Mourão defende isolamento até fim de abril e retomada só após pico de contágio
Com o posicionamento, o vice-presidente volta a destoar de manifestações recentes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a pandemia
O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) disse nesta quinta-feira (2) que o governo federal defende a manutenção da política de isolamento social pelo menos até o fim de abril, quando segundo ele deve haver o pico do contágio do novo coronavírus no Brasil. Segundo ele, só depois deste momento deverá haver um processo “lento, gradual e seguro” de retomada das atividades não essenciais.
Com o posicionamento, o vice-presidente volta a destoar de manifestações recentes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a pandemia. Depois de ensaiar uma moderação nas críticas a medidas de isolamento tomadas por governadores, Bolsonaro voltou ao tom de confronto hoje, insistindo que as restrições estão “destruindo” a economia e que o coronavírus “não é tudo isso que estão pintando”.
O número de novos casos confirmados do novo coronavírus no Brasil aumentou para 7.910, informou o Ministério da Saúde hoje. O número de mortos pela COVID-19 chegou a 299, com o maior registro de novos óbitos para um único dia — 58.
Mourão, por sua vez, afirmou que o Brasil está no “pré-pico” do contágio, e por isso o isolamento continua sendo necessário.
“A avaliação é que nós temos que continuar com essa política de isolamento, no sentido de atravessarmos esse mês de abril, onde se espera que o pico da doença comece a ocorrer a partir do dia 20, 25 de abril, procurando aquilo que vem sendo chamado de achatamento da curva, de modo que o nosso sistema de saúde e principalmente a chegada dos insumos que estão sendo comprados permita que a gente supere esse momento”, disse Mourão em transmissão ao vivo promovida pelo banco BTG Pactual.
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Vice cita Geisel
Segundo o vice-presidente, o governo faz uma “análise constante” das áreas mais afetadas pela pandemia para pouco a pouco haver uma liberação das atividades não essenciais. Mourão inclusive citou frase do ex-presidente Ernesto Geisel, um dos ditadores que o Brasil teve durante o regime militar (1964-1985), para ilustrar como deverá ser feita tal retomada.
“Vou usar uma expressão que era do tempo do presidente Geisel, quando se referia à abertura política: esse processo terá que ser lento, gradual e seguro. De modo que, pouco a pouco, as atividades vão retornando. Se estamos hoje com as atividades essenciais, num segundo momento vamos abrir bares e restaurantes, por exemplo. Mas o restaurante tem 30 mesas? Ele vai inicialmente funcionar com 10 mesas. E assim sucessivamente, até que esteja full time todo mundo operando”, explicou o vice.
Mourão ponderou que empresas que tenham capacidade de testar funcionários para a COVID-19 poderiam retomar suas atividades, mas só “a partir do momento que nós tivermos ultrapassado a curva do pico da doença.”
O vice criticou o tom adotado pela imprensa na cobertura da pandemia (“Não é um motivo de histeria total como nós estamos vendo”), mas relatou as precauções que tem tomado em casa e no trabalho. Mourão tem 66 anos.
“Eu tenho meus filhos e meus netos que vivem aqui em Brasília, então nós não estamos nos visitando, obviamente. Eles se mantêm nas residências deles. Aqui na Vice-Presidência, quando eu recebo alguém, é um número reduzido de pessoas, a gente mantém um espaçamento de 2 a 3 metros. A nossa equipe está trabalhando sistema de rodízio, de modo a evitar que haja uma sobrecarga de gente aqui dentro das instalações.”
Segundo Mourão, “o que tem que ficar claro é que nós vamos superar isso.”
“Tudo na vida passa. Serão 30 dias, 60 dias, mas logo a vida voltará ao normal”, afirmou. “Todos nós perderemos algo nessa crise, mas vamos ganhar algo muito maior, que é um sentimento de união e de capacidade do povo brasileiro de superar desafios.”