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    Eleições 2022

    O desejo de paz que ameaça a guerra de Bolsonaro

    Enquanto Bolsonaro insiste em enfileirar inimigos, eleitores mostram que estão mais preocupados com o bolso

    Fernando Molica

    A última pesquisa Datafolha levou para o presidente Jair Bolsonaro (PL) más notícias que vão além da diferença de 21 pontos que o separa do ex-presidente Lula (PT). A combinação do placar de 48% a 27% favorável ao petista com outras respostas colhidas pelos pesquisadores indica a grande probabilidade de a maioria da população, como a Tereza Batista de Jorge Amado, estar cansada de guerra.

    Movido pela busca de batalhas, reais ou fictícias – desde seu tempo de caserna, Bolsonaro precisa do conflito para triunfar. Chegou à Presidência graças a uma combinação de fatores – Lava Jato, crise econômica, descrédito com a política – que tratou de cavar as trincheiras necessárias para levá-lo à vitória. Agora, vê-se ameaçado por uma busca de paz.

    Vejamos: entre os ouvidos pelo Datafolha, 60% concordam que os petardos de Bolsonaro dirigidos às urnas eletrônicas atrapalham as eleições; para 56%, seus ataques a ministros de tribunais superiores e ao processo eleitoral devem ser levados a sério; 55% acreditam que ele pode tentar invalidar as eleições.

    A reprovação a essas posturas fica evidente quando a pesquisa mostra que 56% nunca confiam nas declarações do presidente e que 54% não admitem votar nele.

    Enquanto Bolsonaro insiste em enfileirar inimigos – a Petrobras, o ICMS dos combustíveis – e tenta culpar o isolamento social do passado pela inflação que corrói o presente e ameaça o futuro, eleitores mostram que estão mais preocupados com o bolso do que com os ringues montados pelo presidente: 66% afirmaram que a economia do país piorou e 52% admitem que têm menos dinheiro.

    O resultado da eleição de 2018 começou a ser traçado antes mesmo do pleito que, quatro anos antes, manteria Dilma Rousseff (PT) no poder. Mais do que protestarem contra a corrupção, os milhões de manifestantes que ocuparam as ruas brasileiras gritavam contra as instituições que viabilizaram a construção de um país que, de tão torto e injusto, parecia despencar. Eles não eram apenas contra partidos, políticos, sindicatos, instituições. Eram contra.

    A campanha pelo impeachment de Dilma daria um foco aos protestos, que continuariam apontando suas armas para a destruição – no primeiro plano estavam a presidente e o petismo; mais atrás, todo o sistema político. Não havia margem para negociação nem para o revezamento entre PT e PSDB – Geraldo Alckmin e seus 4,76% de votos que o digam.

    Ferido na batalha, do alto de um blindado imaginário, munido dos mandamentos que previam a eliminação de tudo aquilo que estava ali, Bolsonaro encarnou o inverso de Luís XIV e, mesmo calado, gritou que o não Estado era ele.

    Com quase três anos e meio de mandato, Bolsonaro cumpriu sua promessa, e transformou o governo numa guerra permanente. Brigou com presidente da Câmara, ministros, governadores, prefeitos, ministros de tribunais superiores, aliados, PSL – então seu partido -, Petrobras. Deu um jeito de desafiar o novo coronavírus, trocou de mal com a vacina. Chamou para a briga até mesmo alguns militares que tanto contribuíram para sua eleição.

    A praticamente quatro meses da eleição e pressionado pela inflação, pelos preços dos combustíveis, pelos índices das pesquisas, pela evolução do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro insiste em procurar batalhas – nesta segunda, conseguiu falar em conflitos até mesmo numa entrevista coletiva montada para divulgar a ajuda federal a Pernambuco. Mostrou, mais uma vez, que não teme a luta que tanto anima seus seguidores mais radicais – sabe que a perspectiva de tranquilidade e o desejo de paz é que podem derrotá-lo.

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