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    Na campanha, Lava Jato considerou Bolsonaro de ‘mito’ a ‘retrocesso’

    Diálogos obtidos pela CNN mostram percepções de procuradores sobre o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro durante a campanha de 2018

    Caio Junqueirada CNN

    Diálogos obtidos pela CNN no grupo de Telegram “Filhos de Januário”, integrado por procuradores da Lava Jato de Curitiba, mostra as percepções deles sobre o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro durante a campanha de 2018. 

    A CNN transcreve as mensagens nesta reportagem exatamente como foram redigidas no grupo do Telegram.

    No dia da eleição, 7 de outubro, o procurador Paulo Roberto Galvão comenta às 19h06: “Acho q vai dar primeiro turno pq os estados mais populosos pro-bolsonaro estão com apuração lenta”. A procuradora Jerusa Viecili reage: “Meu Deus!”. E o procurador Diogo Castor de Mattos comenta: “Mito”. 

    O coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, então, avalia: “Se der 2º turno, pessoal da Transparência vai de Haddad, por uma série de razões”. E Jerusa fala novamente: “Vai ser tanto retrocesso que em 4 anos o PT volta para salvar a pátria”

    A análise dos diálogos mostra que ao longo da campanha havia muita dúvida sobre o que seria um governo Bolsonaro. 

    No dia 17 de agosto, por exemplo, Laura Tessler comenta uma notícia publicada no grupo sobre a possibilidade de Bolsonaro e o então candidato do PT, Fernando Haddad, irem para o segundo turno: “Show de horrores! Que fase!!!”

    No dia 6 de setembro, dia em que Bolsonaro foi esfaqueado, ocorre o seguinte diálogo:

    “Bolsonaro foi esfaqueado agora pouco. Tão sabendo?”, disse Diogo Castor Mattos. Andrey Mendonça comenta: “Parece q foi superficial…”. E Diogo volta a dizer: “suficiente pra virar um mártir”.

    No dia 18 de setembro, Paulo Roberto Galvão comenta: “Impressão minha ou tem um monte de membro do MP, que achavam absurdo falarmos mal de políticos e fazermos campanha por voto consciente contra a corrupção, agora fazendo campanha aberta sem disfarce pessoalizada contra o Bolsonaro? e nem acho errado a segunda parte…”

    Em 12 de julho, Deltan posta no grupo uma notícia sobre Bolsonaro dizendo que “homicídios merecem bala, não lei”. O coordenador da Lava Jato em Curitiba comenta: “Bolsonaro passa dos limites e o país pode acabar nas mãos dele. Não sei se devemos manter a neutralidade em relação a essas afirmações despropositadas que colocam no lixo o estado de direito”. 

    Às vésperas do segundo turno, no dia 25 de outubro, há um intenso debate sobre se a força-tarefa deveria ou não se posicionar sobre manifestações dos candidatos.

    A procuradora Jerusa levanta o debate: “Acho muito grave ficarmos em silêncio quando um dos candidatos manifesta-se contra a nomeação do PGR da lista tríplice, diante de questões ideológicas. Mais grave ainda, assistirmos passivamente, ameaças à liberdade de imprensa quando nós somos os primeiros a afirmar a importância da imprensa para o sucesso da Lava Jato. Igualmente grave, candidatos divulgarem nomes de futuros ministros que são alvos de investigações e processos por corrupção. Nossa omissão também tem peso e influência. Eu sinceramente não quero (e isso a penas a história dirá) que a Lava Jato seja vista, no futuro, como perseguição ao PT e, muito menos, como co-responsável pelos acontecimentos eleitorais de 2018.”

    Isabel Grobba reage: “Manifestações agora são coisa delicada demais, se feitas em forma de notas. Não acho prudente. Precisaríamos pensar uma outra estratégia para pontuar nossa posição.”

    O procurador Antônio Carlos Welter diz: “Essa é a visão de quem acha que nós só agimos contra o PT. Encontrei alguns amigos que me disseram o mesmo. Esse povo só vai ficar satisfeito se nos posicionarmos contra o Bonoro expressamente, o que não podemos fazer”.

    E Deltan arremata: “Qualquer coisa que fizermos será vista como apoio a um ou a outro e interferência no processo eleitoral. Ainda assim, eu achava que valia aquela cartinha de princípios naquele momento – agora, em cima das urnas, até eu acho que seria muito perigoso. Vejo duas alternativas: a) entrevistas pessoais – apoio quem quiser falar, mas tem que dizer que é opinião pessoal, embora todos vão interpretar como algo da FT; b) depois das eleições, podemos nos posicionar de modo muito forte e firme em relação a declarações a atitudes”.