 2017, pelo então presidente Michel Temer (MDB). Na sequência, foi “reinaugurado”, de forma simbólica, por Lula e pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em publicação nas redes sociais, o governador Camilo Santana, filiado ao partido de Lula e Dilma e afiliado político de Ciro, adotou tom conciliador.
Ele enfatizou que a obra começou com Lula e Ciro, mas “agradeceu a todos pelo desenvolvimento dessa obra histórica para o Nordeste” e colocou a sua dose de participação, afirmando que desde que assumiu o cargo passou a acompanhar mais de perto o andamento das obras e “muito lutou pela sua realização”.
A inauguração
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional, hoje Bolsonaro colocará em funcionamento o Eixo Norte da obra. As comportas que serão ativadas vão levar a água do Reservatório Milagres, em Pernambuco, para o Reservatório Jati, no Ceará. As mesmas águas ajudarão a abastecer, diz a pasta, os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
Em nota, o ministro Rogério Marinho afirmou que “além de garantir água a milhões de pessoas, o Eixo Norte impulsionará o desenvolvimento econômico na região que sempre enfrentou muita escassez hídrica. O governo do presidente Jair Bolsonaro priorizou os recursos necessários para a continuidade desta obra e, hoje, comemoramos o avanço das águas do ‘Velho Chico’ sertão afora”.
O presidente Jair Bolsonaro e o governador Camilo Santana não vão se encontrar e a ponte entre os dois coube a Marinho. Nesta quinta-feira (25), o ministro viajou antes ao Ceará e se reuniu com o governador petista em Fortaleza. Durante a reunião, Marinho elogiou Camilo e disse que o Ceará “vai saber aproveitar muito bem, até pela estrutura que já construiu” as águas que chegarão ao estado.
Na conversa, o ministro também fechou um repasse do governo federal, de R$ 54 milhões, para serem aplicadas na continuidade das obras chamadas de “Cinturão das Águas”.
“O Cinturão é uma importante obra de infraestrutura hídrica do nosso estado e vai receber as águas do Rio São Francisco, e permitir trazê-las para a região oeste do Cariri, assim como para o açude Castanhão”, disse o governador Camilo Santana.