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    Moro diz repudiar áudios sexistas atribuídos ao deputado Arthur do Val; Podemos vai abrir procedimento disciplinar

    Parlamentar teria dito em mensagens que mulheres ucranianas são “fáceis porque são pobres”; Moro e Do Val integram mesmo partido

    Fábio Munhozda CNN , Em São Paulo

    O ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos) criticou nesta sexta-feira (4) os supostos áudios vazados em que o deputado estadual e pré-candidato ao governo de São Paulo Arthur do Val (também do Podemos), o Mamãe Falei, faz comentários sexistas sobre as refugiadas ucranianas.

    Nas mensagens de voz, a pessoa identificada como sendo o deputado paulista diz que as refugiadas “são fáceis porque são pobres”.

    “É inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’, em São Paulo, se você dá bom dia elas ‘iam’ cuspir na tua cara. E aqui elas são supersimpáticas, super gente boa. É inacreditável”, teria dito Do Val, que é um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre).

    Apoiado pelo MBL, Moro repudiou as supostas falas do deputado e pediu que seu partido — ao qual Do Val é filiado desde janeiro — “se manifeste brevemente diante da gravidade que a situação exige”.

    “Lamento profundamente e repudio veementemente as graves declarações do deputado Arthur do Val divulgadas pela imprensa. O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto. As declarações são incompatíveis com qualquer homem público”, disse Moro.

    “Tenho uma vida pautada pela correção e pelo respeito a todos — tanto no campo público quanto na vida privada. Portanto, jamais comungarei com visões preconceituosas, que podem inclusive ser configuradas como crime”, acrescentou o ex-juiz.

    A deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do Podemos, afirmou nesta sexta-feira (4) que seu partido irá abrir um “procedimento disciplinar interno” para apurar as supostas falas sexistas atribuídas ao deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei, que é pré-candidato ao governo de São Paulo pela legenda.

    Em nota divulgada à imprensa, a presidente do partido disse que considera as falas como “gravíssimas e inaceitáveis”. “Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra.”

    “O Podemos repudia com veemência as declarações e, com base nelas, instaura de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos. Até este momento o partido não havia conseguido contato com o deputado, que estava em voo”, acrescentou o texto divulgado pela deputada.

    Procurado pela CNN, o MBL afirmou que “não sabe a veracidade dos áudios” e que está aguardando o deputado chegar ao Brasil e restabelecer a conexão para ter a confirmação.

    A assessoria de imprensa do deputado também foi procurada e disse não ter conseguido falar com o parlamentar, que está em voo para o Brasil ao longo da noite desta sexta-feira (4), enquanto esta reportagem é concluída.

    Teor das mensagens

    Do Val foi para a Ucrânia no início da semana para, segundo ele, “ir, in loco, ver o que está acontecendo” durante a invasão do país pelas forças russas, lideradas pelo presidente Vladimir Putin.

    Ele foi acompanhado de Renan Santos, que é coordenador nacional do MBL.

    A CNN teve acesso aos áudios, que foram, inicialmente, divulgados pelo site Metrópoles.

    Em um dos áudios, ele diz que as refugiadas são “fáceis” pelo fato de serem “pobres”.

    “E detalhe: elas olham. E vou te dizer: são fáceis, porque elas são pobres. E aqui, cara, a minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Funciona demais. Depois eu conto a história. Não peguei ninguém. Mas eu ‘colei’ em duas ‘minas’, que a gente não tinha tempo, em dois grupos de ‘minas’. E, assim, é inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’ em São Paulo se você dá bom dia elas iam cuspir na tua cara. E aqui elas são supersimpáticas, super gente boa. É inacreditável.”

    Em outro trecho, o áudio trata das policiais que trabalham nas fronteiras da Ucrânia com outros países.

    “Mano, eu ‘tô’ mal. ‘Tô’ mal, ‘tô’ mal. Eu passei agora… são quatro barreiras alfandegárias. São duas casinhas em cada país. Mano, eu juro para vocês. eu contei: foram 12 policiais deusas. Deusas, mas deusas, assim, que você casa e, assim, você faz tudo o que ela quiser. Eu ‘tô’ mal, cara. Assim, eu não tenho nem palavras ‘pra’ expressar. Quatro dessas eram ‘minas’, assim, que você, tipo… mano, nem sei o que dizer. Se ela cagasse, você limpa o c* dela com a língua. Assim que essa guerra passar eu vou voltar para cá”, acrescentou.

    “Mano, só vou falar uma coisa ‘pra’ vocês: acabei de cruzar a fronteira a pé aqui da Ucrânia com a Eslováquia. Maluco, eu juro… eu, nunca, na minha vida… ó, eu tenho 35 anos. Eu nunca na minha vida, nunca, vi nada parecido assim em termos de ‘mina’ bonita. Assim, a fila das refugiadas, irmão, assim… imagina uma fila, sei lá, nem sei… to sem palavras. Uma fila de 200 metros ou mais. Só deusa, assim, só deusa. É sem noção, é inacreditável. É um bagulho assim fora de série. Se você pegar a fila da melhor balada do Brasil, a melhor, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila dos refugiados aqui. Maluco, eu ‘tô’ mal, eu ‘tô’ triste, porque é inacreditável”, diz outra mensagem.

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